22.

267 40 43
                                    

Próximo passo.

Durante os primeiros minutos me senti sem chão. Apesar de no fundo me sentir feliz por ter outro motivo para me sentir mal, parecia que nada mudava o ciclo sempre se repetia. Por algum motivo eu sempre deixava alguma coisa me levar para baixo. 

Quando voltei ao mundo real, longe da minha cabeça percebi que estava de volta a tenda de treinando. Nada podia ser feito agora, dei meia volta e andei até a cabana da Clara. Bati na porta.

-Clara?- Coloquei o ouvido encostado na porta, não tinha nenhum barulho.-Clara...-Sussurei.

Bati o punho fechado de lado na porta, eu não podia agir assim. Não aqui, muito menos agora. Girei a maçaneta e para minha surpresa e decepção estava destrancado. Abri a porta e entrei na sala, fechei a porta atrás de mim. Me aproximei da mesa que ficava por padrão perto da porta e vi um bilhete escrito a mão.

"Livie,

Fui convocada por alguma razão para ir até o centro de treinamento e depois para a sala de reuniões. A chave e o número da sua cabana estão no bancada da cozinha. Volto logo. Se precisar de mim e só ir a um desses lugares, aqui é menor do que parece.

Xoxo Clara."

Um sorriso de lado surgiu no meu rosto junto de uma lágrima. Sequei a lágrima com as costas do meu punho e dobrei o bilhete, eu poderia ficar aqui e deixar que ela vê-se o meu estado mais não quero falar sobre o assunto. Caminhei até a bancada e peguei a chave que tinha um post-it rosa com um sorri escrito "Para Livie" coloquei a chave no bolso e voltei meu corpo em direção a porta. 

Faltando dois passos para sair da cabana a porta abriu. Olhei para frente e o Mitch estava parado me encarando, meus olhos vermelhos prenderam sua atenção.

-Achei que a Clara estivesse aqui.- Teoricamente, era um assunto profissional. Eu era obrigada a responder ele.

-Eu também, ela saiu e deixou um bilhete. Centro de treinamento e reunião.- Falei prestando atenção na sensação de segurar a chave no meu bolso. Sem olhar no seu rosto para não piorar a situação.

-Livie...- Olhei para ele. -Ok, obrigada.- Ele não teve coragem, abriu passagem para mim. Passei por ele e não olhei para trás.

Minha cabana ficava duas para frente da cabana da Clara. Quando entrei vi uma cesta no sofá, nela haviam itens básicos de higiene e algumas mudas de roupas simples. A toalha estava em cima da cama.

Tranquei a porta coloquei a chave na mesa e me sentei no sofá. 

Eu finalmente me permiti sentir o peso de tudo que havia acontecido hoje me causou. 

Minhas costas doíam, meus ombros se tornaram chumbo. Minhas mãos estavam gélidas e pálidas. Coloquei minhas pernas próximas ao meu peito e as apertei, senti que se eu soltasse desmoronaria. Por um segundo deixei o peso me dominar, não por completo, só o suficiente para que eu aprendesse com a dor. E a cicatriz viesse como um aprendizado.  

A crise chegou derrubando tudo, chorei. Chorei como se não houvesse amanhã. Como se eu estivesse sozinha e desamparada. Solucei. 

Até que o desespero deu lugar a compreensão. O medo ao conforto. A raiva a indiferença. 

Levantei cambaleando, juntar a ressaca com o choro não foi um combo inteligente de dor de cabeça. Peguei o necessário e fui para o chuveiro. Deixei tudo ir por água abaixo. Sai do chuveiro  leve e cansada, coloquei uma roupa leve e me deitei na cama. O choro veio como um murmúrio de desentendimento. Adormeci.

Zona de GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora