País das Maravilhas.
Finalmente aquele furacão se acalmou e pude pensar com clareza. Não era para ele, mais por ele. A missão, o risco que corremos, o treinamento, a dedicação exagerada. Olhei para ele e o analisei, a afeição tranquila enquanto cochilava e seu peito subia e descia vagarosamente. Me afastei devagar e me levantei a tempo da enfermeira chegar.
-Ah.. Olá.- Ela disse simpática trazendo uma bandeja com alguns equipamentos e curativos.
-Olá.- Falei calma olhando para o pé da cama.
-Vai ficar? Preciso trocar o curativo e conferir algumas coisas que a médica pediu.- Ela disse pegando uma seringa.
-Vou sim, ele acabou de dormir.- Complementei quando ela se aproximou de seu braço.
-Tudo bem. Senhor Rapp, preciso trocar o curativo.-Ela disse se aproximando. Micth não respondeu só virou de lado e se alongou. Fiquei parada ao lado da enfermeira, havia um curativo abaixo de sua costela direita.
-Você tomou um tiro? E foi treinar?-falei baixo o suficiente para que eles escutassem, não queria parecer exaltada embora minha vontade fosse de voar em seu pescoço por tamanha irresponsabilidade.
-Não percebi, quando vi estava caído no centro de treinamento.- Ele respondeu, quando ela tirou o curativo vi seu rosto de dor.-Meu corpo já estava todo dolorido.
-Quando você acha que levou esse tiro?- Fingi não perceber que obviamente tinha sido quando ele foi até o prédio enquanto eu estava sob ameaça.
-Pode ter sido quando invadiram o prédio em que eu e Clara estávamos, ou quando fui para o prédio em que você estava.- Tentei não me abalar.
-Um tiro...
-Não precisa se sentir culpada, pode ou não ter sido por você.- Ele disse despojado.
A enfermeira aplicou a anestesia local e esperou alguns segundos.
-Está sentindo alguma coisa?- Ela disse colocando o dedo na ferida.
-Não.- Ele disse firme.
-Okay. Vou fazer a limpeza e trocar o curativo, ainda assim você vai precisar tomar cuidado com essa ferida.- Ela chamou a sua atenção.
-Claro, compreendido.- Ele respondeu.
Voltei a olhar para o ferimento, não era profundo mais devia estar bem dolorido. Apesar de estar fechado era necessário muito cuidado para não infeccionar.
-Suponho que você fará isso para ele.- Ela disse olhando para mim.
-Ele não deixa eu chegar mais do que três centímetros dele.- Ouvi ele dar uma risada abafada e sarcástica. - Talvez eu ajude se ele deixar.-Completei.
-Não está tão ruim, poderia ser pior. Já peguei cada ferimento aqui... Você não tem noção.- Ela fez uma cara de nojo.
-Entendo, eu normalmente vejo as feridas abertas em campo e quase sempre sou eu causo elas.-Respondi, seu sorriso murchou um pouco e ela ficou sem graça.
-Nossa.- Ela disse focando no que estava fazendo.
Enquanto ela terminava de passar um spray reparei no rosto de Mitch. Com dor, cansado e decepcionado. Mesmo que ele não deixe transparecer acabava sendo visível que a traição de Tomas o afetava tanto quanto a mim.
-Pronto.-Ela disse pegando a bandeja.-Você ainda vai se sentir meio sonolento pelas próximas horas mais amanhã estará muito melhor.- Ela me encarou.
-Ok, obrigada.- Ele disse. Ela deu as costas e saiu do quarto.
-Não vou ouvir nenhum sermão agora.- Ele disse ainda virado.
-De mim não mesmo.-me aproximei a porta abriu bruscamente.
-Mais de mim vai. COMO VOCÊ PODE SER TÃO IRRESPONSÁVEL!!.-Rafael rosnou para Mitch e Clara apareceu logo atrás.
-Estou meio dopado ainda, vai dar sermão para o vento.-Mitch respondeu.
-Descobriu o que aconteceu?.-Clara se aproximou de mim e a partir desse momento ignorei o surto do Rafael.
-Um tiro mais como ele não "sentiu" assim que chegou foi auxiliar com o Tomas e depois até o centro.-Respondi cruzando os braços.
-Deve ter sido quando ele desceu para afastar a equipe.-ela disse meio nervosa.-A culpa foi minha, eu deveria ter ido junto.-ela disse.
-Clara.-Mitch falou.-Não foi naquele momento e você precisava de um lugar com boa visibilidade e segurança.
-Ele tem razão, ele foi o irresponsável.-Rafael completou.
-E você precisa do irresponsável porque me tirou da missão. Não é mesmo, sargento Rafael.-encarei ele que ficou sério.
-Como assim?.-Clara falou e Mitch sentou na cama.
-Fala. O seu discurso amigável não foi por mim, foi pela missão. Era só uma brecha para você me tirar dela.-Clara estava séria e Mitch encarava Rafael esperando sua reação.
-Não é exatamente assim.-ele falou mais controlado e seu ar de autoridade surgiu.
-Explica.-Mitch ordenou.
-Anda Rafael!!.-Clara rosnou.
-Eu precisava ter certeza de que a equipe estaria apta para a última parte da missão.-ele disse.
-E claramente eu não estou.- Encarei ele que abaixou a cabeça.
-Como você descobriu isso? Ele não jogou isso na sua cara jogou?.-Clara se aproximou dele a gesticulou.
-Ele não se importa com ninguém além de si mesmo. Quando veio perguntar sobre a missão, sobre o Tomas. Ficou nítido assim que sai da psiquiatra e ele estava por perto.-Completei.
-Ela vai para essa missão, você não pode fazer isso.-Mitch falou sério.
-Ele não só pode... Como já fez. Você não foi atrás da Clara saber o que aconteceu e sim atrás do Stan.-Afirmei e Clara sai da sala batendo a porta.
-Então você conseguiu o que queria. Liderar.-Mitch falou.
-Meus parabéns pelas honrarias. -Encarei ele.
Rafael endureceu sua afeição e voltou a posição de sentido.
-Te encontro amanhã no portão.-Rafael falou para Mitch e saiu da sala cabisbaixo.
-Você não descobriu isso agora.-Mitch disse.
-Não, eu só larguei tudo quando vi você passando em uma maca.-Respondi me aproximando.
-Ele não vai manter isso.-ele disse se encostando na cama de novo.
-Espero que sim, ele não sabe de metade do que está por trás.-sentei no sofá e tentei me acalmar.

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Zona de Guerra
AcciónApós uma missão mal executada, problemas surgem na vida de Livie como uma cascata, forçando-a a enfrentar decisões cruciais. Ela se vê diante de um dilema: retornar à sua paixão de sempre, sem carregar as mágoas do passado, ou mergulhar de cabeça na...