Central de Comandos.
-Eu não sou seu guarda costas.-Mitch disse sério.
-O que falaram de importante na reunião privada?-Cortei o assunto com uma pergunta antes que isso virasse uma discussão.
-O próximo passo. O Local, a equipe e as armas. Nada demais-Ele respondeu encarando a cabana que estava na nossa frente. Ele empurrou o que seria a entrada e esperou que eu passasse na sua frente.
-Então não vou ter direito aos detalhes.- Olhei para o seu rosto, ele só fez um breve sinal de negativo com a cabeça.
-Ok, vou lembrar disso na próxima vez que tivermos uma missão em dupla.-Respondi passando a sua frente sem olhar em seu rosto. Antes que ele falasse alguma coisa uma mulher vestida de enfermeira se aproximou.
-Que corte feio. Senta-se ali por favor.- Ela pediu educadamente, Mitch jogou a jaqueta dele atrás da cadeira em que eu me sentei, isso significava que ele pretendia ficar. -Vou buscar algumas coisas e já volto.-A enfermeira saiu da sala a caminho do corredor.
-Não funciona assim.-Mitch retrucou quando ela saiu da sala. - E não vai ter próxima vez. É perigoso demais estarmos em uma missão em dupla.- Ele declarou sem pensar duas vezes.
-Mais é claro que não. Quem te falou isso, Evandro?-Encarei ele.- Óbvio que foi. Como você ser tão falso Rapp.- Ele não esperava que minha reação fosse tão abrupta. - Quer saber. Não é problema meu.
-Ele vai falar com você depois, não se preocupa com isso agora.-Ele se aproximou da maca que eu estava sentada, sua reação foi totalmente fria e apática.
Olhei para seus olhos. Com certeza haviam falado alguma coisa muito pior que fez com que ele mudasse a postura quase por completo na minha presença. Era difícil dizer quão ruim isso poderia ficar.
-Só falaram sobre o próximo passo ou tem alguma outra coisa que te falaram?.- Reparei que ele engoliu seco.-Sobre eu.
-Só me interessa o que falaram sobre a missão.- Ele encarou o chão.
-Eu sabia.-Minha cara de nojo misturada com raiva foi instantânea. Ele não sabia mentir- E agora você acredita neles. - Falei ríspida.
-Não tem nada disso Livie. Você já me mostrou que eles não te conhecem tão bem assim.-Ele voltou seus olhos para ver a minha afeição. - O mundo não gira em torno dos problemas que você já causou.- Ele conseguiu piorar a situação. Engoli seco.
-Nem em torno dos seus. Essa deve ser a única coisa que temos em comum mesmo.- Falei sem pensar na reação dele. Ele fechou o rosto.
-Esse é o nosso problema. Não é mesmo, nos fazemos de vitima para coisas que criamos na nossa cabeça.- Ele rebateu se aproximando de mim.
-Somos ótimos em fazer isso.- Ele se aproximou ainda mais. Estávamos a milímetros um do outro, havia sangue em seus olhos. A tensão só aumentava, não sabia reconhecer o que estávamos sentindo.
-Parece que a pessoa que precisou de mim enquanto estava dopada ontem não precisa mais tanto assim.-Ele olhou no fundo dos meus olhos.
-E como. Ela foi embora no segundo em que você agiu como um babaca e começou a agir pelas minhas costas com eles.- Respondi ríspida. Ele engoliu seco e se afastou bruscamente de mim.
-Não.- Ele ia falar mais mudou de ideia, o seu rosto demonstrava arrependimento e raiva, muita raiva. Ele ficou do outro lado da sala em um completo silêncio.
Fechei os olhos, inclinei o rosto enquanto passava as mãos até a nuca. Essa briga já foi o suficiente.
-Pode ir embora.-Falei olhando para a porta enquanto segurava minha cabeça nas mãos.
-Como quiser.- Ele pegou a jaqueta que na parte de trás da maca onde eu estava e foi em direção a porta completamente fora de si de tão irritado. A enfermeira abriu a porta e ele saiu bufando como um touro.
-Tudo bem?- Ela perguntou vendo meu rosto fechado e o estado do Mitch ao sair da tenda.
-Tudo.-Amenizei a afeição e sorri fracamente.
Respirei fundo.
-Bom, vou fazer uma sutura e uma medicação. Depois disso está livre.- Ela se aproximou com uma bandeja nas mãos, puxou uma cadeira e um carrinho onde apoiou a bandeja. -Vai doer um pouco a anestesia, mas depois disso não vai sentir mais nada.- Ela comentou amistosamente.
-Sem problemas. - Engoli seco e tentei tirar da minha cabeça o discurso que eles poderiam ter usado com Mitch para alerta-lo da minha natureza "instável e descontrolada".
Passei cerca de dez minutos em silêncio e imóvel, minha mente era minha tormenta imaginando tudo que poderiam ter falado e tudo que ainda iriam falar sobre mim.
-Terminei.- Ela comunicou sorrindo, colocou as coisas no carrinho e o empurrou para a lateral direita da sala.
-Obrigada.-Falei olhando para um espelho que havia sido colocado do lado esquerdo da tenda que dividia os locais em salas.
-Imagina.- Ela disse surpresa.-E a primeira vez no dia que alguém me agradece por alguma coisa. Mais eu entendo, não sei o que aconteceu nessa missão, só lembro de arrumar um nariz quebrado e fazer ataduras na mão de uma mocinha.- Ela disse pegando alguma coisa dentro de uma jarra.
-Conheço os dois, e ele mereceu. É um babaca a maior parte do tempo.- Ela virou de frente para mim e me entregou um pirulito de morango. Olhei para ela tentando não rir da situação.
-Não creio que as pessoas mereçam levar socos no nariz...- Ela apontou o pirulito para mim.-Não se faz de durona, pega logo. Todo mundo precisa adoçar a vida de vez em quando.- Ela continuou com a mão estendida.
-Okay.- Respondi sorrindo.-Fazem anos que não ganho um desse.- Ela sentou na cadeira que girava.
-Você foi corajosa, merece um desses.
-Muito obrigada.-Fui em direção da porta. -Tchau.
-Volta mais vezes, sem estar machucada de preferência.- Ela pediu.
-Não prometo nada.-Quando fechei a porta tive um flash de quem ela era. Ela foi a enfermeira que ficava comigo enquanto meus pais trabalhavam, na época ela era só uma cuidadora de crianças. Fico feliz que ela esteja trabalhando com o que gosta, cuidar das pessoas.
Caminhei para a tenda central. Ela era realmente enorme, muito semelhante a um circo tirando o fato de ser branca o que não falta é palhaço lá dentro. Entrei nela e vi a central de comandos a todo vapor, a nossa missão era a peça central de um grande quebra cabeças. Avistei Clara e me aproximei dela.
-Está tudo bem? Fiquei preocupada, o Mitch passou aqui cuspindo fogo pegou duas armas e foi para a tenda de treinamento ou para a floresta não prestei muita atenção. Era capaz dele atirar em quem estivesse na reta dele.-Clara passou a mão nos meus braços esperando que eu reclamasse de algum possível hematoma.
-Nos desentendemos na enfermaria. Foi só isso.
-Não parece ter sido só isso. Recomendo que se entenda com ele antes da próxima missão.-Clara disse olhando para o enorme mapa projetado no teto da tenda.
-Quantas horas?-Perguntei encarando o teto assim como ela.
-Duas no máximo. No canto direito mostra as horas, no meio a equipe que está em missão agora a partir do pontos coloridos, e no canto superior esquerda mostra o foco da missão.-Era mais simples do que aparentava, parece um vídeo game.
-Não vou falar com ele, o ódio pode ser útil no próximo passo.-Falei olhando para ela.
-Você já sabe qual é o próximo passo???-Ela juntou as sobrancelhas em sinal de dúvida.
-Não, mais vou descobrir. E outra o ódio sempre ajuda em qualquer missão.-Fui andando em direção a saída.
-Okay... se descobrir me conta.-Ela gritou.
Fiz um sinal de positivo e sai da tenda.
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Zona de Guerra
AcciónApós uma missão mal executada, problemas surgem na vida de Livie como uma cascata, forçando-a a enfrentar decisões cruciais. Ela se vê diante de um dilema: retornar à sua paixão de sempre, sem carregar as mágoas do passado, ou mergulhar de cabeça na...