Eu não sabia o que havia sido mais caótico no meu dia. Se a discussão eventual de café da manhã, o trânsito que eu peguei até chegar ao trabalho, ou se foi ter essa maldita entrevista para entregar em dois dias. Como se eu fosse mesmo conseguir.
— Ou você me entrega a entrevista, ou está na rua — a maquiavélica falou, antes de consertar os óculos no rosto e voltar a atenção ao computador. Fechei os olhos por um segundo e respirei fundo, nada que fosse me matar. Ela estava louca para me colocar no olho da rua, desde que o cretino de seu marido me assediou, aquele nojento. Foi tão sutil, que ela notou, eu notei e apenas fingimos que nada aconteceu. Desde então ela queria um motivo para me demitir sem que eu tivesse a coragem de expor o caso.
Saí da revista e fui para a maldita empresa, conseguir, ou pelo menos tentar, a maldita entrevista. O que eu não achava nada provável. Um tipão como esse Eduardo Toledo não fazia o perfil de quem concedia entrevista para uma revista de fofoca. Tudo bem, abordávamos outros temas e a construção civil era uma bela desculpa, mas eu sabia que queriam mesmo era esse nome e essa figura belíssima para estampar a matéria. Do contrário não haveria tantas perguntas pessoais.
Foi uma verdadeira batalha chegar ao andar dos donos do negócio e lá, havia outro, junto com a secretária baixinha que não queria me deixar nem tentar. Então apelei. Li no crachá pendurado no pescoço o nome do outro, Frederico Toledo. O sócio. Ele tinha uma prancheta nas mãos, os cabelos estavam meio desgrenhados e ele era gato. Não soava tão impetuoso quanto o outro – só havia visto por foto, então vai saber –, mas era muito, muito bonito também. Ele achou graça da minha necessidade da entrevista e disse que Edu jamais perderia o tempo dele com isso. E que estava ocupado demais resolvendo problemas realmente relevantes para me ajudar, o peguei em um péssimo dia.
— Mas eu vou perder o meu emprego se você não me ajudar! — eu falei com força, não poderia perder meu emprego. Morar sob o mesmo teto que os meus pais já era difícil para mim, agora morar sob o mesmo teto deles sem dinheiro para custear a minha parte das despesas seria completamente inviável. Na primeira briga eu estaria morando em baixo de uma ponte! Certo, estava exagerando um pouco, mas no mínimo dificultaria e muito a convivência que nunca foi fácil.
Por um momento, esse cretino egóico me deixou falando sozinha, achando que por ignorar a minha presença eu iria embora. Ele atendeu uma ligação e deu uma bela bronca em alguém, pelo que entendi, eles não poderiam atrasar essa obra e alguém cagou com tudo. Lancei um olhar de descaso quando ele me olhou com essa cara de "você ainda está aí?". Depois negou com a cabeça e saiu falando no celular, preocupado com essa merda. Mas eu também tinha os meus problemas, não iria simplesmente desistir e ser demitida. Fora isso eu trabalhava muito bem, era impecável em tudo e as minhas matérias costumavam bombar no site.
— Você ainda está aí, é? — o sócio perguntou ao voltar e eu o encarei, era tão óbvio.
— Eu preciso da merda dessa entrevista! Você está o que? Com ciuminho porque escolheram o bonitão pra eu entrevistar? Acha mesmo que eu queria estar aqui me humilhando se não fosse importante? — comecei a me alterar, já fazia quase uma hora que eu estava aqui em pé, enquanto esse idiota não queria facilitar. Notei que ele estava falando com alguém por mensagem no celular, estava muito impaciente lendo algo.
— Eu arrumo essa porcaria se você chupar meu pau — ele disparou irritado e eu grunhi de raiva, estava fazendo isso para me fazer desistir? Ou me assediar? De qualquer maneira, ele não faria nada e eu não iria ir embora e perder meu emprego só porque ele foi grosseiro.
— Eu chupo! — falei com raiva, cansada de ter que esperar a boa vontade desse homenzinho mimado. Não sabe nem resolver a merda de um problema.
Ele finalmente olhou para mim, pareceu surpreso, mas felizmente baixou a guarda. Continuei o olhando, cruzei os braços, parecendo segura do que havia dito, embora nem estivesse.
— Me desculpe — ele falou, respirando fundo. Correu uma mão pelo cabelo desgrenhado e eu notei que até poderia me atrair por ele, realmente — me desculpe, estou em um dia ruim. Eu vou falar com ele, mas não prometo nada.
— Só saio daqui com a entrevista — dei um sorriso falso e me sentei em um dos sofás na sala de espera.
[...]
Algum tempo depois, saí da sala com tudo que precisava. Eduardo Toledo contornou as perguntas sobre sua vida pessoal, disse apenas que não tinha namorada e não queria mais falar sobre isso. Mas foi bem decidido nas perguntas profissionais, ele e Fred, segundo ele, formavam a dupla perfeita e todos os seus funcionários eram tão aptos quanto os dois para executarem o que qualquer cliente desejasse. Quis dizer que não era o que parecia, quando o tal Fred estava maluco por um erro de iniciante pouco tempo atrás, mas fiquei quieta.
Quando entrei no elevador, Frederico me seguiu. O olhei, fazendo pouco caso das suas desculpas, ele foi ultrajante.
— Sério, eu to me sentindo péssimo — ele voltou a dizer, dessa vez mais calmo, e eu o olhei, era uma mentira óbvia — estava com um problema para resolver, você me deixou sufocado ali em pé, insistindo.
— Então a culpa foi minha — pontuei, o avaliando e ele negou com a cabeça rapidamente.
— A culpa foi minha. Por isso, estou me desculpando.
— Hum.
— Não vou conseguir dormir a noite, se você não disser que estou desculpado — ele falou, me fazendo querer rir, mas me contive.
— Está desculpado.
— Assim não me convenceu — ele falou, me olhando mais profundamente — diz assim: está desculpado e eu aceito sair com você hoje.
— Não houve um pedido, não tem o que aceitar — retruquei.
— Aceita sair comigo hoje?
— Hoje eu não posso. Mas eu aceito — eu falei e ele pareceu surpreso — outro dia.
[...]
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muita saudade de postar aqui em tempo real e ter o feedback de vocês!
to insegura, com medo de ninguém gostar e tudo aquilo de todo começo.
Espero muitoooo que gostem, então apareçam por aqui!