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Oprah/Stella-Stell



Juliette cuspiu o café. Não foi nada elegante, e muito menos atraente. Mas, Sarah deu um crédito para a mulher. Pelos seus olhos arregalados quase chocados, e sua boca aberta com uma pequena gota de café escorrendo pelo queixo, imaginou que estava bastante surpresa com a pergunta.

Internamente, Sarah torcia para que Juliette aceitasse. Era bem nítida a atração que existia entre ambas, não ficou imune minutos atrás quando atingiram o ápice da tensão sexual. E isso era ótimo! Ninguém da sua família desconfiaria que não existisse algo entre elas, não com aquela química ativa.

Além de ser muito bonita.

Se fosse definir a beleza de Juliette, diria que era exótica. Os seus olhos eram viciantes de se olhar.. castanhos escuros e profundos, algo bem interessante. Percebeu que os seus olhos sempre se iluminava quando sentia qualquer emoção ou sensação. Não era algo que passava despercebido, muito menos os lábios bem desenhados.

Seria prazeroso passar os seus dias torturantes ao lado daquela mulher. Diria até que se divertiria muito. Infelizmente, apesar de o seu corpo reagir à presença de Juliette, nunca misturava negócio com prazer. Então, teria que sufocar qualquer desejo que viesse a borda.

Quem sabe, talvez, depois? Não iria achar ruim em mergulhar nas curvas sinuosas e tentadoras de Juliette.

— Você está louca!? — Juliette explodiu de repente, saindo do seu estado de choque e assustando a Sarah com a sua fúria. — Está achando que eu sou uma garota de programa para me submeter a isso?

Os olhos de Juliette estavam avermelhados, e se pudesse, Sarah seria fuzilada por ela.

— Não.. — Sarah começou a dizer mais foi interrompida.

— Esse é o maior absurdo que já escutei em minha vida! — Juliette pegou um guardanapo e começou a limpar vigorosamente o café de sua blusa branca. — Nunca fui tão humilhada!

— Desculpe-me se a minha proposta foi humilhante, a intenção não era essa, e muito menos quis insinuar que é uma garota de programa. — Sarah disse calma e cautelosamente, escolhendo as palavras certas para dar com o burro na água. — Deixe-me explicar.. Tenho um evento em família, de uma semana, e não posso aparecer solteira por circunstância de motivo pessoal. Como não sou uma pessoa muito dada á romance, pensei em contratá-la por uma semana. Será como um trabalho qualquer, só precisa fingir estarmos juntas. Sem contato físico exagerado.

Juliette a olhou como se fosse uma alienígena. A descrença em seus olhos.

— O que a fez pensar que eu aceitaria uma proposta imoral desta?

— O que há de imoral nisto? Estou apenas lhe oferecendo uma semana de férias regada ao luxo, e ainda pagarei muito bem por isto. — Sarah retrucou sem perder a calma diante daquela mulher que estava quase se desiquilibrando. Ela ficava mais sexy assim, até os seus cabelos castanho escuros ficaram alvoraçados, parecendo uma leoa.

Juliette piscou diversas vezes, então, balançou a cabeça em negativa.

— Somente uma pessoa sem decência ofereceria isso.

— Eu sou uma mulher bastante decente, Juliette.

— Uma mulher decente não chamaria a sua funcionária e faria essa proposta. Isso pode acarretar um processo sabia? — Juliette apontou o dedo em riste. — Assédio sexual! — Apertou os olhos. — Eu sou uma mulher de caráter, de moral!

Sarah respirou fundo, manter o controle da situação era essencial para ter êxito.

— Senhorita Freire.. — Sarah falou mais alto. — Nenhum momento disse o contrário, e muito menos insinuei isto. Poderia deixar a palavra sexual de lado? A proposta não tem nada de sexo relacionado, pare de agir como se eu tivesse a convidado para passar uma semana de sexo. Nunca precisei pagar para ter sexo, e nunca farei isto.

Juliette acalmou-se e ficou avermelhada, provavelmente por pensar que Sarah a queria sexualmente. Ela finalmente parou de esfregar o guardanapo na blusa ao ver que não teria mais solução, e Sarah voltou a tomar o seu café, esperando pela resposta, mas Juliette levantou-se abruptamente.

