Capítulo 2

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— Acho que eu devia te levar pra sair — os cabelos de Davin estão (estupidamente e lindamente, pensa Renato) bagunçados.

Oras, Towers.

— Me levar pra sair? O que é isso? Uma carta de comprometimento?

— Mais ou menos. O que você gosta de fazer?

Era brincar com a água, mas você não iria entender.

— Alimentar os porcos.

Davin gargalha, então se estica na cama, se espreguiçando. Fica por um instante estirado ali, um braço de cada lado da cama. Renato não deixa de pensar o quanto se perde naqueles olhos que agora infelizmente encaram o teto, e não ele.

— Acho melhor a gente fazer outra coisa.

Saturna assente. Pera, ele realmente quer que eu dê uma ideia? Eu sou péssimo em dar ideias, meu Deus.

— Eu realmente não tenho ideia. Você que deu a ideia de me levar pra algum lugar, gênio. Seja cavalheiro e decida por mim, por favor. Meus neurônios ainda estão em O Iluminado.

— É claro que estão — ele para, então olha para cima, pensativo. Contrai os lábios, coça a sobrancelha. O que será que está se passando naquela mente coberta por esses lindos cabelos escuros? — O que você acha de um piquenique? Sabe, sendo um cavalheiro, eu te levo no meu carro pra algum campo qualquer, na beira de uma colina com um gramado e essas coisas. Juro que até abro a porta do carro pra você.

Bobo.

— Tá bom, se você insiste tanto. Mas espero que você não tenha medo de altura, já que quer me levar pra beira de uma colina.

— Eu imaginei que você teria — responde.

— Eu? Davin, eu cresci subindo em árvore.

Eles riem, conversam mais um pouco. Combinam de Davin buscar Renato às sete, quando a noite já se mostra completa. Por incrível que pareça, Emi tem uma casa, e só Brooke acompanha Renato até a saída. Fazendo o meu papel de Emi, ela diz, não façam nada demais, por favor. Senão eu vomito, ela fala risonha. Mas como Brooke, eu só peço pra você se divertir pra caralho no seu... é seu primeiro encontro?

Encontro? MEU DEUS ISSO É UM ENCONTRO.

Brooke não deixa de rir dele e de seu desespero. O ajuda a se arrumar o melhor que pode. Coloca uma camisa de botões preta com alguns girassóis colorindo a malha, o colarinho seguindo o mesmo padrão. Usa uma calça jeans clara e, claro, como eu pude esquecer?, o cachecol. Juro que dessa vez vou tentar não perder. Também coloca um tênis branco, e a voz de sua tia sussurra imediatamente em seu ouvido: TÔ TE AVISANDO QUE VOCÊ VAI MANCHAR ESSE TÊNIS E EU VOU BATER EM VOCÊ COM UM BELO GUARDA-CHUVA QUE EU TENHO GUARDADO NO MEU ARMÁRIO. Ele sorri.

Começa a sair quando Clarice o interrompe falando do topo da escada.

— Ei, Renato — ela diz. — Seja quem for a menina, por favor, use proteção. Sua tia vai destruir a minha vida se você aparecer engravidando alguém.

Brooke ri (gargalha) enquanto ele assente e sai da casa. No curto caminho entre a porta da casa dos Myers até a porta — já aberta — do carro preto de Davin, pensa sobre isso. Deus, eu amo a minha tia, mas eu não sei se um dia vou poder contar isso à ela. Uma mulher nascida e criada na roça, longe de tecnologias, de boas notícias, de pessoas diferentes... como reagiria se descobrisse que seu sobrinho curte garotos? Além disso, ela já está velha... talvez o coração dela não aguente uma notícia dessas.

Do Seu Sol, Para a Minha LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora