Capítulo 8

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As mãos de Brooke raspam contra o asfalto coberto de neve quando ela se arrasta para trás, até que se levanta, batendo no colar com o dedo várias vezes seguidas. Olha para os lados, para a casa de trás. O que está acontecendo com as pessoas?

Dois dos três homens saem de sua vista, estão saindo da casa. Com o canivete, ela havia arrancado um pedaço de sua camiseta, enrolando no local do tiro. Sabe que devia ter esterilizado antes, mas não tinha opção. Agora, ela só conta com o colar cintilante. Os colares.

Um mafioso segura Emi pelo pescoço, e ela não entende nada do que ela fala. Só sabe que o seu colar de concha está em seu bolso. Então, vê sua amiga sorrindo depois de falar, a boca da arma colada em sua cabeça.

— Emi... — é o que ela consegue sussurrar de seus lábios, até que o homem atira, sem qualquer suspense. Miolos pairam por milésimos de segundos pelos ares, e ela cai.

Boquiaberta, ela solta um ar trêmulo. Que reação ela deve ter? Ela não sabe dizer, não sabe pensar. Até que da janela de seu quarto, o mafioso dispara. A bala reflete por um instante o cintilar do pingente sendo tocado, então ela desvia poucos centímetros, rasgando a lateral de sua roupa. Ela vê aquele homem saindo do quarto, e escuta os passos rápidos dos outros dois. Então corre.

A rua parece ser mais extensa, e menos larga. Ela corre sentindo os lábios tremerem, as lágrimas riscando o seu rosto horizontalmente, o vento invadindo a superfície de seus poros. O colar se mantém num movimento de balança, indo e voltando contra o seu peito, iluminando a jovem além das luzes dos postes e das estrelas.

Vira em outra rua, sentindo o incômodo dos cortes causados pelos vidros. Sente a garganta começando a fechar, os sentimentos tendo que ficar guardados. Porque ela não tem tempo de sentir a dor de perder duas pessoas que ela verdadeiramente ama na mesma noite. Porque ela tem dezesseis anos e tem de correr o mais rápido que puder para que possa sobreviver.

Entra em um novo quarteirão, a respiração pesada. Passa por carros, motos, mas as ruas estão vazias. Quer gritar por socorro, como ela tentou várias outras vezes, mas tem de usar toda a sua energia para a corrida. Tiros vão ágeis em sua direção, e ela apenas corre. Então, ao virar em outra rua, se vê encurralada. Dois deles apontam as armas por trás, outro pela frente.

— Tenha calma, garotinha — com cautela, eles se aproximam enquanto ela anda para trás, até acabar com as costas em duas portas. Destrancadas. Elas se abrem levemente. — Acho que você viu o que aconteceu com a sua amiga.

Sente o colar dela em seu bolso, então, abre as portas, entrando no local, independentemente do que seja. Ela se vê em um armazenamento, se estendendo por corredores de cimento longos, divididos por blocos fechados por portas de aço, prendidas por cadeados embaixo. Ela se vira para trás, fechando rapidamente as portas, trancando-a em seguida. Começa a correr pelo local escuro e vazio, as luzes se acendem automaticamente com seu movimento. As lágrimas ainda passam por sua pele, mas ela sente como se estivessem queimando, cortando, rasgando com toda a amargura.

As portas do local rapidamente recebem tiros, e os mafiosos entram. Seus passos são barulhentos naquele silêncio aterrorizante, mas ela não consegue parar de correr. Eu preciso sobreviver... eu preciso sobreviver! Ela dá de cara com uma porta avermelhada de aço, então cambaleia para trás, se escorando em outra porta. Respira, tentando com tudo lutar contra as suas emoções. Ela sabe que não pode sentir dor, pesar, luto. Coloca a mão em seu bolso de trás, erguendo o colar de Emi ao seu olhar.

— Emi, mãe — ela sussurra para si mesma. — Eu vou passar por isso tudo... por vocês.

Ela prende o colar, e os pingentes de estrela e concha tilintam no contato de um com o outro, os dois cintilando. Percebe que os homens se dividiram em algum momento, já que os passos vêm de direções diferentes. Olha para cima, as lâmpadas ativadas por movimento. Quase ri, por mais irônico que seja, quando nota que o canivete segue na sua mão desde o momento em que matou o seu pai. Morreu mesmo, né? Quem diria, minha mãe acertou, previu quase tudo. Só que não foi num bar.

Do Seu Sol, Para a Minha LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora