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Juliette escutava as futilidades da senhora Conká, mas não prestava atenção em nada, apenas balançava a cabeça em positivo para fingir atenção. Estava mais preocupada com a bronca que iria levar de sua chefe.

Viviane não era conhecida por sua amabilidade com os funcionários, era uma mulher rígida beirando a grosseria. Silenciosamente, estava rezando para que não fosse demitida. Precisava do emprego. Deus sabia que sim. Pensar no motivo de precisar, a fazia recordar de sua filhinha. Será que estava bem? Será que a febre tinha cedido completamente?

— Pronto, senhora Conká. — Juliette disse com voz simpática, buscou um espelho para que a cliente visse o resultado de suas sobrancelhas.

Karol sentou-se.

— Oh, maravilhoso! Você é esplêndida, Juliette. — Karol comentou olhando as suas sobrancelhas. — Mas, faça-me esperar mais uma vez por você que farei questão de destruir a sua carreira, garanto que nenhuma clínica de estética ficará interessada em seu serviço. Fui clara, querida? — Ela olhou para Juliette com um sorriso aberto, como se o que estivesse falando fosse mera bobagem.

Juliette empalideceu. Se existiu uma coisa que aprendeu com as suas clientes riquíssimas, era: Não brinque com elas, e muito menos conquiste a inimizade.

— Sim! — Juliette respondeu num sopro de voz.

— Ótimo. — Karol levantou-se da maca e ajeitou os seus cabelos. Depois, buscou por sua bolsa caríssima. Forçando um sorriso falso, Juliette levou a sua cliente até a porta, a mulher virou-se para ela e deu dois beijinhos em seu rosto, depois acenou. — Até á próxima.

Juliette meneou a cabeça. Observou os passos da sua cliente num salto que poderia ser considerada suicida. O seu estômago roncou, lembrando-a que não tinha tomado café da manhã, e provavelmente, não teria oportunidade pois tinha outra cliente. Era só o tempo de organizar a sua sala. Ia fechando a porta quando uma mão firme interrompeu o movimento, era Viviane com uma expressão aterrorizante. O sangue gelou em suas veias, era hora da bronca.

Abriu a boca para desculpar-se novamente pelo atraso, quando a Viviane informou:

— Senhorita Andrade está lhe aguardando em seu escritório. — O tom de voz de sua chefa dizia o quanto estava contrariada com isso.

— Agora? — Perguntou Juliette, surpresa.

— Não, amanhã. — Viviane aumentou o tom de voz. — É claro que é agora. Vá logo antes que atrase mais o seu serviço e eu desconte um dia de trabalho.

Juliette não pensou duas vezes antes de avançar em direção do escritório de Sarah. Só de pensar em ser descontada um dia de trabalho, isso lhe causava arrepio. Porém, estava receosa, o que a dona do estabelecimento queria com ela? Será que iria demiti-la pessoalmente? Todos os pensamentos negativos instalaram-se na mente dela, por isso hesitou alguns segundos antes de bater na porta do escritório.

— Entre. — A voz rouca, porém firme de Sarah mandou.

Sua testa suava consideravelmente, depois de limpá-la e enxugar as mãos em sua roupa, Juliette abriu a porta e adentrou.

— Com licença, senhorita Andrade. Gostaria de falar comigo? — Sua voz estava trêmula demais.

— Sim. — Sarah não fez questão de levantar a cabeça, estava assinando algo que aparentemente era muito importante. — Sente-se, por favor.

Juliette caminhou até as poltronas acolchoadas e extremamente confortáveis, e sentou-se em uma. Apesar da sala estar uma geleira, o seu nervosismo a fazia suar bastante e estava odiando isso!

Durante seu tempo de espera, prestou bastante atenção á mulher que permanecia concentrada nos papéis sobre a mesa, numa tentativa em vão de dispersar seu nervosismo. Muito bonita, era verdade.. a pele era pouco bronzeada como se pegasse a medida certa de raios solares, se tocasse, poderia apostar que a sentiria sedosa e em demasiado macia.

Um rosto oval com maçãs graciosas acompanhadas de um nariz aristocrata e uma boca carnuda. As sobrancelhas eram bem feitas, e possuíam quase a mesma tonalidade que os seus cabelos loiros. Os olhos.. ? Grandes e extremamente claros, numa mescla de verde e caramelo.

Verde-caramelados, belíssimos.

A mulher era simplesmente bela e seu corpo também compartilhava da perfeição; constatou Juliette descendo os olhos para o decote que embora singelo, dava asas a imaginações impuras.

Seu cheiro.. ? Delicioso. O escritório estava impregnado com o perfume caríssimo de Sarah Andrade.

— Juliette? — Escutou uma voz quase ao longe lhe chamar. Ergueu os olhos de pressa enquanto um rubor tomava conta de suas bochechas ao perceber que fora flagrada encarando os seios de sua patroa.

Isso era ultrajante.

Sarah a observava com bastante interesse, um sorriso sarcástico brincava em seus lábios. Ela provavelmente pensaria que Juliette era uma tarada.

— Senhorita Andrade.

Sarah esticou o corpo na poltrona e depois relaxou.

— Não precisa me chamar de senhorita Andrade. Pode me chamar por Sarah. — Ela disse olhando para Juliette e então, abriu um sorriso digno de um Oscar.

— Certo. Sarah.. — Juliette balbuciou novamente distraída, mas agora pelo sorriso daquela mulher.

O que estava acontecendo com ela?
 
— Aceita um café? — Ela ofereceu já colocando a mão no telefone. Juliette pensou em dizer não, mas a menção de comida fez o seu estômago roncar alto demais, causando-lhe novamente um rubor de vergonha. — Acho que sim. — Sarah ligou para copa. — Por favor, Cida. Traga-me dois cafés e também aqueles biscoitos amanteigados que você sabe que eu adoro. Obrigada. — Desligou.

— Eu não tenho muito tempo para comer. Tenho uma cliente esperando e não quero receber nenhuma advertência. — Juliette disse ficando preocupada com o que Viviane iria achar de sua demora.

— Não se preocupe. Você está com a dona do estabelecimento, e acredite.. — A voz de Sarah se tornou mais baixa e ela se inclinou para frente, colocando os cotovelos na mesa de vidro e diminuindo a distância entre as duas como se fosse confidenciar um segredo. — .. Está comigo, está com Deus. — E sorriu.

Que blasfêmia! Pensou Juliette.

Com aquele sorriso era mais fácil dizer que estava com o diabo.. Imagens de Sarah vestida como uma diabinha aguçou uma sensação bastante impura dentro de Juliette. Sentiu o calor aumentar dentro daquela sala, e desta vez, não tinha mais nada a ver com nervosismo.. E sim, de uma tensão sexual gritante, principalmente quando os olhos se encontraram, quase saiu faísca!

Não sabia se era trágico ou mágico. Mas, estava terrivelmente atraída por sua patroa, por uma mulher que sabia que nunca iria ter. Sarah estava num topo da lista muito além do seu alcance.

Com aquele olhar, e com aquele sorriso.. Juliette faria tudo que ela quisesse, se Sarah ordenasse que deitasse nua em cima de sua mesa, faria com bastante prazer.

Batidas na porta, fizeram desviar o olhar, e Juliette constatou que passou esses segundos sem respirar. Respirou fundo, e olhou para a copeira que entrava na sala com um sorriso, e uma bandeja com os cafés e os biscoitos amanteigados. Sarah agradeceu a Cida, e incentivou para que Juliette se servisse. E ela o fez.

Depois de três biscoitos, e alguns goles de café. Juliette finalmente questionou:

— O que gostaria de falar comigo, Senhori... Sarah?

Sarah a olhou intensamente, como se tentasse desvendar todos os seus segredos. Juliette sentiu um calor em suas orelhas, sempre ficava assim quando estava.. quente.

— Serei bastante direta, pois, não gosto de meias palavras e muito menos rodeio. — Sarah disse séria, e sem desviar o olhar. — Quanto quer para fingir ser a minha namorada por uma semana?




Faz De Conta || Sariette • ADP Onde histórias criam vida. Descubra agora