Found out I was coming - The Hills 1

26- Liam Forest

Acordo sentindo duas respirações no meu rosto. O que está acontecendo? Quando foi que eu dormi? Em um segundo não me lembro de nada e no outro as memórias vão ficando cada vez mais claras. O trauma.

Finalmente abri o jogo ontem. Finalmente contei para alguém toda a verdade do que aconteceu naquele dia. Ao mesmo tempo que me sinto enjoado, é como se um peso tivesse sido arrancado das minhas costas.

Não queria contaminar Melanie com meus demônios, ela já sofreu demais. Aliás, ela era a principal pessoa para a qual eu não queria contar a verdade. O que aconteceu com a minha mãe... poderia muito bem causar um gatilho na Mel e desencadear todos aqueles sentimentos de novo. Aquele vazio, aquele turbilhão...

Abro os olhos lentamente, com medo do mundo. Acho que nunca mais vou conseguir acordar 100% tranquilo, 100% confiante de que nada de ruim vai acontecer no dia. Mas acordar com Melanie definitivamente me distrai de tudo que há de ruim.

Quando me sento para me espreguiçar, percebo que dormi no chão - por isso que minhas costas estão doendo tanto, merda - e que Mel e Adam também dormiram ali comigo.

Adam está desmaiado, com a cabeça jogada para trás no assento do sofá, e Mel parece estar acordando do ombro de Adam. Se eu não confiasse 100% nos dois eu até poderia duvidar da proximidade deles. Mas conhecendo-os, eu apostaria muito mais que criaram algum tipo de laço/irmandade pós trauma. O que também me faz perceber que Mel provavelmente contou tudo para Adam. Tudo bem, posso lidar com isso.

Ela se levanta lentamente e vai até mim, me dando um abraço que me diz muita coisa. Paz, confiança, medo, amor. 

- Posso me acostumar com isso. - Eu digo, passando a mão pelo cabelo castanho dela.

- Você deve.

- Ah é? Vai trair Gigi e vir morar na república dos garotos?

- Acho que ela me mataria se eu fizesse isso.

Tento sair do abraço mas ela me puxa para mais perto, me prendendo ali naquele momento. 

- Tudo bem linda, o mundo não vai acabar se você me soltar.

- O meu mundo vai.

Suspiro com sua resposta. Eu queria poder tirar toda dor e sofrimento daquela cabecinha. E daquele coração.

- Liam, eu não sei nem o que dizer...

- Ei, você não tem que dizer nada. Só te ter aqui comigo já é tudo que eu preciso.

- Eu... eu tenho tantas perguntas, mas eu não quero te encher com elas. Você precisa de um tempo ainda, meses, quem sabe anos, para conseguir lidar com tudo o que aconteceu e...

- Ei, gatinha, olha para mim. - Eu me solto de seu abraço e puxo seu queixo para cima, obrigando-a a fazer contato visual comigo. - Podemos conversar sobre qualquer coisa. Lógico, ainda tenho muitos traumas para lidar e alguns anos de terapia pela frente, mas ainda assim estarei aqui. Pode me perguntar o que quiser.

Não só por ela, mas acho que saber o ponto de vista de outra pessoa também vai me ajudar a desbloquear.

- Você... você e o seu pai contaram para a sua mãe... você sabe.

- Não. Bom, você já pode imaginar como eu não gosto de passar meus traumas para as outras pessoas, mas também não queríamos constrange-la. Minha mãe nem sonha.

- Mas você falou com ela depois de tudo?

- Meu pai queria que eu agisse normalmente, fingisse que nada tinha acontecido, mas eu não conseguia. Eu precisava ver a minha mãe, saber se ela estava bem. Eu posso não ter um relacionamento muito bom com os meus pais mas eu os amo. E imaginar a minha mãe indefesa, sem achar que podia contar para alguém o que aconteceu me deixou desesperado. Eu fui até a sua casa um tempo depois, quando eu sabia que não iria querer socar a parede ao imaginá-la indefesa. Na verdade, se tivéssemos ido até meus pais naquele dia do sequestro, seria a primeira vez que eu a veria desde então...