Já fazem mais de três semanas desde o incidente do dia dos namorados. É sexta feira, e estou sentado dentro do carro, com as duas mãos apertando com força o volante. A neve cai do lado de fora da janela embaçada. Essa cidade é louca, três semanas atrás estava quase quente e agora vejo flocos brancos voando pelo céu.
Daniel entra no banco do passageiro, tira as luvas pretas e coloca as duas mão nas saídas de ar quente do carro. Sua boca está roxa, da cor dos olhos de Mel. Me pergunto se a comparação que fiz mentalmente quer dizer alguma coisa. Claro que quer.
- Vamos? - eu pergunto, enquanto batuco os dedos no joelho.
- Eu .... pre.... preciso de mai.... mais calor.
Começo a rir quando vejo que seu corpo todo está encolhido, o cabelo tão duro que é possível acreditar que esteja congelado.
- Porra cara, nem está tão frio assim. Um grau, considerando que ainda é inverno, não é grande coisa não. Pergunta para os caras do hóquei.
- Tá fodendo comigo? Não passei esse frio nem em um estádio aberto na copa de 2014. Meu país é tropical, sabe o que isso quer dizer? Que não tenho problemas como rua entupida de neve ou o sentimento de que todo meu sistema circulatório está congelado.
- Tem razão, às vezes esqueço que não é daqui. Você não tem sotaque, então a informação some da minha cabeça quando quer.
Sua postura nervosa e irritada rapidamente se desfaz, dando lugar à um sorriso divertido. Esse é o Daniel, ele não consegue ficar muito tempo de mau humor, diz que deprecia seu astral. Eu queria ser assim, poder controlar meus sentimentos quando bem quero, para nunca sentir a tristeza me corroendo.
- Awn, obrigado lindo - ele joga um beijo para mim no ar e eu rio novamente.
Dirijo tranquilamente até o Weston's, onde os meninos estão nos esperando para uma descontraída. É algo que fazemos antes de grandes jogos, tomamos alguns drinks - não a ponto de perdermos a razão - e aproveitamos um momento de diversão entre camaradas. Só que eu chamei Melanie e Giselle para se juntarem à nós. Isso vai contra o bro code?
Por sorte, há uma vaga bem na frente do bar, o que facilita muito a minha vida se quiser ir embora mais cedo ou para não passar frio. Fico feliz ao perceber que apesar de ser uma sexta feira, não está tão cheio.
Nos sentamos na grande mesa circular de sempre, que tem estrategicamente apenas dois lugares vazios, para que nenhuma garota se aproxime. Merda, eles vão me quebrar na porrada quando descobrirem que chamei não só uma mas duas dessas.
- E aí Forest, você realmente recusou ir para a porra das olimpíadas para ficar em casa escrevendo cartinha de amor? - Kyle me pergunta.
Sei que não tem maldade em sua fala, ele só quer zoar com a minha cara. É o que somos, fazemos piada uns com os outros e rimos disso. É o normal. Então não sei explicar por que fico com tanta raiva quando ele me diz aquilo.
- Não fui convocado para ir às olimpíadas, Kyle. Só é uma possibilidade daqui uns quatro anos se eu entrasse para o time italiano. E sim, eu recusei. Amo jogar vôlei, mas não é algo que gostaria de fazer pelo resto da vida. - Meu tom é sério, quase rude. Não consigo controlar.
- Até porque esse mané aqui nunca teria chance contra o time do Brasil, não é não, Liam? - Dan brinca, bagunçando meu cabelo. Ele está tentando quebrar o clima, e o agradeço eternamente por isso. O loiro sabe como me salvar.
- Tem razão, o Brasil está com muitas chances de ganhar ouro em Tóquio. Não queria estar lá quando eles arrasassem a cara da Polônia - Lionel, nosso jogador mais baixo, se intromete na conversa.
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Found out I was coming - The Hills 1
RomanceMelanie Mitchell é uma garota comum, que gosta de artes e vive apenas para se formar no curso de Publicidade na faculdade Hills, em uma pequena cidade em Connecticut. Ao voltar de uma festa de fraternidade, ela percebe uma carta no bolso de seu casa...