Capítulo 1

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A noite preenche os céus, passeia pelos véus invisíveis formados pelas correntes de ar, chegando aos pulmões das pessoas ali presentes. O sentimento de surpresa, de choque, passeia por todos os cômodos daquela mansão. O café continua congelado, e Bella vai descendo mais degraus, colocando toda a sua força nos corrimões, se apoiando para não cair. Quando era apenas uma jovem inocente, se tivesse a mentalidade daquela época, teria medo de tropeçar nas próprias palavras, ter desaprendido a falar. Mas, agora, tudo o que ela quer fazer é falar, sem medo de errar.

Colin está armado, é claro. Mas sabe que com tiros simples ele não enfrentaria pessoas que controlam a água, até no ar. Um homem sai do fundo do corredor, começando a descer as escadas. Dá sua mão para a mulher de cabelos longos e escuros, que, se pudesse, os usaria na altura do ombro, como Emi. Esse penteado sempre lhe soou mais bonito.

— Como ousa me trair dessa maneira? — Senhor Towers finalmente se levanta, embasbacado, furioso. O casal, sem perceber que está de mãos dadas, encara temeroso seu arredor. Renato tenta se preparar.

O homem segue calado, ajudando Bella a descer a grande escadaria branca.

— Antes de tudo — ela levanta parte de sua camisola, para auxiliar os seus passos. — Antes de Colin, eu tinha uma vida. Eu sonhava em descer uma escadaria, como agora, mas com um marido me acompanhando. Eu sonhava em ter filhos normalmente, e ser uma poetisa. Eu amava escrever poesias — suspira.

Uma divisão está para acontecer.

— Mas tudo foi tirado de mim. Eu queria ensinar para meus filhos toda a história dos Povos Sagrados, de Koskyn, da descendência deles. Você mexeu com uma descendente legítima dos Anaskás, Colin, mas isso não é o pior — ela ainda desce lentamente. A postura do homem ao seu lado é firme. — Quando esse doce menino de cabelos brancos chegou aqui, vocês devem ter se lembrado das minhas crises de pânico se intensificando. Era originado por isso. Creio que algum efeito estranho também tenha ocorrido com você.

Sim, é claro! Eu não fazia isso desde os 12 anos... não falava meus pensamentos. Teria sido esse o efeito?

— Bastou um toque, e você foi enviado para Koskyn... e eu senti algo inexplicável. Meu poder nunca será tão grande quanto um legítimo do Povo da Água e do Frio, então, eu achei que você era isso: um Anaská verdadeiro, habitante de lá, nascido nas terras geladas e abençoado por Omêsta. Mas você me curou, mesmo inconscientemente, me cobrindo com o véu cintilante da cura. E isso não é um poder de um Anaská. O jeito que foi executado, tudo... eu percebi que você também tem o poder de uma Auna. Mas como, se você é um homem?

Finalmente, ela termina de descer as escadas. Caminha lentamente na direção das pessoas sentadas naquela grande sala de estar. Não..., pensa Colin.

— Minha avó manteve a tradição na família, e contou para a minha mãe, que contou para mim. Eu sei muito sobre o universo. Um dia, ela me contou uma lenda — ela para de andar, ainda longe deles. Outro homem se aproxima. Traidores, desgraçados! — Sobre um ser muito poderoso, tão poderoso que devia ser apenas uma lenda. Um desequilíbrio no universo, um erro. O Ser Rila.

Rila.

— Provido do amor da Mãe da Água e da Mãe da Lua, ele tem o controle da água e da magia Lunar, mas de uma maneira diferente... uma maneira única. E apenas esse ser, mesmo sem ter o contato com seu poder maior, que poderia me curar. É você, Renato. Você é Rila.

O quê?

Colin coloca a mão atrás de si, então pega a arma. Sente o cabo aquecido pelo calor e suor do mesmo corpo e, então, antes mesmo que Saturna pudesse notar a ação — muito pela situação de sentimentos conflitantes em que ele se encontra —, ele a aponta para Bella. Seus olhos castanhos — idênticos aos de Renato — veem quando ele aperta o gatilho.

Do Seu Sol, Para a Minha LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora