Capítulo 4

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Fodeu, é tudo o que Saturna pensa. O copo ainda está lá, o líquido congelado. Três rostos esboçam choque: o de Brooke, o de Renato e, principalmente, o de Davin. Os olhos cor de Larimar parecem menores dentro das pálpebras. Todos estão chocados, com exceção de Emi.

— Ah, não — ela olha para as feições de todos, então termina de descer aqueles três degraus que ela ainda não havia descido. — É sério que você não sabia que o cara é a Frozen? — Ela contorna o rapaz alto, então vai ao balcão, enchendo um dos copos.

— Pera, você sabia? — Brooke Questiona.

— Tinha como não saber? Depois daquela treta toda de Halloween ficou meio óbvio. Além do mais, você ficou duas horas chorando no meu ouvido falando que "o Renato tá traumatizado demais pra simplesmente curar o meu nariz" — ela vira todo o refrigerante. Solta um suspiro refrescante. — Você não devia mais beber, Brooke. Eu também já vi ele servindo suco com a mente, então acho que dava pra dar uma desconfiada. Ah, e o copo do Renato tá sempre gelado. É só assistir um pouco de Disney, ligar uma coisa à outra...

Ele não consegue se importar. Em outro momento daria a mínima para o fato de Emi saber, mas não, agora não dá. Tudo o que vê é o rosto de Davin. Ele está chocado demais, assustado. Por mais bizarra (anormal; sobrenatural) que seja a situação, sua reação parece... exagerada. Como se aquilo fosse um absurdo — mas é um absurdo. Mesmo assim, soa diferente de como ele reagiria. Pelo que Renato conhece dele.

Towers, então, fica irritado. Renato estranha quando suas sobrancelhas param de se arquear para cima e vão para baixo, apontando para o começo de seu nariz. Ele não diz nada, apenas suspira, olhando nos olhos do menino dos cabelos cor-de-neve. Um olhar penetrante, mas não como ele costumava olhar. É... assustador. Então, ele sai da escada, passos longos, pesados e decididos. Saturna o vê colocando sua mão sobre a maçaneta, então girando. Ele sai da casa, e a porta é fechada com força.

Ele vê a visão embaçando aos poucos com os olhos marejados. Uma bolha de lágrimas que imita o formato de seu globo ocular, mas age como uma segunda pele ali. Pisca, e gotas salgadas caem, deslizando sobre a sua pele. Ele vê, através da janela, o carro preto dos seguranças de Davin se aproximar do rapaz, e, assim, ele entra no veículo, que se afasta rapidamente.

As meninas olham para o automóvel, então olham para o amigo. O celular dele vibra em seu bolso. Ele pega o aparelho.

Meu Babaca Favorito: não me procure mais

— Renato...

Um floco de neve surge ao lado de sua cabeça, cai ao chão lentamente. Então mais fractais congelados aparecem, tudo naquele instante. Outra lágrima escorre. Mais uma. Brooke olha para fora de casa, olha para Emi, que a encara de volta. Um ano atrás, quando descobriu que um intercambista ficaria em sua casa, e quando sua mãe lhe contou tudo sobre ele, algo lhe foi dito.

"Pode parecer que ele só gela sucos e serve água com estilo, filha, mas não é só isso. Quando ele era criança, a Ana me contou, ele sofria bullying. Nunca se importou com os comentários, pois tinha o melhor amigo dele. Só que, um dia, a sala inteira decidiu pregar uma peça nele.

"Imprimiram uma foto dele tomando banho que algum babaquinha qualquer tirou, então colaram na porta da sala. Ele ficou abalado com aquilo, mas não tanto. Era uma criança, não pensou que a vida dele tinha acabado nem nada do tipo. Até que descobriu que foi o melhor amigo dele que tirou a foto e entregou para as pessoas da sala.

"Esse menino também estava rindo dele. Então o Renato saiu correndo, chorando mais do que nunca. Até que Nathaniel, o menino que tirou a foto, se aproximou dele, ainda com um sorriso no rosto. Disse 'calma, não foi nada demais, vê se cresce'. A Ana ainda estava na porta da escola, voltando pra casa depois de levar o menino, quase indo embora. Então ela viu a cena. Viu o surto do Renato.

Do Seu Sol, Para a Minha LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora