23. the night we met

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Louis Tomlinson.

Um dia antes.

Dizem que coisas ruins não acontecem a pessoas boas. Não sei se tenho o direito de me achar bom, mas faço o possível para ser ㅡ mesmo quando não deveria.

Eu tentava ser bom enquanto Natan me traía pelas costas. Eu tentava ser bom enquanto assistia meu pai delirar definhando em uma cama de hospital.

Mas eu nunca fui tão bom quanto era quando estava com Harry.

Eu nunca fui tão aberto, escancarando meu coração e todas as feridas que nele havia, quando deixei transparecer até o que não precisava ser exposto, quando não me importei em ser vulnerável porque até a minha podridão parecia bonita estando com ele.

Em troca, recebi o maior baque da minha vida.
Ou melhor... os dois maiores baques da minha vida.

Eu sou um poço de emoções que me transbordam, e todas elas em potência máxima. Sinto medo, raiva, mágoa, tristeza, alegria, desgosto, e mais um punhado de coisas que ainda não sei nomear. Meu peito parece que vai explodir a qualquer momento e eu sinto meus dedos se formigando à medida que tento absorver cada uma das sensações.

Mal percebo que dou um soco em minha mesa de mogno. E mais um, e mais um, e outro...

As juntas dos meus dedos sangram, as gotículas vermelhas tão vivas pingam rápido ao chão. Penso ter quebrado um dedo, mas não sinto, porque estou dormente por fora e totalmente perdido por dentro.

Meu corpo desliza até o chão, encolho meus joelhos até o peito e os abraço. É ali que permaneço absorvendo a primeira notícia.

Eu sou pai. E talvez nunca soubesse disso.

Quando li a coluna de Harry em meados de setembro senti uma onda me acertar. Ainda tinha esperança de algum dia ter algo com ele, mas me lembro de como me senti impotente lendo as palavras. Eu achei que ele tivesse engravidado do marido, o que anulava todas as minhas chances de ficar com ele algum dia porque sabia que o casamento dele estava indo bem. Eu tinha esperança que ele se divorciasse, e muitas vezes desejei isso. Mas isso se esvaiu com a notícia da grávidez.

O vi no supermercado com o barrigão de sete meses. Ele estava mais lindo que o normal. Seu brilho era cegante. Harry reluzia. E ali, naquele momento, eu voltei a desejar o seu divórcio.

E então eu vi meu filho nascer, sem saber que ele era meu filho.

Eu disse que ele era, e Harry confirmou. Mas eu não percebi.

E quando ele falou que não estava mentindo, não era pelo divórcio, era em relação a eu ser o pai.

Os flashes vem como socos em minha cabeça, e eu me odeio por não ter notado antes.

Eu nunca havia sentido sentimentos contraditórios, mas ao segurar Kalel em meu peito eu senti amor e ódio ao mesmo tempo.

Amor por Kalel e ódio por Harry.

Mas meu ódio se tornou medo em questão de segundos. Um medo que equiparava ao medo que senti na última noite de vida do meu pai. Um medo que me atingiu direto no peito pela possibilidade do meu filho sofrer exatamente o que o meu pai sofria.

E aí veio o segundo baque.

Esse me acertou ainda mais em cheio, porque já estava me acostumando e me reerguendo do primeiro.

E meu ódio por Harry se tornou compaixão, porque eu não só entendia o medo dele, como agora também compartilhava o mesmo medo.

Harry foi cruel comigo, mas a vida estava sendo ainda mais cruel conosco.

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