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O clima no hotel-fazenda era de puro terror. Os hóspedes e os funcionários estavam horrorizados com a cena que presenciaram. As ambulâncias chegaram e os primeiros socorros foram prestados. Teriam que correr contra o tempo para que Sarah e Juliette chegassem vivas no hospital em Recife. Infelizmente, o único hospital de lá não tinha suporte para atender alta complexidade.

Na hora de ir embora, houve um impasse porque os irmãos queriam ir à ambulância com Sarah e só podia um. Carla sentou-se e não saiu para nada. Não tinha tempo para perder com essas bobagens, a sua irmã estava entre a vida e a morte. O seu sobrinho também. A bolsa de Sarah tinha estourado. E o medo era que o bebê entrasse em sofrimento fetal.

Sarah estava com balão de oxigênio. Apesar de ter feito uma pressão no ferimento, ainda sangrava, a medicação não estava coagulando o sangue. E estava ficando cada vez mais roxa. Precisava urgentemente ir para o bloco cirúrgico. Ou ela e o bebê não sobreviveriam.

Carla segurou a mão de sua irmã. Estava toda melada de sangue e chorava muito. Pedia baixinho para que a Sarah sobrevivesse, não iria suportar perde-la. Amava demais a sua irmã, não aguentaria um mundo sem ela.

— Aguente firme. — Carla murmurou para Sarah. — Por mim, por seu filho e por Juliette. Por favor, aguente firme.

No meio do caminho, Sarah teve uma parada cardíaca para o desespero de Carla. Os profissionais agiram rapidamente e pediram para a Carla ficar calma. A enfermeira fez uma massagem cardíaca com ventilação, quando viu que não estava dando certo, foi preciso usar um desfibrilador.

Primeiro choque... Nada. O monitor continuou zerado. Aumentaram os volts.

Segundo choque... Nada. A enfermeira e o médico se entreolharam. Carla percebeu aquele olhar, ficou mais desesperada ainda.

Limpou as lágrimas e murmurou no ouvido de Sarah:

— Escute aqui sua vadia! Se você ousar morrer por conta daquela piranha da
Kerline, juro que faço o ritual mais macabro do mundo, mas lhe trago de volta a vida e lhe mato! Vamos!

A equipe se entreolhou novamente. Que mulher mais bizarra.

— Recarregar. — A enfermeira gritou. — Afaste-se. — Pediu para Carla.

Carla se afastou.

Terceiro choque... Nada também. A equipe ficou desolada, tinham perdido a paciência. Com o olhar, Carla soube. Ela gritou e começou a esmurrar o peito de Sarah, eles tentaram afastá-la, mas a mais nova gritava desesperada o não. Em um golpe foi bem certeiro no coração, e milagrosamente o monitor apitou.

— Temos batimentos... — A médica gritou.

Carla afastou-se surpresa e também muito feliz. Não sabia se sorria ou chorava, tinha mais uma chance com sua irmã.

Enquanto isso, na outra ambulância... O Gilberto acompanhava a Juliette. Estava com muito medo que a morena não sobrevivesse, não saberia cuidar da Stella sozinho sem ajuda dela. A pressão arterial de Juliette estava sendo um problema, estava intercalando entre alta e baixa em questão de segundos. Os medicamentos não estavam fazendo efeitos.

A equipe não sabia a profundidade da faca, ou onde estava localizada. Se estava próxima do coração ou não, qualquer movimento em falso poderia fazer com que a faca se deslocasse e fosse fatal.

Juliette gemia de dor, e foi preciso sedá-la. Era horrível que isso tivesse acontecendo com uma mulher tão boa quanto a Juliette. Como a Kerline saiu do manicômio? Será que não teriam um momento de paz?

Gilberto olhou pela janela. A ambulância estava muito rápida, e para a sua felicidade já estava se aproximando de Recife. Para sua infelicidade, o quadro clínico de Juliette começou a piorar e muito. Os sinais vitais estavam caindo e a equipe lutava para estabilizá-la. Foi difícil, e por um momento o Gilberto achou que perderia a mãe de sua filha, mas a Juliette reagiu.

Finalmente, chegaram ao hospital. Uma equipe já os aguardava, inclusive, a obstetra de Sarah estava no recinto. Carla e Gilberto foram barrados. Não podiam entrar no bloco cirúrgico.

Atrás, chegou o Arcrebiano com o carro. Thaís ficou no hotel-fazenda cuidando da Stella. Alguém precisava fazer isso. Mas, amanhã iria vir para Recife.

— Iremos ligar para os nossos pais? — Arcrebiano perguntou para Carla.

Carla balançou a cabeça em negativa.

— Não. — Carla fungou. Ainda estava melada de sangue, mas estava em choque. — Os nossos pais devem estar na Ásia nesse momento. Não quero que fiquem preocupados. Sarah e Juliette vão sair dessa. Eu sei que vão.

— Eles ficarão furiosos quando souberem de tudo. — Arcrebiano disse.

— Que fiquem. Ao menos, as duas estarão vivas. — Carla deu de ombros.

Gilberto abraçou o Arcrebiano, estava desconsolado. Não se tinha muito que fazer... Só esperar...

A espera foi muito angustiante. Os três sempre buscavam saber de notícias. Mas a resposta sempre era a mesma: Estão em cirurgia. Não sabiam mais o que pensar. Cada minuto, o desespero aumentava e também as orações. Queriam que as duas se salvassem, e o bebê também.

— Eu não aguento mais. — Carla choramingou. — Quantas horas de cirurgia?

— Nove horas. — Gilberto murmurou.

— Isso é um bom sinal. Se tivesse acontecido alguma coisa de ruim, eles teriam informado. Se não saiu nenhuma notícia, é sinal de que estão vivas. — Arcrebiano disse com fé.

Souberam através da Thaís que a Kerline tinha se suicidado. Que loucura. A mulher faz muito mal as pessoas para depois se matar. O mundo seria muito melhor sem a Kerline, ao menos a família Andrade poderia respirar em paz sem ter medo da sombra de Kerline.

Mais uma hora se passaram quando finalmente a equipe médica surgiu. Os três se levantaram, a ansiedade juntamente com o medo mesclado com o desespero gritou dentro do peito de cada uma. Os olhos encheram-se de lágrimas e o tempo parecia que tinha parado.

Cada um pedia mentalmente para que as notícias fossem boas.

— Elas estão bem e o bebê também. — A médica informou.

Os três soltaram as respirações e riram em meio às lágrimas. Não estavam acreditando que isso estava acontecendo, era um milagre! Todo medo e angustia que sentiram foi embora em um passe de mágica.

— Tive que fazer uma histerectomia total na Sarah. — A obstetra de Sarah disse. — A faca fez um grande estrago em seus órgãos e não tinha muito que fazer. Foi um trabalho muito árduo e também milagroso. Principalmente se tratando do bebê. Ele estava quase em sofrimento fetal quando realizamos a cesariana. Mas felizmente, os primeiros exames não mostraram nenhuma sequela. Os sinais vitais de ambos estão muito bons, e estão progredindo. Como se trata de um bebê de oito meses ficará na incubadora para melhor observação. Mas acredito que assim que a Sarah receber alta, ele também poderá ir com ela.

Os três ficaram aliviados. Principalmente a Carla. O triste era saber que a Sarah não poderia ter mais filhos, mas... Ela estava com vida e bem. Isso que importava!

— No caso de Juliette... — Começou uma cardiologista. — A faca atingiu uma artéria, porém, como o objeto ainda estava introduzido, impedia que uma hemorragia ocorresse. Assim que removemos a faca, houve um rompimento dessa artéria. Ela sofreu duas paradas durante a cirurgia. Felizmente conseguimos reverter à situação e reparar a artéria. Ela está estável e o quadro está evoluindo. Estamos otimistas sobre a sua recuperação.

Mais suspiros aliviados foram soltos.

— As duas ficaram na UTI nas primeiras vinte e quatros horas para melhor monitoração. Depois serão transferidas para um quarto.

— Muito obrigada, doutores. — Carla agradeceu emocionada, apertando na mão de cada um.

Arcrebiano e Gilberto também fizeram o mesmo. Eles salvaram as vidas de Sarah e Juliette, nem todos os agradecimentos do mundo seria o suficiente para de fato agradecer isso.

— Podemos ver o bebê? — Carla pediu.

— Claro. — A obstetra respondeu.

Os três sorriram e seguiram a obstetra para o andar materno. Entraram no elevador e se encostaram ao mesmo. Cada um agradecendo mentalmente a Deus por tudo ter saído bem quando simplesmente o resultado poderia ter sido desastroso.

Faz De Conta || Sariette • ADP Onde histórias criam vida. Descubra agora