Capítulo 4

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Os olhos castanhos se abrem, e a pupila dilatada volta ao tamanho convencional. Renato sente o chão duro sob ele, uma dor de cabeça apitando em seus ouvidos o incomoda. Flexiona os dedos no chão, e tenta criar forças para levantar. Não consegue.

Observa melhor o seu entorno, um cinza industrial pinta a sua vista. Sente uma força sendo exercida de todos os lados. Água. Posiciona as mãos esticadas no chão mais uma vez, e grunhe ao se erguer. Acaba de joelhos, as mechas claras de cabelo úmidas, apontando para o chão.

Ele passa a mão pelo rosto, tentando tirar qualquer resquício de sono de si. Estende os dedos, e uma quantidade de água sai do ar. Ele joga no próprio rosto. Acorda. Se levanta de vez, e cambaleia um pouco, se escorando em uma das paredes, a mão, a pequena lombada entre seu pulso e seu palmo escorada no extremo de sua testa. Sente como se um ônibus tivesse passado por cima dele. Olha para os lados mais uma vez, e nota um retângulo preto alto à sua frente. Não, não um retângulo. Uma televisão.

— Bom dia, finalmente acordou — uma imagem se acende na tela, e ele não reconhece. Mas aquela voz... Colin. — Me perdoe pela péssima hospitalidade, eu devia ter providenciado um colchãozinho para você se acomodar — dá um gole em alguma bebida numa xícara. — Quando disse que sua receitinha de café era boa, não era brincadeira. Minha escolha mais certeira foi ter te enviado pro Brasil.

Ainda sente uma dor flutuando no fundo de sua cabeça. Acima da televisão, há uma câmera. Mas ele não nota isso.

— Bem, vejo que Ana Castanha foi uma má escolha. Quanta falta de educação, Renato. Eu teria te criado melhor.

— Você batia no Davin! — Para a surpresa de Colin e para a própria, ele grita. Nunca pensou sobre o quanto odeia quem quer que tenha feito o garoto dos cabelos negros criar paredes em volta de seu coração. — Então eu só devo dizer que não, você não teria me criado melhor, Colin Towers. Cadê a minha tia?

— Oras, tenha paciência! — Mais um gole. — Eu não vou te mostrar o melhor agora.

Saturna para pra observar, e o homem está sentado em uma poltrona, o observando.

— Como o grande vilão de... como se chama? Ah, é, novela. Como o grande vilão de novela que você me vê, eu vou te contar umas coisinhas muito legais.

O garoto joga os cabelos para trás. O bloco de concreto em que ele está é iluminado por uma única lâmpada e, claro, pela televisão exageradamente grande.

— Bem, primeiramente, você é o meu filho, e não Davin — ele sorri, bebericando mais uma vez de seu café. — Acho que você já sabe disso.

Renato ignora a princípio, então olha para cima, pensativo. Não, não tinha parado para pensar nisso. Meus pais morreram e eu fui criado pela minha tia... foi isso que aconteceu.

É no mínimo engraçado como o ser humano age quando está absorvendo informações demais. Você simplesmente não absorve, por muitas das vezes, no final de tudo. E ele não absorveu aquilo. Eu sou filho de Colin, e não Davin. Eu sou filho de...

— Não. — Seu tom de voz é trêmulo. — Não!

Colin ri mais uma vez.

— Bem, não sou eu quem vai te apoiar nesse momento de choque, meu filho.

— Não ouse me chamar assim!

Não adianta o que ele fale, tudo o que ele arranca do homem são... risadas. Nada além de risadas.

— Tá bom, nossa, quanto estresse — ele estende o braço, e é possível ouvir a xícara pousando sobre uma superfície de vidro num tilintar. Engole a própria saliva num barulho estranho, então entrelaça os próprios dedos. Parece estar encarando a alma do garoto.

Do Seu Sol, Para a Minha LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora