Capítulo 5

19 2 25
                                    

O quê? — Renato questiona. Não diria nenhuma outra coisa. Eu? Matar alguém?

— É, isso mesmo. Você nasceu com o cabelo branco, o oposto de sua mãe biológica. Engraçado, né?

Não. Não é engraçado.

— Algumas enfermeiras exclusivas morreram de hipotermia no instante em que se aproximaram daquele bebê branquelo e chorão que, olha que coincidência, era você! Foi triste, elas eram profissionais muito competentes.

Saturna arfa, então olha para as próprias mãos, em choque. Uma onda trêmula passa por seus dedos.

— Eu... eu não fiz isso. Eu não fiz isso! Tudo o que você quer é me testar, brincar com as minhas emoções! Eu nunca mataria ninguém!

— Nem aquele carinha ruivo daquela festa de halloween? — Seu tom de voz é baixo, mas é como se atropelasse qualquer palavra dita pelo garoto. — Sabe, foi bem desagradável. O menino ficou perturbado, com muito medo. Algum tempo depois, ele resolveu falar com a polícia. Você acredita? — Ele gargalha. — A polícia! O que eles iam fazer? Chamar um padre?

Seu riso irônico irrita Renato ao extremo.

— Mas, sabe, não podíamos arriscar. Ele era filho de uma dentista muito rica, mas ela não tem qualquer poder, e nem pôde fazer nada quando o filho dela — ele distancia as mãos com os dedos abertos e dobrados. Puff — sumiu. Você não ouviu isso por aí? Que desatenção.

Ele nega com a cabeça. Não para Colin, mas para si mesmo. Eu causei isso? Eu... Coloca as mãos atrás de si, sentindo o concreto. Em algum lugar distante, há água. Muito, muito concreto. Se vira para o mesmo lugar, flexionando os dedos. Venha, água, é só vir, destrua esse lugar, faça tudo ficar imerso... Mas ele não consegue. Não consegue porque está incapacitado. A culpa circula cada um de seus miolos.

— Você está debaixo do oceano, e não consegue sair daí? Que decepção, meu filho.

— Me deixe em paz! — Ele grita, e as pontas de seus dedos se congelam ao lançar várias lanças de gelo embaixo da televisão, fincando-as na parede. Ele percebe que a temperatura ali esfriou um pouco. Suspira.

— Sabe, se eu fosse você, eu não quebraria essa televisão nem nada. Haverá consequências.

De supetão, ele responde:

— Que consequências?

— Acalme-se, Renato, eu já disse, o melhor fica pro final. Caso você não saia daí antes, é claro. Estou colocando minhas expectativas em você!

Qual é a sua, Colin?

— Bem, prosseguindo. Você lembra de algum Nathaniel Patrício?

— Sim — sua resposta é quase imediata. — Era meu amigo de infância no Brasil.

— Amigo? — Abre um sorriso risonho. — Grande amigo, né? Te expôs nú quando você era só uma criancinha. Que amigo!

— Você matou a irmã caçula de Bella, seu desgraçado! — A temperatura cai mais. — Você matou a família dela, e depois... abusou dela! Você nunca poderá acusar ninguém de nada, seu estuprador nojento!

Independente das palavras afiadas do garoto, nenhuma afeta o homem. Ele tem o mesmo semblante adornado em pura ironia, como se ele fosse apenas um brinquedinho, um jogo qualquer, nada demais.

— Nossa, que irritadinho. Não consigo entender porque você está assim. Bem, voltando, você lembra o que aconteceu com o Nathaniel depois daquilo?

Saturna olha para cima, pensativo, por alguns segundos.

Do Seu Sol, Para a Minha LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora