Capítulo 1

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Renato Saturna. Olhos castanhos e terrosos. Cabelos naturalmente brancos que descem em ondas, assim como o mar, até o fim dos fios. É pálido, bastante. Ainda mais quando saíra diretamente do Brasil, país tropical que lhe garantia o mínimo de bronzeado, para os Estados Unidos, país não tão tropical assim.

Sua tia, que lhe criou após a morte de seus pais quando ele era apenas um bebê, lhe mandou repentinamente para um intercâmbio. Era definitivamente rígida, gostava de ter planejamento e calma para tudo. Mas sua decisão foi tão de repente, que Renato não conseguiu entender. Mesmo assim, estava pronto para levar toda a sua animação e otimismo para outro país. Mesmo que esse país não tivesse o histórico de receber pessoas como ele tão bem.

É a sua terceira semana lá, segunda frequentando a escola. Nesse meio tempo, já tem as seguintes conclusões:

1: Não é bem visto por algumas pessoas que não curtem a ideia de um latino com eles.

2: Tem muita gente muito bonita.

3: É o aluno favorito do seu professor de Língua Inglesa, o que é irônico, já que ele não esconde muito bem o seu sotaque.

4: Suas melhores companhias são Brooke Myers, sua mais nova "irmã de consideração", e Emi Watanabe, melhor amiga de Brooke.

5: Ele definitivamente odeia Davin Towers. Esnobe, podre de rico, estupidamente rude. Tinha que estar no mesmo grupinho que os xenofóbicos idiotas do colégio.

6: Algumas situações requerem que ele brinque com a água, como sua tia chama, mesmo que a mesma o tenha proibido de fazê-lo lá, na América do Norte. E ele não tirava a sua razão. Isso era realmente perigoso.

— Não esqueça a mochila, Renato — diz Clarice Myers, a mãe da família que o recebeu. É amiga de muitos anos de Ana, sua tia, e jamais recusaria receber o doce menino de que tanto ouviu falar. — O senhor tem histórico.

Ele ri. Não resta dúvidas de que sua tia falou para a Sra. Myers que ele é lerdo. Pra caralho.

— Pode deixar — ele se abaixou e pegou a mochila amarela pela alça.

Sai de casa e a luz do sol bate contra o seu rosto. Seus olhos se iluminam rapidamente numa cor de um mel reluzente, antes que ele pisque. O carro vermelho de Brooke o aguarda.

— Vai ficar posando na luz solar, modelo? — Diz Brooke, o cotovelo escorado na janela do carro. Ainda o intriga uma jovem de 16 anos, sua idade, dirigindo.

— Só se você ficar aí e tirar uma foto minha — ele começa a andar na direção do veículo. Seu cabelo está jogado de lado, e ele usa um moletom amarelo como sua mochila, exibindo com destaque seus 1,69 de altura.

Da a volta no carro e está pronto para abrir a porta do passageiro, até que a janela começa a abrir e um rosto pálido e delicado se exibe.

— Regra número um do carro da Brooke: apenas vaginas na frente. Apenas mulheres, na verdade. Nem todas têm vagina. — diz a menina. Emi Watanabe, a melhor amiga de Brooke. Suas famílias se tornaram amigas quando suas respectivas mães, no ensino médio, se conheceram ao se isolarem do resto da escola, já que costumavam excluir a mãe de Brooke por ser negra e a mãe de Emi por ser asiática. Emi, inclusive, tem um humor muito peculiar.

— Ah, é claro — ele entra nos bancos de trás do carro e fecha a porta. — Pênis aqui atrás!

Elas gargalham, então Brooke pisa no acelerador. Durante o caminho — que não é tão longo —, Renato se mantém reflexivo enquanto suas mais novas amigas gritam ao som de "Bohemian Rhapsody". Sempre foi fã de filmes clichês, e está, basicamente, na terra delas. Romances de ensino médio sempre lhe encantaram, como Meninas Malvadas e The D.U.F.F. Mas nunca se imaginou ali, nem com seu inglês fluente, estando naquele lugar. Mas ele está indo, ao som de Queen. Decide entrar na brincadeira e começa a cantar com as meninas. Fica agitado, feliz. Tão feliz que nem nota um homem atrás das árvores e dos arbustos, de preto, apontando uma câmera para ele. Mesmo que esse homem faça isso todos os dias.

Do Seu Sol, Para a Minha LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora