Capítulo 6

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Renato e Davin estão na aula de Literatura. No fim dela, na verdade. Estão discutindo O Iluminado.

— Eu fiquei bem surpreso com o final — diz um menino. — Digo, só o antagonista morreu. Estava esperando ele decapitar o filho dele ou algo assim.

Renato o encara espantado; Davin se entretém com a sua expressão.

— Bem, eu estou feliz com isso — prossegue Towers. — Houve muita batalha pela sobrevivência.

E assim, se encerra a discussão. A última coisa que devem fazer é dizer qual lição tiraram do livro.

— Se divorciar do marido alcoólatra instantaneamente — diz uma garota.

— Lugares podem ter histórias pesadas — fala outra menina.

— Não ser zelador de um hotel isolado do mundo e do universo no meio de uma tempestade de neve — Davin indaga.

O professor quase revira os olhos. Renato engole a saliva.

— O que o alcoolismo pode fazer com uma pessoa.

Ele vê todas as cabeças se virarem em sua direção. O professor, então, decide falar. Finalmente alguém que leu o livro direito. Renato sorri para Davin, zombando dele. Xeque-Mate.

Quando anoitece, Renato está na cozinha dos Myers bebendo refrigerante. O pijama colorido acompanha suas pantufas que simulam dois porcos. Brooke está passando manteiga em seu sanduíche, e Emi já está comendo o seu. Os três vão dormir na sala, assistindo qualquer coisa. Um dos celulares toca.

Brooke o pega, então expressa dúvida.

— Renato, quem diabos é "Babaca que me salvou de um..."

Ela para por um instante. Ah.

Emi gargalha, então morde o sanduíche. Renato pega o aparelho e atende a ligação.

— Baixinho — a voz é metálica. Deve estar com um sinal ruim de internet —, preciso de ajuda.

Renato apoia o celular no ombro e o encosta na orelha enquanto pega os pães de forma e os abre como um livro sobre a mesa.

— Primeiro, pare de me chamar assim, senão vou te dar um tiro. Segundo, pra quê?

Ele prossegue.

— Estou sozinho em casa e quero beber um café, mas eu não sei fazer. Fiquei sabendo que brasileiros têm um talento admirável pra isso, então me explica aí, por favor.

O jovem sorri, então troca o celular para o outro ombro. Passa maionese nos pães.

— Olha, isso é um estereótipo. Mas eu não posso negar o meu talento para preparar isso. Eu sou de Minas Gerais, o estado do café. Enfim, é bem simples. Você vai ferver um pouco de água. Se você quiser, já joga açúcar na água. Mas colocar depois dá o mesmo resultado. Quando ferver, você vai desligar o fogo. Nisso, você tem que ter colocado o filtro de pano ou papel no coador, que tem que estar em cima da garrafa térmica. Você joga o pó do café no filtro, depois joga a água. Toma cuidado com as medidas, se ficar muito aguado ou algo assim você vai me desonrar.

Nesse meio tempo, Davin anotou cada instrução. Renato já estava mordendo o sanduíche de mortadela. Towers agradece, dizendo que foi por isso que lhe comprou um livro importado.

— Meu Deus, foi você? — Renato diz como se não fosse óbvio. É porque não é pro seu raciocínio consideravelmente lento. — Tá bom, você tem que parar de me presentear também. Você está recebendo outra ameaça de tiro, Davin Towers.

Do Seu Sol, Para a Minha LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora