Então, finalmente é natal. Renato ficou levemente chocado quando descobriu que a família não se juntará no dia 24 de Dezembro, como em seu país, mas que acordará na manhã do dia natalino oficial e abrirá os presentes com sua irmã de consideração.
Conversando com Davin, descobre que há um almoço com a família nesse dia, parentes distantes vindo em sua casa e tudo mais. Mas é engraçado como os Myers não têm contato com o resto da família, e os Watanabe se reúnem com os mesmos para que haja uma refeição decente com muitas pessoas.
Os raios de luz atravessam o transparente do vidro da janela, perfurando o escuro das pálpebras do rapaz. Ele pisca os cílios brancos, então se ergue na cama, ficando sentado. Olha a neve caindo, as pessoas na frente da porta de suas casas. Os enfeites de natal decoram as moradias, alguns quintais com alces reluzentes e os piscas-piscas envolvendo batentes e partes dos telhados.
Quando sai do quarto, Brooke abre a porta também. Ainda usa sua toca clássica de cetim. O sono no rosto do garoto é claramente notável, já que qualquer mínima expressão e traço em seu rosto pálido se torna algo muito mais notável. Está descabelado, obviamente.
— Geralmente são crianças que vão assim, de manhãzinha, abrir os presentes — informa Brooke. — Mas eu tenho muita ansiedade pra esperar isso.
— Eu também — ele sorri, então descem as escadas.
O pinheiro falso é iluminado por linhas que envolvem as folhas plásticas, cintilando nas mais diversas cores. Esferas pendem das pontas, e uma estrela dourada está no topo. Myers se lembra de quando sua mãe a erguia no alto, e ela mesma colocava aquele objeto de cinco pontas no topo da árvore. Bons tempos.
A Sra. Myers já está lá, bebericando seu chá enquanto os observa sentada na cozinha, uma perna sobrepondo a outra. É uma mulher de muita classe, de fato. Os jovens se abaixam sob a árvore natalina e encaram os presentes.
— Anda, não sejam tímidos — encoraja a mulher. — Abram logo, seus nomes estão nos embrulhos. Daqui a pouco os Watanabe chegam.
Brooke coloca uma mecha de cabelo para trás da orelha, então pega um embrulho amarelo. Claro que é amarelo. Então entrega para o amigo. Empolgado, ele o desembrulha. Um porta-retrato com a foto deles no parque de diversões — uma foto tirada por ela em segredo. Adivinhe a cor das bordas. Para alguns, um presente desses seria horrível, mas se há uma coisa que o garoto aprendeu com a tia é que memórias felizes não podem ser compradas.
Ele lhe dá um abraço, sorridente. Então se abaixa e pega o embrulho lilás, que aparenta envolver alguma pequena caixa, menor que a palma da sua mão. Brooke o pega e abre o presente com delicadeza. A caixa é um pequeno retângulo feito de casca de madeira. Ela a abre, então tira um cordão com um pingente cristalino — gelo, na verdade.
— Não sabia bem o que dar, então preparei a mesma coisa pra vocês. O seu pingente tem o formato de uma estrela, o da Emi de uma concha e o do Davin de um Sol. Esse gelo aí não derrete, pode ter certeza — ele sorri, então ela o coloca em seu pescoço. — Deve dar alguma sorte, e você vai se lembrar de mim, ao menos.
Com a ponta do dedo, ela dá um toque no gelo estrelado. Ele reluz. É claro que teria alguma coisa assim. Então, se abaixam mais uma vez para abrir os presentes de Clarice. Para Brooke, um celular novo. Para Renato, um relógio digital. Pra você não se perder no horário, como sempre.
Os Watanabe chegam: Emi sem qualquer traço da classe dos pais, naturalmente. Sua mãe com uma expressão séria, como sempre, assim como o seu pai. Seu irmão mais novo puxa sua meia longa e listrada enquanto anda ao seu lado.
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Do Seu Sol, Para a Minha Lua
RomanceRenato Saturna, um jovem brasileiro pouco convencional, é mandado para um intercâmbio nos Estados Unidos. Desde que nasceu tem os cabelos brancos, mas nada tão diferente como o seu segredo: ele pode manipular a água. O jovem leva todo o seu entusias...