Capítulo 6

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A neve cobre o chão com uma camada clara e espessa, e Renato é o primeiro a se levantar. Na realidade, Davin já estava acordado fazia um tempo, enquanto seu namorado babava em seu peito, olhava para a janela, pensando ele vai ficar tão feliz quando acordar.

E assim acontece. Ele sai da cama num pulo, pisando no tornozelo de Towers, e desce as escadas rapidamente. Uma família passeia com um cachorro e uma menininha, todos vestidos à caráter. Ele sente um floco de neve cair sobre o seu ombro, então grita.

— Neve! Tá nevando!

Brooke é acordada e, ainda com sua touca de cetim, resmunga algo pela janela, coisa que ele não entende. Está muito eufórico para entender.

Cinco minutos depois, Davin sai da casa usando sua jaqueta de couro — é o que tinha pra ele usar, já que com certeza rasgaria até o maior dos casacos do parceiro. Segura um moletom e o cachecol amarelo quando assusta Renato ao pousar a mão sobre o seu ombro.

— Ei, acho melhor você colocar isso — ele estende os objetos em suas mãos. — As pessoas vão achar completamente estranho você estar tranquilo assim com uma camisetinha de mangas curtas.

Sorrindo, ele pega as coisas, colocando o moletom claro primeiro e depois o cachecol. Olha para todos os lados, pronto para encostar os dedos na neve do chão, até que para. Eu só vou fazer isso com a Brooke.

Dito e feito, quando ela aparece, ele afunda a mão completamente na neve, sentindo cada floco naquela imensidão branca que preenche toda a rua. No momento que ele faz isso, inúmeras informações passam por sua cabeça, e algo muda completamente a sua perspectiva. Olha para os lados para ter certeza que ninguém está vendo, e vê Emi saindo de uma casa no fim da rua — ah, então ela mora ali. É por isso que só vive aqui nos Myers —, andando lentamente na direção deles, trajando um gorro de tricô extremamente feio.

— Gente, olha — ele pega uma pitada dos flocos brancos no chão, então os estende sobre a palma da mão. Olha para os lados mais uma vez para ter certeza. — Agora eu sei fazer isso — a neve vai para o estado líquido, flutuando como uma gota sobre sua mão, então volta a ser como era antes.

— Então você sabe fazer neve agora? — Questiona Davin.

— Sim, idiota, ele acabou de fazer isso — Emi está com as mãos nos bolsos de seu casaco de lã (que mais parece um roupão de tão longo).

— É... e é bem simples. É simplesmente menos bruto que o gelo. Só colocar menos energia, que automaticamente vira isso aqui — ele aponta para a própria mão.

Eles decidem, eventualmente, irem para a mansão dos Towers. É um espaço grande, tem algumas quadras, tem sauna... vai ser legal. Ah, e meu pai não está lá hoje. Minha mãe... não vai incomodar ninguém, fiquem tranquilos. E como está nevando, os únicos funcionários são os seguranças que ficam no portão da frente. Haverá total liberdade. Essa última palavra é quase música para os ouvidos deles.

Clarice permite a ida deles sem suspense — o que há com ela recentemente? — e logo entram no carro de Brooke, que, segundo ela, não atola na neve de jeito nenhum. Saturna não deixa que eles atolem de qualquer jeito.

Davin dirige, e Brooke fica no passageiro, como sempre. Lá atrás, encarando a queda da neve, ele faz desenhos no chão — à distância, é claro. Faz alguns bonequinhos de palito, uma coxinha, faz até um sol, até que sente algo encostando na ponta de seu joelho. Towers está com a mão estendida para trás, e ele sorri. Coloca a mão sobre a dele, imaginando ser essa a intenção.

Então seu sorriso some. Pensa na tia Ana, lá na fazenda, a primeira das linhas nas nuvens de suas torres. Pensa que sua tia ficaria muito feliz se soubesse que ele está em um relacionamento. O problema é com quem ele namora. Não, quer saber? Vou ligar para ela agora, e vou dizer que estou namorando. Sim. Mas vou esperar chegar em casa para contar... casa... meu Deus, daqui a pouco eu vou embora porque vou voltar pra...

Do Seu Sol, Para a Minha LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora