Mais homens surgem de todos os cantos da casa, e, desviando de alguns disparos, Bella Ricci corre para a sala. Colin se distancia como pode, e os meninos se erguem. Os três encaram os canos das armas, as miras, as munições prestes a serem gastas. O Senhor Towers, que conseguiu se distanciar apenas pelo pânico causado, se coloca atrás de alguns homens. As costas dos três se colam, e eles escutam as respirações que os ladeiam. Davin entrelaça os dedos nos do garoto ao seu lado, que sequer aparece se visto atrás dele. Então, sente a mão fria de sua mãe. A voz do homem é clara.
— É uma pena isso, querida. Deu pra ver que você se empenhou, mas foi tudo tão rapidamente embora — ele indica os corpos estirados, as poças escuras e vermelhas se formando no chão branco. Davin olha para o mordomo. Pisca os olhos. — Eu planejei isso por quase vinte anos, você sabe. Qual é a idade dos dois? 16. Foram 17 anos, então, jogados no lixo.
Brooke, é o que Renato pensa. Poderia tentar atacar todos ali, mas é muito arriscado. Emi...
— Eu queria fazer muito mais com você, Renato, você sabe. Eu te testei como eu pude. Mandei uns caras lá pra sua fazendinha, e você foi muito bem, pra uma criança.
Ele sente a mulher engolir a saliva em seco. Quando um dos caras sumiu e o gelo dele se descongelou do nada... não...
— Mas eu não sei o que aconteceu, você fez isso com a minha esposa... — ela tá acabada... — e, agora, deu no que deu. É uma pena isso, eu estou realmente decepcionado. Eu tinha planos grandiosos. Mas, agora, vou ser obrigado a matar cada um.
E, a cada nome falado, o brasileiro tem uma imagem espelhada de suas lembranças para o presente de seus pensamentos.
— Você, minha querida;
Ele se lembra dela parada, paralisada em sua cama, o desespero dentro de si. Quando Towers — não o mafioso — lhe contou das coisas que lhe foram ditas quando ele era apenas uma criança. Ela era sorridente, feliz. Tudo antes de mim. Seus pensamentos giram em um ralo mental. Não antes de você, meu amor, antes de seu pai. Antes dele, ela era feliz. Que frase pesada.
— essa escória que fui obrigado a chamar de filho só por uma porra de um disfarce;
Vê tudo de mais maravilhoso. Seu sorriso de lado, a profundidade de seus olhos, seu cabelo bagunçado nas ligações de madrugada... seus batimentos, rápidos ou calmos, ou quando estão apenas no ritmo certo, em paz. Os pequenos detalhes que o fizeram se apaixonar.
— você, Renato; suas amigas;
Os três indo à escola, usando macacões de unicórnio enquanto assistiam filmes brasileiros de comédia; Emi e seu humor peculiar, Brooke e sua doçura parcialmente agressiva, às vezes. Seus sorrisos com as piadas dele.
— e quem mais for preciso.
Os tiros, vindos de toda direção, estão prestes a ser disparados. Então ele sente os dedos gelados tocarem a palma de sua mão. Arregala os olhos. Essa mulher passou por muito, então teve uma ponta de esperança, o declive do ponteiro do relógio que marcava o aumento gradativo de sua dor. Ela passou por muito. Pensa nas letras embaralhadas.
— Ah, como eu pude esquecer? Aquela velha da sua fazendinha.
Tia Ana. Pensa em suas mensagens secas, respostas estranhas, quando repentinamente, ela parou de fazer as ligações. As mensagens estranhas... não... NÃO!
A descoberta de ser um tolo perante uma situação que só exigia de você um pouco de raciocínio lógico é, de fato, chocante. "Vou alimentar as vacas para que dêem o melhor dos leites". Um pedido de socorro. Um que ele não notou, não a tempo. Pensa mais uma vez na mensagem, transmitida para ele por um sonho. Transmitida pelo próprio universo. Sente as duas mãos o segurando, procurando conforto, de alguma maneira, nele. No ingênuo menino dos cabelos brancos. A mensagem. Não.
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Do Seu Sol, Para a Minha Lua
RomanceRenato Saturna, um jovem brasileiro pouco convencional, é mandado para um intercâmbio nos Estados Unidos. Desde que nasceu tem os cabelos brancos, mas nada tão diferente como o seu segredo: ele pode manipular a água. O jovem leva todo o seu entusias...