Capítulo 5

43 7 65
                                    


É curioso como o fogo funciona. Às vezes, é só uma faísca. Uma faísca que tem potencial para se tornar uma chama. Uma chama que pode se espalhar, e virar um incêndio. E tudo o que é necessário para que esse processo se agilize é uma substância inflamável. Madeira, folhas. Óleo.

Mas, quando o fogo é aplicado em nossas vidas no sentido simbólico, as substâncias inflamáveis são outras, e o incêndio representa várias outras coisas. Basta você dizer: qual é o seu fogo? O que faz as chamas se espalharem; crescerem?

— Então a gente gosta do Davin de novo? — Brooke pergunta. — Eu fico cada vez mais confusa... a gente odiava ele literalmente ontem. E eu tenho certeza de que eu estou informada o suficiente, Emi.

Davin, que está no sofá dos Myers, ri. Renato, em seu colo, com os dedos tamborilando no queixo no parceiro, faz o mesmo.

— Lembra o que eu disse antes? Gente branca. Só aja naturalmente, essa galera é meio estranha.

Dessa vez, a Sra. Myers também está entre eles.

— Olha, eu sei que jovens têm esse fogo, mas vocês têm que criar o mínimo de juízo e não ficarem no colo um do outro na minha frente — ela beberica seu chá.

Envergonhados, eles saem da posição anterior. Emi ri da expressão deles.

É domingo, e eles vão fazer uma pequena viagem — já permitida por Clarice, pela mãe de Emi e, claro, pelo pai de Davin. É curioso o quanto ele incentiva os dois a ficarem juntos.

Eles vão à praia, é claro. Quando Brooke perguntou como os quatro iriam, Davin escancarou a obviedade no tom de voz — obviedade essa só dele, é claro — ao dizer que iriam de helicóptero. Eu tenho uma casa lá, e os seguranças vão com a gente. Mas fiquem tranquilos que eles vão ficar na porta e numa parte separada. Teremos privacidade, já que é uma ilha.

Renato arruma sua pequena mala, colocando coisas como protetor solar, bermudas de banho e camisetas. O cachecol amarelo. A mala de Brooke é muito maior, e ela leva muito mais coisas. Também soltou as tranças, deixando seus cachos fechados e espessos — como os de sua mãe — livres. Emi leva uma mochila. O quê? É só um dia, gente, não vamos desfilar numa super passarela. O Saturna não conseguiria andar sem tropeçar, de qualquer jeito.

O ponto de encontro é a casa dos Myers, como sempre. Clarice diz para mandarem mensagem e mantê-la informada a todo tempo. A mãe de Emi não se importa em dizer boa viagem, como de costume. Renato manda mensagem para a tia Ana, que responde apenas faça uma boa viagem. Mas o que há com ela?

Quando chegam ao heliporto dos Towers, olham para o helicóptero, boquiabertos. Renato nunca viu um pessoalmente, inclusive. Só via aqueles que sobrevoavam a fazenda. Não eram poucos, inclusive.

A brisa balança seus cabelos, e, com a ajuda de um segurança, sobem no veículo. Primeiro Emi, depois Brooke, Renato em seguida e Davin por último. Seus pais — Clarice, na verdade — se despedem. Ela acena para o alto quando um dos dois seguranças fecha a porta, e o helicóptero se ergue em voo. As hélices giram rapidamente, cortando o ar e gerando grandes quantidades de vento.

É manhã quando eles saem, e Renato não poderia estar mais empolgado. Conhecer a praia, finalmente. Gostaria de experienciar isso com mais pessoas além do seu grupo fechado, queria ver turistas, interagir com eles, conhecendo suas histórias e narrativas singulares. Mas a praia em que vão é definitivamente particular, já que se trata de uma ilha. E está tudo bem, também, porque ele estará na companhia de três das quatro pessoas com quem ele mais se importa.

Sobrevoam a cidade enquanto o veículo corta a fraca luz rosada do nascer do Sol, e eles apreciam a vista dos prédios, das casas. A atmosfera ali é bem úmida, aliás. Eles passam por várias nuvens, e Saturna, discretamente, tira algumas do caminho deles, tentando ao máximo evitar que qualquer acidente aconteça.

Do Seu Sol, Para a Minha LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora