— Não — Brooke coloca uma trança atrás da orelha. — Eu não acredito!
Então ela ri — gargalha —, batendo palmas. Estão no carro vermelho, bebendo café. O trio está estacionado em frente ao shopping.
— Por favor, não me diga que vocês...
— Sim, Emi. A gente — ele para de falar. A graça é deixar a frase incompleta. O sentido está misturado ao fundo das letras.
Ela tira os pés do console do carro, então pega uma sacolinha marrom de papel jogado no chão do veículo, fingindo vomitar dentro dela. Ele solta um ar divertido pelo nariz.
— Então quer dizer que a única virgem do grupo é a Emi?
— Pra sua informação, Brooke, eu odeio gente. E pênis. E vaginas que não sejam a minha. Então eu estou muito confortável com a minha virgindade intacta.
Renato e Brooke riem, mas ela continua séria.
— Bem, também cortando os ânimos da pequena Myers, devo informar que eu sigo virgem e feliz. Não foi nada demais. Foram só uns beijos, aí depois o Davin abaixou minhas calças e...
— Ele não fez! — Watanabe aperta o saco. — Por favor, não me fala que ele... — ela cobre a boca com as mãos, fazendo som de vômito. — Olha, eu sinceramente acho que você pode compartilhar esses detalhes super relevantes sobre a sua vida, mas só não fala que ele... — ela faz som de ânsia mais uma vez.
— E ainda beijei ele depois — Davin surge na janela de Emi. Brooke ri, Renato cora. — E tem algo pior, Emi — ele abre a porta de trás, então se senta ao lado de Saturna. Coloca o braço em volta dele. — Agora nós estamos oficialmente namorando — dá um selinho na bochecha avermelhada do parceiro. Parceiro.
Passando as mãos pelo rosto, Watanabe não faz nada senão dizer para Brooke acelerar o carro antes que ela vomitasse em todos, pegasse a direção e jogasse todo mundo de um precipício. Davin mantém seu braço envolvido em Renato o tempo todo, que deita cabeça nele. No meu namorado. Caralho, tenho que me acostumar com isso.
Passeiam um pouco pela cidade; passam por algumas lojas de conveniência, até na frente de um parque de diversões. Vamos aqui um dia, diz Davin. Em determinado momento, Renato liga para a tia. É isso que vem acontecendo: é ele que liga para ela na maioria dos dias, e não o contrário. Sempre a atualiza das novidades — menos da maior —, e sempre reforça as saudades. É fato que sente falta de ser acordado todos os dias por ela, com os pães e o café servidos na mesa. Sente falta da tia Ana. Muita.
Em algum momento, quando chegam à casa dos Myers, Davin pega o aparelho telefônico enquanto ri de algo que Brooke falou sobre terem começado a namorar logo no primeiro encontro. E transaram, enfatiza Emi. A expressão no rosto de Towers muda totalmente quando ele encosta o telefone em sua orelha. Confirma algo, então olha para o lado. Um carro escuro ladeia o de Brooke lentamente. O par de olhos azuis piscam fortemente.
— É, gente, não vou mais poder acompanhá-los por hoje — ele abre a porta, então se aproxima para dar um beijo na cabeça de Renato. Olha pela janela, o carro preto criando mais presença, então recua. Os extremos da boca do brasileiro recuam levemente para baixo.
— Deu ruim com o seu pai? — Os olhos de Saturna brilham. Estão levemente umedecidos.
— É — ele sai do veículo, então bate a porta. Anda com as mãos nos bolsos até o carro preto, até entrar no banco do passageiro. Droga, Davin.
Brooke olha para o amigo com pesar, as mãos sobre o próprio colo. Emi faz o mesmo.
— Olha, eu sei que o clima ficou chato — Watanabe, é claro. — Mas ele bateu a porta meio forte e você não falou nada sobre ter geladeira em casa...
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Do Seu Sol, Para a Minha Lua
RomanceRenato Saturna, um jovem brasileiro pouco convencional, é mandado para um intercâmbio nos Estados Unidos. Desde que nasceu tem os cabelos brancos, mas nada tão diferente como o seu segredo: ele pode manipular a água. O jovem leva todo o seu entusias...