P r ó l o g o

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ERA UM DESASTRE!

Pensou Sarah enquanto mantinha o celular em seu ouvido com a voz melodramática de sua mãe soando fina demais para os seus tímpanos. A sua mente trabalhava em busca de uma desculpa para não comparecer á boda de prata dos seus pais. Parecia insensibilidade demais não ir á um momento tão especial para os seus genitores, mas.. ela tinha um motivo para desvencilhar á anos das festas em família; a perda do seu grande amor para o seu irmão.

Nunca fora competitiva, mas veja bem.. O seu irmão, aquele que tinha confiança e amava, tomou a sua namorada sem se importar com os seus sentimentos.

E poxa, ela amava muito a Kérline.

Foi a primeira e única mulher com quem desenvolveu um sentimento verdadeiro. Possuiu a vã ilusão de que um dia se casaria com ela e teriam uma linda família. Entretanto, o Arcrebiano desenvolvia outros pensamentos e pelo visto, a Kérline também.

Entramos com fatos; Kérline era uma interesseira que gozava de uma vida fácil. Não pensou duas vezes em trocá-la por Arcrebiano. O seu irmão naquela altura do campeonato já possuía uma empresa de grande porte com uma conta bancária palpável, enquanto Sarah ainda estava dando os primeiros passos para o mundo dos negócios e sua conta era bem reduzida.

Isso certamente pesou na hora da escolha.

Foi uma grande traição que mexeu demais com o seu psicológico. Tanto que após Kérline informar que o namoro estava terminado e que se casaria com Arcrebiano, Sarah não pensou duas vezes em ir embora da cidade natal e trilhar o seu caminho num lugar bem distante de sua família. Desde então, nunca voltou. Longos cincos anos se passaram e a dor continuava viva em uma parte do seu coração.

E não pretendia voltar, porém, Maria Abadia tinha outros pensamento.

— Será uma grande festa, estou tão feliz com isso! Vinte e cinco anos de casada, com lindos filhos. Será perfeito para reunir toda a família.. — Abadia falava no telefone e sua voz se emocionou um pouco.

Sarah reviu as suas opções de desculpas:

a ) Não posso, tenho uma convenção muito importante para ampliar a minha clínica. b ) Estou com dengue, ou zyka vírus ou chikungunya. c ) Estou fora do país. — Essa seria muito idiota uma vez que atendeu ao telefone de seu escritório.

—... E eu não aceito não como resposta, Sarah. Seja lá o que esteja pensando ou que compromisso tenha, desmarque tudo. Eu quero a minha família unida nessa semana tão especial para mim e o seu pai. — Abadia disse como se estivesse lendo o seu pensamento, a sua voz agora estava num tom magoado que sempre deixava o coração de Sarah apertado. — Cinco anos sem vê-la. Isso é demais para uma mãe suportar!

Sarah apertou o telefone em sua mão e deu um longo suspiro, ficando amuada por saber que desta vez não seria fácil se livrar.

— Mãe.. Você sabe que eu a amo demais. Você e ao papai. Mas eu tenho responsabilidades com a minha clínica e... — Começou, mas foi interrompida por um gemido angustiado de sua mãe.

— Estou sofrendo de pressão alta, o cardiologista disse que o meu coração estava muito fraco e que qualquer desgosto poderia elevar a minha pressão. Ela é emocional, sabe? — Abadia falou dramaticamente. Mesmo sabendo que era exagero de sua mãe para lhe causar remorso, não deixou de se preocupar com a saúde da mesma. — Você quer ser responsável pela morte de sua mãe?

Sarah arregalou os olhos: — Por Deus! Não! — O nervosismo do pensamento fez com que roesse as suas unhas. Péssimo hábito. — Eu vou..

— Oh, que maravilha! — Abadia gritou e bateu palminhas. — Evandro, a Sarah vem!— Ela gritou para o seu marido e depois voltou a falar com a filha. — Você não sabe como me deixou feliz. Vejo-a no domingo, meu doce. Bye. — E desligou o telefone antes que Sarah pudesse repensar e desmarcar com o compromisso.

Sarah ficou olhando o telefone em sua mão um pouco atônita. Tinha aceitado voltar a sua cidade natal para passar uma semana... uma semana... sete dias... Sob o mesmo teto com o seu irmão e a sua cunhada. Isso era como um desastre!

• • •

Juliette estava atrasada para o seu trabalho. Tinha uma cliente de oito horas, e o seu relógio de pulso denunciava que se passavam dez minutos da hora marcada. Sua chefa e também a cliente iriam mata-la! Compromisso e responsabilidade faziam parte do slogan da Clínica de Estética e SPA Equilibrium. E estava sendo tudo, menos compromissada e responsável naquele momento.

Seus passos eram precisos na avenida amarrotada de pessoas, não podia perder o seu emprego, precisava receber o seu salário para poder sustentar a sua filha uma vez que o pai da mesma não sabia de sua existência. Foi apenas um encontro relâmpago no quarto escuro de uma balada que gerou um fruto.

Não sabia o seu nome e muito menos onde morava.

A única coisa ruim era que sua filha crescia sem a presença de um pai, mas a Juliette tentava suprir a ausência de um pai, dando todo o seu amor e carinho para ela.

Esbarrou em algumas pessoas e pediu desculpas com um sorriso amarelo, mas não desacelerou os seus passos. Sentia o seu corpo banhado de suor e os seus pés a torturando com os sapatos altíssimos de bico fino. Sempre seguia para o trabalho de tênis e lá, trocava de calçado. Mas como havia se atrasado, optou em ir de vez arrumada, mesmo que isso gerasse alguns calos em seus pés.

O seu celular vibrava na bolsa, mas era impossível pegá-lo quando se estava com uma criança no braço esquerdo, e com bolsas penduradas no ombro direito. Mas poderia imaginar quem estava ligando.. geralmente, não possuia muitos amigos e as pessoas que tinham o seu número eram quase escassas. Só podia ser do trabalho.

Olhou para os lados ignorando o toque insistente do celular e atravessou a rua quase correndo. Stella que estava com a pequena cabeça deitada em seu ombro, reclamou por ter o seu sono abruptamente interrompido. Ela ainda estava um pouco mole, tinha passado a noite em febre. Esta havia cedido um pouco, porém, ela ainda estava um pouco amuada.

Mas Juliette sabia o que era a causa da febre.. os dentinhos que estavam saindo.

— Mamãe está quase chegando à creche e você poderá descansar meu amor. — Disse á Stell, dando um beijo em sua cabeça repleta de cabelos castanhos e lisos.

Não gostava de deixar a sua filha na creche, mas não possuía dinheiro suficiente para pagar uma babá, e essa creche era considerada uma das melhores. Era cara, mas o preço não se aproximava de um salário mínimo do qual teria de pagar para uma babá. Caminhou mais alguns passos e finalmente chegou á creche. Passou na portaria, sendo reconhecida pelo porteiro e seguiu para a pequena sala onde já possuía algumas crianças da mesma faixa etária de Stella, brincando.

Stell tinha ficado no berçário até completar um ano. Como estava com um ano e dois meses, tinha sido transferida para creche.

Entregou as bolsas com fraldas, alguns brinquedos, e o travesseiro preferido da sua filha para a cuidadora, e depois passou a Stella para o braço da mesma. Sua filha levantou a cabeça e os olhos achocolatados e grandes brilharam em lágrimas que aquebrantou o coração de Juliette. Ela não podia ver a sua filhinha desse jeito que também sentia vontade de chorar.

— Oh meu amor.. não chore, mais tarde mamãe volta para lhe buscar. — Disse carinhosamente, e acariciou o rosto de sua menina, depois deu um beijo suave na testa. Sabia que ela não tinha compreensão da frase e que sempre chorava, mas tentava consolá-la. Olhou para cuidadora. — Ela teve febre à noite toda, os dentinhos estão saindo. Antes de sair de casa, medi a sua temperatura e está com febre baixa, se aumentar, por favor, me ligue informando.

— Pode deixar Julie. A pequena Stell está em boas mãos. — Informou a cuidadora, ninando a menina nos braços.

Com mais um beijo de despedida, Juliette deu as costas e se afastou de sua filha, escutando o chorinho angustiado de Stella, e a palavra “mama” diversas vezes. Ela não olhou para trás, saiu da creche e limpou as suas lágrimas que escorriam em seu rosto.

Sua vontade era de voltar para sua filha, mas infelizmente.. Tinha de trabalhar! Correu para pegar o ônibus. O seu trabalho ficava três quarteirões da creche, se fosse outro momento, iria á pé, mas como estava atrasada..

Trouxe uma degustação :)

Faz De Conta || Sariette • ADP Onde histórias criam vida. Descubra agora