Capítulo 19

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Capítulo 19

Fred Toledo

Acordei no domingo e me sentei assustado ao ver Bruna me trazendo café na cama. Eu e Eduardo bebemos todas em um bar, na noite passada. Mas por mais louco que eu estivesse, me conhecia e sabia que não ficaria com essa doida.

— Mesmo que você venha apelar pra uma amnesia alcoólica, eu sei que não fiquei com você — falei convicto e ela começou a rir.

— Claro que não, que horror! — ela falou rapidamente, quase me atropelando — achei que o combinado era sermos apenas amigos — ela falou descontraída — pelo bem do nosso filho. Não ficamos, mesmo. E nem vamos.

— Hum — falei sem acreditar nela — e eu não selaria um acordo de amizade com você.

— Mas você selou — ela retrucou petulante — e eu acho que já passou da hora de a gente parar com essa guerra. Não somos mais um casal, mas temos um filho juntos e ele não suporta nos ver brigando. Se quer saber, você choramingou sobre Marina a noite inteirinha e eu não me incomodei.

Não falei nada, apenas a encarei analisando, não sabia em que acreditar.

— Eu vou deixar você sozinho. Se quiser desabafar, pode me ligar — ela falou e saiu, puxando a porta do quarto. Espiei o café na bandeja, mas deixei lá e fui para o banho. Tirei a roupa da noite passada e entrei no Box.

Na segunda-feira, fui procurar por Marina. A esperei no lugar que costumava esperar, para ela sair do trabalho. Mas ela fingiu não me ver e entrou em um táxi. Digo fingiu não me ver, porque nos encaramos por um mísero segundo.

Mais tarde, naquela noite, meu filho ligou, me chamando para comer pizza. Eu sabia que tinha dedo de Bruna ali, querendo nos reaproximar a todo custo, mas não consegui negar meu filho.

Cheguei lá e eu e Bruninho escolhemos os sabores da pizza e da pizza doce. Para meu desgosto, Luísa chegou ali, cheia de sorrisos falsos, lamentando cinicamente o fim do meu namoro.

As duas foram beber um vinho rosê, que eu dispensei. Preferi jogar damas com meu filho. Como Luísa postava tudo que vivia, da maneira mais entojada possível, logo Chiara encaminhou o vídeo onde eu apareci e eles reconheceram meu antigo apartamento.

"Você enlouqueceu?" — Edu enviou, junto com a tela gravada do vídeo. Nem me dei ao trabalho de responder, não existia a possibilidade de mim e Bruna termos algo de novo. Tentar uma relação mais amigável e menos turbulenta com ela seria bom, pelo menos para nosso filho. Não custava tentar. E já se sabia que pais fazem tudo pelo melhor de seus filhos.

Os dias passaram nebulosos, completamente o oposto do que eu gostava. Sentia falta de Marina, se ficar sem ela foi difícil em um momento em que eu estava furioso com ela, agora, quando ela decidiu terminar por motivos que eu não concordava, eu estava noventa por cento pior.

Sentir falta de alguém era tortuoso, ainda mais alguém que eu planejava passar o resto dos meus dias junto.

Marina estava sendo comentada, pelo menos na mídia mais jovem dessa cidade. O seu desempenho apresentando agora o podcast no canal do Youtube estava impecável, eu adorava assisti-la e matar pelo menos um pouco da saudade. Se eu tentei procurá-la? Obviamente, sim. Mas ela não queria mais conversar. Disse que não tinha nem tempo, mesmo que quisesse.

Minha vontade era sair e encher a cara, empurrar a mágoa para longe, fazer uma merda atrás da outra pra me ocupar com o remorso e esquecer minha saudade. Mas isso não combinava comigo.

Meu filho comentou por alto que se sentia aliviado por eu e a mãe dele não estarmos mais em guerra, porque sentia que a culpa dos nossos desentendimentos era ele. Hoje, por exemplo, conseguíamos nos ver, ele ia para meu apartamento quando queria, ela não ficava implicando e proibindo visitas. Eu sabia que muito disso tinha a ver com não estar namorando Marina, mas não alimentar qualquer picuinha já ajudava muito.

Minha Louca TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora