ACURAR

25. part I

Surpresa!

Louis tem vindo quase todos os dias ao meu apartamento no último mês. Kalel tem interagido muito com ele e às vezes quando Louis precisa ir embora ele chora quando o pego de seu colo.

Ele chega quase todos os dias no mesmo horário, e meu coração parece que nunca vai se acostumar com a sua chegada. Sempre que ouço batidas na porta ele se acelera tanto que tenho medo de sofrer um ataque cardíaco.

Louis sempre traz presentes, como uma blusa do Superman que ele vestiu em Kalel e o levantou no ar dizendo "voa super homem", e nosso bebê gargalhou tanto com o aviãozinho que quase ficou sem ar. Não me contive em rir também. A verdade é que Louis é um paizão, e a cada dia eu me arrependo mais de não tê-lo contado antes.

Descobri também de onde veio a aversão de Kalel a abacates. Louis quase fez vômito quando amassei o abacate para tentar dar a Kalel, que diga-se de passagem também fez vômito.

Louis às vezes me conta como foi seu dia, e como andam seus pacientes. Me conta das experiências que teve em Nova Iorque, mas sempre que estamos nos aproximando muito, ele dá um passo para trás. Quando fica tarde para ele ir embora, e ele dorme aqui, ele continua dormindo na cama e eu no sofá. Eu realmente não me importo, prefiro assim do que se ele levasse nosso filho sozinho para sua casa. Não estou preparado para ficar longe dos dois. Ainda sinto um beijo em minha têmpora todas as vezes que ele vai embora.

Estamos convivendo bem, mas tenho que me segurar para não dizer que sinto a falta dele, e que queria tê-lo, ao menos uma última vez.

Eu não tenho ficado com ninguém, e nem pretendo. Louis pelo visto também não, mas não sei… talvez ele tenha casos casuais, e só o pensamento de que isso possa estar acontecendo me arrasa de todas as formas.

Ainda tenho escrito sobre ele, e sei que ele me lê, mas prefere não comentar.

Acabo de sair do banho, secando os cabelos com a toalha quando recebo uma mensagem de Louis.

Louis: tudo pronto para o almoço de hoje?

Por mais que eu tivesse toda a vontade do mundo em negar, eu devia isso a ele. Ontem, quando ele veio aqui, ele me disse que iria finalmente  contar para a mãe sobre Kalel. Quis dizer a ele que eu não era o único que escondia as coisas, já que ele levou um mês para tomar coragem...mas, preferi não cutucar a ferida.

Eu fiquei um pouco inseguro a respeito. Não queria estar presente neste momento, pois não sei como a mãe de Louis irá reagir. Mas ele me pediu que eu estivesse presente para que ela me conhecesse. Já posso apostar que a mulher irá me odiar, e pela primeira vez agradeço por não estar com Louis, e por ela não ser minha sogra.

Respondo a mensagem com um sim, e vou para a cozinha. Liam está dando banana para Kalel, cantando bananas de pijamas enquanto ele bate palminhas. Ele é realmente louco pelo dindo Li.

Aproximo e beijo a bochecha de Kalel enquanto suas mãos lambuzadas de banana vão para o meu rosto, eu não me importo nem um pouco. Seu dedinho sujo entra na minha boca com um pedacinho de banana e eu um solto barulho de "hmmmm" bem arrastado e alto para ele gargalhar.

ㅡ Vamos conhecer a outra avó dele hoje. ㅡ Digo a Liam ainda com o dedo de Kalel em minha boca.

ㅡ Sério? ㅡ Ele arregala levemente os olhos.

ㅡ Aham. Louis pediu para eu fosse. ㅡ Digo em um tom nada animador, e Liam percebe.

ㅡ A animação mandou lembranças. ㅡ Ele ri e então coloca mais um pedacinho de banana na boca de Kalel que me esquece por um instante para voltar toda a sua atenção para a colherinha.