26.

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Conversa.

Dentro da Van Clara ia se sentar ao meu lado quando Isac a puxou com o intuito de mostrar alguma coisa no notebook. Ele reconhecia quando eu precisava ficar sozinha.

Sentei perto da janela e estiquei as pernas nos bancos ao lado. Por diversas vezes durante o percurso senti os olhares em mim, alguns preocupados outros receosos.

Quando paramos desci por último. Fui até Stan.

-Vou para casa. Manda para o meu celular o horário da consulta com o psiquiatra.- Falei evitando de olhar nos olhos dele. O procedimento padrão depois de uma missão declarada traumática, ouvi ele declarando isso durante uma ligação enquanto voltávamos para o centro de comandos.

-Você precisa ficar, a primeira consulta vai ser agora. Missão traumática.-Stan respondeu.

Respirei fundo, passei a língua na parte inferior da minha boca e voltei a olhar para frente.

-Essa vai ser a última vez.-Um dos agentes passou entregando os itens pessoais que levam em caso de necessidade.- Qual  é o meu horário?.- Peguei a minha bolsa abri ela e coloquei meus óculos escuros.

-A primeira.-Ele me entregou um papel. Peguei o papel e fui para a beira do lago.

Caminhei pela beirada do lado até chegar do outro lado, eu podia ver todo complexo que estava montado. Ainda de pé apoiei minha cabeça em uma árvore próxima. Se tornou fácil pensar no quão substituível eu seria se Tomas tivesse decidido atirar, em uma semana poucos se lembrariam de mim, em um mês Stan tomaria coragem de mexer nas minhas coisas depois de alguém insistir muito e talvez Clara ajudasse ele tentando o convencer que a culpa não era dele, enquanto o momento em que ele apontou ma arma para mim voltaria na cabeça dele com muita força. Os outros me veriam como uma baixa de uma missão e uma pilha de papeladas deixadas no fundo da gaveta em um ano.

-Se quer ficar sozinha sugiro que entre no lago e se esconda no fundo.- Alguém disse, virei a cabeça para o lado esquerdo e vi Rafael.

-Obrigada pela dica, estava pensando em me jogar dessa árvore com sorte eu acertava uma pedra.- Falei encarando o topo dela.

-Ou a beirada o que lhe traria uma morte feia, eu não te salvei para ver isso.-ele resmungou parando do meu lado olhando para o mesmo lugar que eu.- Piadas suicidas te deixam mais humana.

-E afogamento é muito bonito, é um jeito de rir e fugir do choque- O sarcasmo na minha voz foi nítido demais.

-Relaxa eu não ia deixar seu corpo tempo o suficiente para você ficar caindo aos pedaços. Prometo que teria um enterro de caixão aberto- Ele falou.

-Ah claro, agradeço do fundo do meu coração pela consideração.-Falei olhando para ele que sorriu sem graça.

-Como você está?-Ele disse se apoiando na árvore. 

-Viva, em tese.-Respondi.- Sei que o choque vai bater a qualquer momento.

-Disso eu sei, salvei seu corpo. Mais e alma? Como está?.-ele me olhou com pena. Me sentei em uma pedra próxima respirando fundo e levantando os óculos escuros.

-Não faz esse olhar pra mim.- Seu rosto mostrava uma afeição preocupada.- Prefiro você me ameaçando.- Falei sério, o jeito cuidadoso me assustava parecia uma cobra prestes a atacar.

-Não é o momento de ser um... Como é que você diz?.- Ele fez uma pausa dramática.

-Babaca.- Falamos em conjunto. 

-Isso.-Ele disse quando me viu rindo do momento.

-Então vou ter o desprazer.-Comecei.

-Ou prazer, depende do nível de frustração que você aguenta.- Ele disse sorrindo ainda preocupado.

Zona de GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora