Jogos mortais.
Acelerei o carro máximo que pude para chegar rápido e sair mais ainda de lá. Cheguei no acampamento e parei o carro o mais próximo do celeiro possível, sai do carro e corri em sua direção.
Não precisava de muito, só fazer as escolhas certas.
Ao entrar de volta no carro escutei um barulho familiar bem baixinho, o telefone do carro estava tocando. Eu subestimei a noção e percepção que tinha sobre a minha presença naquele lugar, óbvio que se eu sumisse eles perceberiam em minutos.
Encarei o porta luvas por alguns segundos tentada a não atender e só desconectar os cabos como já havia feito uma vez, vencida pela curiosidade eu abri ele e peguei o celular antes que a ligação caísse. Possivelmente meu maior erro dessa noite será esse.
Atendi a ligação.
-Onde é que você tá?- Stan me questionou um pouco irritado.
-Você tem um minuto antes que eu desligue.- Respondi entrando no celeiro, eu precisava do mapa e pelo menos duas armas. Uma corpo a corpo e outra de média distância.
-UM? -Seu tom de voz entregou o nervosismo. Eu corria dentro do celeiro buscando o mapa.
-58 segundos e contando.- Falei um pouco sem ar depois de fazer a maior bagunça para achar o mapa, comemorei em silêncio.
-...Não faz isso.
-...56.- Guardei o mapa e fui atrás das armas que eu já sabia melhor onde poderiam estar.
-Se você for não vou ter outra opção a não ser te declarar inimiga do estado e permitir a sua...-Ele engoliu seco.- Execução.- Parei por um instante, havia algo estranho em seu tom de voz. Ele não estava fazendo isso por vontade própria essa história está muito mal contada. Talvez o arrependimento possa ter batido.
-Te vejo no meu funeral. Foi um prazer conhece-lo Stan.- Desliguei a ligação e terminei de guardar a glock que havia treinado durante alguns meses, guardei um pouco de munição e sai do celeiro correndo até o carro.
Eu sabia que depois de um minuto de ligação eles me rastreariam até o inferno se fosse preciso, então que assim seja. Entrei no carro e dei a partida. Acabei de assinar meu próprio atestado de óbito, que alivio mórbido isso me trouxe.
Joguei o celular pela janela assim que cruzei o portão principal e segui em direção ao grande hotel.
Parei o carro quilômetros antes, troquei de roupa rapidamente e continuei meu caminho. Apesar da distância mal senti o cansaço quando parei na rua ao lado do hotel vinte minutos depois de abandonar o carro.
-Sempre muito bem preparada. A única coisa que eu faria diferente seria ter deixado o carro mais longe, pelo menos no raio de um 1km- Escutei uma voz conhecida vinda da minha esquerda.
-Fugiu para isso?- Encarei Tomas.- 1km, 2 ou 20 não vão fazer diferença agora. Eles vão me caçar até mo inferno se for preciso. Eles não sabem o quanto isso é importante pra mim.
-Eu não fugi mais olha só quem está fugindo, eu só fiz um desvio de caminho.- Ele respondeu sorrindo de lado. -Nunca deixe seus interesses pessoais interferir nas missões, essa foi a frase mais hipócrita que você já me falou.
-Enfim... se veio me matar, parabéns foi o primeiro a chegar.- Encarei o prédio debaixo a cima.
-Longe de mim julgar suas ações e te declarar inimiga do estado. Creio que eles tem mais com o que se preocupar.
-Tipo?- O interrompi. Ele abriu os braços com as mãos para os lados se vangloriando.
-Ou melhor.- Ele passou o dedo pelas próprias veias.
-Como consegue? Saber de tudo e ainda ficar ai.
-Eu cresci longe disso tudo. E quando descobri tentei sair de perto, convenci meu pai de que ele precisava de alguém de confiança infiltrado dentro das investigações contra ele. Como não tem registro de filhos com ele ou de laços sanguíneos, eu fui a cobaia perfeita.
-E no final você se voltou para o lado dele...
-Eu juro que você vai entender no final.
Neguei com a cabeça e olhei para cima.
-Eu nunca te mataria. De verdade.- Ele repetiu com melancolia na voz.
-Não veio me matar e nem me ajudar só pode estar aqui para me impedir.- Olhei nos seus olhos pela primeira vez.
-É suicídio.- Ele disse ríspido.
Ri baixo de sua acusação.
-Sabe que até o final da noite eu vou estar morta de qualquer jeito, então que seja pelas minhas próprias mãos do que pela dos outros.- Dei um passo a frente.
-Não faz isso.- Ele pediu.
-Sabe Tomas, eu não acreditei nem por um segundo que você me mataria naquele dia.
-Nem eu.
-Foi bom.. trabalhar com você.- Me despedi.
-Ele não vai deixar você fazer isso.- Respirei fundo e olhei em seus olhos.
-Não tem nada haver com ele.- Entrei no prédio o deixando para trás.
-Boa noite! A senhorita tem reserva?.- O recepcionista disse sorridente.
-Tenho sim. Suíte 563.- Sorri simpática.
- Claro, senhorita O'Brien. Tenha uma ótima estadia.- Ele me entregou a chave do quarto, olhei para câmera sabendo que Isaac a essa altura já havia invadido o sistema de segurança do prédio.
Entrei no elevador. Um andar anterior ao meu três homens de terno entraram no elevador, me cumprimentaram com a cabeça e ficaram em silêncio posicionados um de cada lado e um na frente o cerco estava fechado. "Não deixem ela passar" escutei bem baixinho no ponto do cara a minha direita.
-Boa noite rapazes.- Falei quando o sinal apitou avisando que eu estava no meu andar.
O cara que estava na minha frente virou de frente pra mim.
-É, vai ser do jeito difícil. Eu te odeio Tomas.- Falei baixinho.
Um deles apertou o botão de emergência.
-Facilita, não tenta lutar.- O da direita disse.
-Me dá um motivo para acreditar em você.- Respondi.
-Não iremos fazer nada, você só não pode sair.- Ele disse.
-Não acredito em você, e com todo respeito seu chefe é um babaca que já tentou me matar e para a ideia dele mudar e mandar vocês acabarem comigo e me desovar e um lugar qualquer é um, dois. Não gosto de abusar da sorte duas vezes com o mesmo assassino.- Respondi, quase pude escutar Tomas se sentindo ofendido.
-Sim senhor.- Ele disse segurando o ponto. Um deles passou o braço pelo meu pescoço e senti um pano na minha boca e nariz vindo do outro lado.
Deu certo eu estava dentro.
Eu tinha em mente tentar lutar, me debater, quem sabe quebrar um nariz. Mais sinceramente, cansei de lutar, me entregar era o jeito mais fácil e menos dolorido de chegar ao chefe e com brecha que eu tive de proteção do Tomas resolvi contar com minha inimiga. A sorte.
Que os jogos mortais comecem, ou eu acordo em alguns minutos ou horas com alguém gritando me xingando pela audácia ou eu nunca mais acordo.
Façam suas apostas.

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Zona de Guerra
ActionApós uma missão mal executada, problemas surgem na vida de Livie como uma cascata, forçando-a a enfrentar decisões cruciais. Ela se vê diante de um dilema: retornar à sua paixão de sempre, sem carregar as mágoas do passado, ou mergulhar de cabeça na...