29.

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Quanto a isso.

Respirei fundo.

O barulho da chuva aumentou invadindo o quarto repentinamente.

Seus olhos encontraram os meus. Abaixei a cabeça e a mexi negativamente espantando todo medo que me consumia. Eu sentia uma vontade avassaladora de dizer tudo que passou na minha cabeça nos últimos meses. As missões, voltar para o centro tarde da noite enquanto ele dormia no banco do passageiro, o apoio que ele me dava nas hipóteses malucas que criávamos para entender as missões...

É assustador sentir tudo de novo de uma vez só.

-Livie?- Ele perguntou preocupado. Levantei a cabeça

-A missão está me incomodando. Falar do que aconteceu e do jeito como aconteceu. Ter me falado que agi como se eu fosse uma adolescente piorou a situação.- Engoli seco, sua expressão preocupada deu lugar para a culpa.

-Não foi fácil ver você com uma arma na apontada para a sua cabeça, ainda mais vendo alguém que confiamos atrás dela com o dedo no gatilho.- Ele respondeu.

-Não foi só ele.- Tentei olhar em seus olhos por um segundo.

-Como assim? Quem mais fez isso com você?- Sua voz tomou um tom de raiva.

-Stan, para proteger o Evandro.- Falei com nojo deles.

-Canalha.- Sua respiração transbordava ódio.

Sequei o canto do meu olho que havia enchido de água e puxei ar mais forte já que meu nariz estava querendo ficar entupido por culpa da vontade de chorar.

- Está tudo bem...- Forcei um sorriso.

-Não está não. Duas pessoas que você confiava te traíram, não se aponta a arma para a cabeça de ninguém que já confiou em você.- Ele se acalmou um pouco ao ver minha reação.

-Eu não posso confiar em mais ninguém... Sei que sempre vai ter uma arma na minha cabeça de alguma forma, se não for exterior vai ser interior.-Respondi engolindo seco.

-Livie...- Ele disse calmo e compreensivo.

-Hoje só por um minuto eu desejei que o gatilho fosse apertado sabe... Só para acabar de uma vez, mais como você disse.. Não vale a bala.

-Vem aqui.-Ele disse abrindo os braços.-Não pensa nisso agora, okay?.-ele disse quando me aproximei e sentei no canto da cama.

-Eu só queria um pouquinho de uma vida normal, problemas normais.- Me apoiei em seu peito, ele me puxou para perto e me abraçou ainda na cama do hospital.

-A morte não traz a paz. Sabemos melhor que muitos...-Ele falou com a cabeça apoiada na minha.

Fiquei em silêncio pensando sobre isso.

-Você não precisa ser uma muralha sempre.- Ele falou, respirei fundo e tentei controlar as lágrimas que aos poucos cessaram.

Passamos poucos minutos daquele jeito.

-Não vou ficar te perturbando e molhando sua belíssima roupa com as minhas lágrimas.- Falei secando meu rosto.

-Não se preocupa com isso. Só fica quieta.-ele falou com a voz meio rouca.

-Engraçado que você está todo quebrado e eu sou a que está sendo salva.- Comentei olhando em seus olhos.

-Irônico na realidade.- Ele me encarou tranquilo.

Não faço ideia do que sentir, pensar ou como agir.

Eu quero ficar aqui. É minha única certeza.

Zona de GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora