Capítulo 8

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O evento na festa de halloween não foi esquecido nem por Renato, nem por nenhuma das pessoas que presenciaram o fato. Foi um teatro combinado, diziam alguns. Outros falam que ele devia ter feito uma hipnose sobre o valentão. O fato é que a situação foi toda errada, conturbada. Faz uma semana desde tudo isso. Ele não vai à escola, nem responde Davin desde todo esse tempo. Conseguiu que Clarice não contasse à sua tia tudo o que aconteceu. Mesmo assim, tudo o que quer fazer é voltar para casa.

Ele não sai do quarto, nem para comer. Brooke leva algumas coisas para ele, mas ele não come muito. Também faz uma semana que não usa seus poderes.

Nunca pensou em si mesmo como perigoso; sua tia nunca o indicou como perigoso. Sempre dizia para ele não se mostrar dessa maneira em público, mas porque os outros eram perigosos. Mas não ele. O problema é que eu sou.

E se não tivesse um controle extremo das habilidades naquele momento? E se colocasse um pouco mais de força sem querer? E se a cabeça do cara explodisse? Ele quer sumir, fingir que nada daquilo aconteceu. Toda a situação aconteceu porque ele não sabe conviver com qualquer nuance negativa ou pressão em cima dele. Aquele cara fodeu tudo. Não, eu fodi tudo. Era só não entrar em pânico... droga, por que você é assim?

Ele nem precisou de água para se tornar extremamente letal, e isso o assombra. Em determinado momento, recusa uma ligação de Davin. Não precisa falar com ele agora. Não quer falar. É a quinta vez na semana. Nas ligações com sua tia, ela sempre pergunta o que há, preocupada. Além dele ser péssimo mentindo ou omitindo sentimentos, ela literalmente o criou. O conhece melhor do que ninguém. Mas ele não consegue contar nada.

— Ei, Renato — Senhora Myers bate à porta. — Brooke já está indo para a escola. Tem certeza de que não está pronto para voltar? Sabe, não quero explanar ninguém, mas Emi está cada vez mais bizarra. Não que tenha mudado muito, é claro.

Ele segue calado, não tenta forçar um sorriso. Não consegue. Está muito mal consigo.

— Tá bom, durma mais um pouco. Mas, por favor, não deixe isso vencer você. Você nunca machucou ninguém. E disso eu tenho certeza, porque o que eu mais ouvi de sua tia foram as histórias de um menino corajoso que nunca hesitou em ajudar as pessoas. Você continua sendo você, apesar de tudo.

Ela ainda espera uma reação, mas ele continua na exata mesma posição, encarando a parede. Um silêncio constrangedor preenche as paredes. Ela diz, então, que vai trabalhar. Não destrua a casa, por favor. Mas se isso te fazer levantar da cama...

・*:.。. .。.:*・゜゚・*☆

Davin está agoniado. A única maneira de saber que Saturna está bem é por meio de suas amigas, mas não é suficiente. Quer entender o que aconteceu com o garoto dos cabelos brancos.

Se lembra de estar jogado no chão, uma dor aguda crescendo em seu corpo. Lembra dos pontapés parando, e de ouvir a voz de Renato, irritado. Se lembra de implorar para que ele não enfrentasse aquele cara. Jamais conseguiria derrubá-lo. Mas, então, o menino ficou cara a cara com ele, e o valentão exalou o medo de suas narinas. Não apenas medo, mas pânico. Parecia estar num transe, mas consciente ao mesmo tempo.

Renato estava estranho com ele desde o banheiro. Se recuperou de alguma coisa, então ficou estranho, ficou seco. Você mal se importava com a existência desse menino há poucos meses, por que você quer saber dele agora?

Os surtos de sua mãe também estão cada vez mais frequentes. Quando não há nenhum líquido próximo, ela retira a água do ar, e as gotículas ficam rodopiando, às vezes congeladas. Chegou a cortar o próprio ombro assim, mais de uma vez. Ele odeia ver a mãe desse jeito.

Do Seu Sol, Para a Minha LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora