— Isso mesmo, Davin, o menino me lembrou muito de você.
Ele estreita o olhar.
— Justamente o babaca? Incrível. Mas, e aí, o que você fez?
— Quase deitei ele na porrada.
Towers gargalha, jogando a cabeça para trás. Deus, que saudade que eu tava disso.
— E aquelas bruxas? O que falaram?
Pisca pensativo por um instante.
— É... não são bruxas, são Aunas. Acho que é isso. Ah, e elas vivem na Lua. Nas Luas, na verdade, alguma coisa do tipo. A gente nunca viu elas porque tem algum feitiço muito poderoso lá que protege elas. Elas também voam e tem umas cores muito estranhas que saem delas. É bizarro, mas é legal.
Eles riem, e ele dá graças a Deus por Davin ter se esquecido da pergunta. Ele não precisa disso agora.
Já há alguns presentes sob a árvore de natal dos Myers. A neve segue caindo dos céus e preenchendo ruas e espaços com sua beleza clara. É um pequeno momento, mas é feliz, de fato.
— Te vejo amanhã — diz ele de mãos dadas com Renato, dando-lhe um rápido beijo nos lábios. Ele sai pela porta, e seus passos deixam pegadas grandes na neve que cobre o chão. Ele abre a porta do carro, entrando lá. Quando a fecha e abaixa o vidro, olha para os olhos castanhos. — Eu te amo.
A espinha se arrepia, e pequenos cabelos brancos se espetam. Então Saturna sorri, e fecha a porta sem falar nada qualquer coisa.
Prepara um café rapidamente. Brooke está no shopping com Emi, fazendo compras de natal. A casa parece vazia.
Se senta no acolchoado do sofá, soprando a bebida quente que reverbera dentro da xícara. Antes as coisas pareciam se encaixar, mas agora ele tem certeza. Não entende porque nem como a Sra. Towers o enviou para outro planeta, talvez eu consiga fazer isso. Mas ele tem uma certa noção do que está acontecendo. Teve visões o bastante em sua vida para saber que uma simples aparição telepática em um planeta não causa um desequilíbrio tão grande quanto quase quebrar o feitiço ilusório sobre a Lua parece. A verdade é que ele é, e sempre será um desequilíbrio na balança da normalidade. Porque eu sou um erro.
・*:.。. .。.:*・゜゚・*☆
Brooke manda uma mensagem no grupo, dizendo que deveriam dar uma passadinha no shopping, os quatro, pela última vez antes do natal. Pela última vez. Ninguém fala muito sobre isso, mas os três sabem que Renato partirá logo. Isso é doloroso, ainda mais para Davin. Mas todos sabem que ele pegaria um jatinho por dia só para vê-lo.
Ele gosta do que está vivendo agora, como nunca gostou de qualquer outro momento. Mas sente muita falta da tia, da fazenda, de tudo. Sente falta da rotina, de brincar no lago, pescar — mesmo que sozinho depois que seu primo foi fazer faculdade e se mudou — e colocar os peixes lá de novo. O café da tia Ana... nada é melhor que o café da tia Ana. É um conflito, de fato. Qual vida ele gosta mais de viver.
Se arruma com uma moletom lilás que Towers lhe deu de presente, que tem um pequeno sol sorridente no meio — você tem que parar de me presentear assim também —, uma calça de moletom escura e seus tênis brancos. Se olhando no espelho, joga o cabelo para trás com um movimento simples de mão. Se recorda de quando esteve no shopping há um tempo, e Davin apareceu atrás dele. Eu poderia ter sido muito mais legal nesse dia. Rancor pela bola de queimada? Não combina comigo, não sei o que deu em mim.
O Sol bate contra o seu rosto quando ele abre a porta, e seu olhar, mais uma vez, reluz. Ainda sorrindo, ele vê Davin chegar com seu carro, estacionando logo à frente da casa. Brooke passa na porta pelo lado dele, então tem uma rápida lembrança.
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Do Seu Sol, Para a Minha Lua
RomanceRenato Saturna, um jovem brasileiro pouco convencional, é mandado para um intercâmbio nos Estados Unidos. Desde que nasceu tem os cabelos brancos, mas nada tão diferente como o seu segredo: ele pode manipular a água. O jovem leva todo o seu entusias...