— Sabe quando irei aceitar a sua proposta? Quando as vacas falarem!

Juliette ergueu a cabeça e o peito, deu uma última olhada para Sarah que a olhava com curiosidade, deu-lhe as costas e saiu marchando de sua sala.

Sarah suspirou longamente e ficou observando a porta que foi batida, segundos atrás. Não sabia que Juliette era geniosa, e também muito louca. Geralmente, nunca aceitava um não. Poderia rumar para outra funcionária, mas o temperamento de Juliette a deixou mais interessada em tê-la como namorada. Também, causaria mais impacto. Ela era perfeita.

Só precisava fazê-la aceitar a proposta.

• • •

Juliette estava indignada! Tinha uma faixa em sua testa escrita fácil? Óbvio que não. Não sabia por que a Sarah cogitou essa possibilidade com ela, mas não iria acontecer. Nunca! Que mulher mais baixa. O que tinha de bonita e dinheiro, faltava de escrúpulo.

Era inadmissível aceitar uma proposta desse gênero.

O seu sangue estava borbulhando em suas veias. Estava também muito irritada que não se importou em ser grossa com Viviane quando a mesma a questionou sobre o que Sarah queria.

— Se está tão interessada em saber, vá perguntar á ela! — Juliette praticamente berrou para Viviane.

Viviane ficou parada no corredor com os olhos arregalados como se não acreditasse na atitude de Juliette, mas também não foi atrás para repreende-la. Porém, Juliette não era inocente e sabia muito bem o que essa resposta acarretaria: Uma advertência, consequentemente mais uma quantia retirada do seu salário.

Depois que entrou em sua sala e chamou a próxima cliente, e concentrou-se em fazer a sobrancelha da mulher, o seu sangue foi esfriando e ela foi se dando conta do que tinha feito. Foi grossa com a proprietária do estabelecimento, e grossa com sua gerente. Se não tivesse demitida, seria um grande milagre divino!

Tentou concentrar-se o máximo na sobrancelha da cliente. E assim, foi passando a sua manhã. Depois de mais quatro clientes, estava liberada para almoçar. Estava faminta! Aproveitando a sua uma hora de almoço para comer num restaurante popular umas quadras dali.

No bairro nobre que trabalhava o almoço mais barato custava mais de cinquenta reais! Não tinha dinheiro para isso. Ficaria num restaurante com o prato feito por dez reais mesmo. Assim que chegasse ao restaurante iria ligar para creche, queria saber como estava Stella.

Estava andando no sol escaldante de meio-dia com os seus saltos altos, quando teve a sensação que o carro preto na rua estava a seguindo. Olhou pelo canto dos olhos. O carro seguia lentamente pela rua deserta e sem trânsito. Aumentou os passos, o carro também, diminuiu os passos, o carro também. Era oficial: O carro estava a seguindo.

Pensou em parar e encarar, mas o pânico a fez correr. Viu quando dois homens saíram do carro e começaram a correr atrás dela, aumentando o seu desespero que começou a gritar por socorro. Por que ao invés da rua principal, tinha escolhido essa rua calma e remota? Agora iria morrer!

O que Deus tinha contra ela? Nunca fez nada! Sempre foi uma mulher de fé, acreditava em Deus, e fazia de tudo para seguir os seus ensinamentos. Que pecado cometeu? Jogou pedra na cruz? O que tinha feito pra merecer isso?

O seu cérebro só focava em fugir mesmo que corresse com dificuldade por conta dos saltos. Em sua maratona, não viu a pedra em seu caminho, tropeçou e o seu corpo atingiu em cheio o chão. A adrenalina não a fez sentir nada, além do medo de morrer.

Não teve tempo de se levantar. Os dois homens a alçaram, e a pegaram pelos braços, como se ela fosse leve feito uma pena e a levou para dentro do carro.

O que tinha feito de errado na vida? Pensou em sua filha. O seu coração apertou-se e os seus olhos encheram-se de lágrimas. Tinha que viver muito, Stella  precisava dela, não estava preparada para dar adeus á sua filha.

Por favor, meu Deus. Pediu, antes de ser jogada dentro do carro.

Faz De Conta || Sariette • ADP Onde histórias criam vida. Descubra agora