Capítulo 25
Marina Marques
Eu não avisei aos meus pais que estava saindo de casa. Na verdade, depois de fechar o contrato de um ano em um apartamento no prédio em que Jordana morava antes de ir morar com Edu, eu comecei a levar as minhas coisas aos poucos. Como se estivesse levando para a casa de Fred.
Fui com medo, medo de dar errado, de precisar sair, de me perder no caminho da independência. Mas precisava tentar. Esperava muito que com tudo isso, minha relação familiar melhorasse, mas já não poderia contar com isso como um sonho real.
Com a piora de Bruna, Fred passava mais tempo em São Paulo do que aqui, o que resultava em nós dois distantes. Tentávamos conversar o tempo todo, mas era difícil manter uma constância.
— Ela ainda está na UTI — ele falou, quando liguei para ele no fim do dia — os médicos querem mantê-la lá por mais alguns dias, pra evitar qualquer eventual infecção, sei lá — ele falou de uma maneira áspera no final.
— Você vem pro aniversário de Edu? — perguntei cautelosa e ele ficou quieto.
— Não sei... — falou um tempo depois.
— Como o Bruno está?
— Arrasado... Ele tem pegado as atividades por e-mail com os professores. Tenho tentado fazê-lo estudar, assim ele não vai repetir o ano. Mas tem sido tão... difícil.
— Eu sinto muito, meu bem — falei angustiada.
— Preferia que fosse eu — ele resmungou e nós dois ficamos quietos por um momento — assim ele não sofreria tanto.
— Fred...
— É muito mais fácil pra um filho perder o pai — ele falou amargurado, tudo em mim apertou.
— Ele não vai perder ninguém — eu falei, mas o tom de voz ficou embargado — para de falar assim.
— A mãe dela é cética, só pensa no que viu a mãe sofrer com essa doença. Agora vê a filha — ele falou indignado — é muita injustiça.
— O tratamento é demorado mesmo, você sabe disso. Mas vai ficar tudo bem. Ela está em um ótimo hospital, com um ótimo médico. Vai dar tudo certo.
— Deus de ouça, Marina — ele falou de uma maneira pesada.
— To com saudade de você — falei mais baixo.
— Por favor, Mari, vem pra cá — ele falou de uma maneira insistente e insegura e eu senti o maxilar estalar por dentro, tudo azedo e amargo — eu preciso de você — ele atenuou devagar, mas precisamente.
Eu pisquei algumas vezes, me colocando no lugar da ex dele. Ela não gostava de mim, eu não achava que seria saudável ir até lá em um momento desses. Por ele, claro, eu iria. Poderia produzir conteúdo e postar publicidades agendadas para a semana de qualquer lugar. Poderia ir hoje, voltar no dia da gravação e ir novamente no dia seguinte. Não seria um esforço, para fazer a vontade dele. Mas eu me colocava no lugar dela.
— Já entendi — ele resmungou frustrado com o meu silêncio — eu vou desligar, nos falamos depois.
— Fred — eu chamei, antes que ele desligasse — eu te amo.
Fred não ficou ligando, nem procurando conversa, chateado pela minha decisão de não ir ficar com ele. Ele não veio para o aniversário de Edu. Esse ano não haveria festa, mas iríamos jantar e depois tomar alguns drinks. Entre amigos, mesmo. Eu e Jordana já estávamos chateadas, porque como era aniversário do irmão de Chiara, já imaginávamos com quem Ravi estaria.
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Minha Louca Tentação
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