19- Melanie Mitchell

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É escuro.

E frio, e sujo e nojento.

Aparentemente estou no porta malas de uma van.

Não sei dizer à quanto tempo estou largada aqui, usando as mesmas roupas do dia do sequestro. Podem ser horas, dias, semanas ou até meses.

Eu perdi a noção do tempo, perdi a noção de espaço e de vida. Meu estômago ronca de fome e minha garganta arde de sede. Uma coisa eu posso dizer sobre os sequestradores, eles nunca fizeram isso antes. Nunca fizeram porque eles não sabem que se me deixarem sem líquido por mais algumas horas, eles não vão mais precisar de cordas e algemas.

Um corpo morto não tenta fugir.

Eu quero gritar mas não tenho forças. Eu quero tentar fugir, mas não tenho forças. Gosto de pensar que tem gente me procurando lá fora. Que Liam está movendo céus e terras para ter qualquer pista do meu paradeiro. Que Giselle passou mal e está no hospital, pois entrou em uma crise de pânico ao imaginar o que poderiam estar fazendo comigo.

Mas que ela esteja bem, lógico.

Será?

Será que qualquer um deles se importa tanto assim?

Não é neles que estou perdendo a fé, me lembro. É em mim.

Não vou sair daqui. Mesmo se eu tivesse alguma chance de escapar, eu não me moveria. Eu nem tentaria, e a culpa é toda minha.

Nem levo um susto quando escuto um barulho do lado de fora e a porta se abre.

É um cara jovem, de boa aparência. Mas as roupas são rasgadas e estão meio sujas. Nada em seu corpo custa mais do que cinco dólares, eu posso garantir. Ele não é um dos amigos riquinhos de Patrick.

O cara interpreta meu olhar, respondendo uma pergunta que eu nem fiz.

- Patrick tinha mais amigos do imagina. E amigos mais perigosos do que seu ciclo social permitia. Amigos que ficaram muito irritados quando você o matou, querida.

Não nego.

Não ligo mais de ser a culpada. Teoricamente foi minha culpa, eu só não puxei o gatilho.

E Liam merece viver muito mais do que eu, de qualquer jeito. Ninguém precisa saber da verdade.

- Nada? Não vai negar ou prometer fazer qualquer coisa para que eu não te machuque?

Como continuo em silêncio, ele também continua a falar sozinho.

- Ok. Isso é bom sabe, vai ser mais rápido do que eu pretendia. Toma.

Ele joga uma garrafa de água aos meus pés.

Pego rapidamente e engulo tudo, antes que ele mude de ideia e recupere a garrafa só por diversão.

Talvez ele não seja tão principiante assim. Talvez seja uma técnica de tortura, deixar a vítima achar que vai morrer e salva-la no último minuto. É uma boa técnica.

- Como você conseguiu?- O quê? - Sabe, foram exatamente cinco balas. Você devia estar com raiva. Determinada a matá-lo do jeito mais doloroso possível. Eu estaria impressionado se não estivesse com tanta raiva. Patrick podia ser um riquinho idiota, mas ele tinha valor para nós.

Ainda permaneço quieta. Mas começo a me perguntar se não é melhor conversar com ele. O cara parece meio psicopata, todo animado com essa história de morte, mas parece fácil de manter uma conversa. Ele faz muitas perguntas.

Mas não. Não tenho forças.

- Tudo bem, não precisa falar. Eu odiaria ficar ouvindo sua vozinha desesperada de qualquer jeito.

Found out I was coming - The Hills 1Onde histórias criam vida. Descubra agora