De cara com o perigo.
Cheguei lá correndo e foi muito fácil achar ele. Era a única parte do centro de treinamento que estava fazendo um barulho estridente de tiro.
Quando cheguei em sua cabine e parei do seu lado. No mesmo minuto senti seu olhar de canto de olho. Mitch tranquilamente carregou a arma e continuou atirando no alvo que estava a metros de distância, seu rosto estava com uma afeição fechada e os óculos de proteção davam um certo tom de seriedade em conjunto com os fones enormes que estavam em seus ouvidos.
O encarei por alguns segundos até perceber que ele não me escutaria a não ser que eu entrasse em sua frente.
Peguei um fone na mesa ao seu lado e parei na mira do alvo e olhei no fundo dos seus olhos. Ele balbuciou um "sai da frente" mexendo a cabeça. O ignorei.
Ele balançou a cabeça em reprovação novamente e ergueu a mão com a arma. Depois de bufar abaixou a arma e tirou um lado do fone irritado.
-Pela última vez sai da minha frente.- Ele falou sério e tirou um lado do meu fone.
-Precisamos conversar.
-Não temos nada para conversar.- Ele respondeu olhando a sua volta.
-Então vai em frente, não vou alugar algum.- Coloquei o fone de volta.
Ele levantou a arma mirou e deu o primeiro tiro que passou pelo lado direito da minha cabeça. Ele me encarou esperando que eu saísse.
Mantive a postura ereta torcendo para ele acertar o maldito alvo lá trás. Logo em seguida vieram os próximos tiros. segundo, terceiro, quarto e quinto tiro. Engoli seco e segui sem me mexer, a mira dele era perfeita. Depois de descarregar o tambor ele encarou a mesa atrás de si.
Por fim tirou o fone e foi na minha direção, pegou no meu braço e começou a me puxar para fora da tenda. Seguimos para a sua cabana.
Ao chegar lá ele colocou a arma na mesa perto da entrada e tirou o meu fone o jogando no sofá.
-Você é louca?- Ele me perguntou em um tom de acusação com os braços cruzados.
-Só estou assumindo o papel que me colocarão e pregaram para você.- Respondi. Mesmo que ele tivesse me trazido para cá sem apertar meu braço em nenhum momento me guiando, me senti pressionada naquele lugar sozinha com ele.
-Papel?- Ele disse me encarando.-Eles não falaram nada demais sobre você.- Finalmente respondeu.
-Falaram sobre o que?
-A missão.-Ele falou enquanto caminhava de um lado para o outro e foi assim que a minha ficha caiu.
-Você sabia.- Encarei ele.
-Sabia o que Livie?- Ele me encarou.
-Que eu fui uma isca. Só para confirmarem que aquele lugar realmente dopavam e sequestravam mulheres.- Ele escutou toda a minha acusação e ficou quieto. O silêncio me quebrou de tantas formas.
-Eles me contaram. Quando você foi para o bar, eu estava saindo do banho quando me ligaram para avisar. Eu não podia fazer nada, fazia parte da missão e você já havia saído. Eu só podia me preparar para o pior Livie.-Ele falou mais calmo tentando me acalmar também. Ele se aproximou e encostou suas mãos em mim.- Tenta entender o meu lado. Acho que foi fácil ficar naquele quarto sem saber o que podia acontecer com você e não poder fazer nada?.- Ele se abaixou um pouco para conseguir olhar nos meus olhos, eu estava com os braços cruzados e a cabeça abaixada.
Pisquei devagar, assimilando as informações.
-Não passou pela sua cabeça que eles poderiam me levar do bar?- Falei segurando toda raiva e arrependimento que tomou o lugar da compreensão e parceria, empurrei suas mãos dos meus braços.
-Sim.- Ele coçou o queixo e virou de costas.- Uma ordem, eu não tinha permissão de ir atrás de você. Eles me explicaram que havia uma possibilidade da droga ser forte o suficiente para te derrubar na hora, mais não era o padrão de ação dele. Chamaria muita atenção.-Ele tentou se explicar já sem esperança no seu tom de voz.
-E você compactuou com isso. Por uma possibilidade, uma maldita possibilidade.- Engoli seco.
-Somos agentes, cumprimos ordens.-Ele falou quase suplicando.
-Você já quebrou tantas ordens que chega a ser irônico você falar desse jeito.-Respondi com um sentimento horrível de ressentimento.
-Eu tentei fazer o certo, ignorar eles custa vidas.-Ele falou se virando para mim e se aproximando.
-Eu esperaria esse discurso de qualquer um. Até mesmo do Stan que apontou uma arma para mim hoje, não de você.- O peso dessas palavras o acertou de uma forma que fez com que seu rosto que se contorcesse.
-Não pode esperar nada de mim. Somos agentes.-Ele falou contragosto.
-Tudo pelo sucesso da missão. Não é mesmo?- Engoli o nó que se formou na minha garganta.
-Sim.- Ele respondeu me encarando.
Passei por ele e caminhei em direção a porta, virei par atrás e encontrei seus olhos vermelho e arrependidos.
-Se foi tudo pela missão, eles também mandaram você me vigiar a noite inteira?-Perguntei e esperei sua resposta.
-Eu achei que você entenderia.- Ele jogou o braços para baixo, rendido e irritado.- Não cumpri a ordem. O que eles falaram a risca. Mais isso é só uma missão para você. É tudo sobre você, isso sim é egoísta.-Ele apontou me acusando.
-Está me chamando de egoísta? Quando foi você que deixou que me drogassem e não fez nada, sem ao menos se importar com o que eu queria.
-Sabe com o que eu me importo? Terminar essa missão logo.
-Então faz o seguinte, já que você quer tanto terminar essa missão. Não precisa se direcionar a mim fora dela-Pedi com a voz baixa, eu me virei para a porta ainda com a mão encostada nela.-Tratamos só de assuntos profissionais. E quanto ao pessoal pode voltar a me ignorar, ter deixado que me drogassem não foi uma forma de demonstrar "importância."- Engoli tudo que um dia senti por ele.
-Como quiser agente Livie.-Sua voz falhou, o escutei engolindo seco. Foi claro que ele não concordava com a minha decisão -Sendo essa a sua decisão. A respeito, se puder sair e me deixar sozinho.- Ele pediu.
-Claro.- Sai da cabana com um peso enorme sobre as costas, maior do que de quando entrei mais cedo.
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Zona de Guerra
ActionApós uma missão mal executada, problemas surgem na vida de Livie como uma cascata, forçando-a a enfrentar decisões cruciais. Ela se vê diante de um dilema: retornar à sua paixão de sempre, sem carregar as mágoas do passado, ou mergulhar de cabeça na...