Capítulo 8 - Infiltrado no conselho de guerra

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Não sei voar e jamais pensei que fosse aprender. Nunca me iludi com isso, então enquanto as lendas sobre o Dragão crescem por aí me mantenho bastante lúcido do homem que sou por detrás da máscara, ciente de que a crença de uma nação não me fará ganhar asas ou desenvolver qualquer tipo de magia ou poder. Não. O único poder real reside do outro lado destas paredes que eu agora estou escalando.

Quase perdi a reunião do conselho de guerra imperial com minhas aventuras. Faz três dias desde que encontrei a jovem e corajosa donzela do Mercado Norte e não faço ideia do que houve com ela, mas não consigo esquecê-la. A esta altura jurava que ela seria apenas uma memória sumindo aos poucos entre meus afazeres, mas não. Ela permanece viva e linda em meus sonhos. Uma jovem corajosa, ciente dos erros de seus governantes e com o olhar doce e gentil para os que vivem com dificuldade, até mesmo daqueles do outro lado da Muralha. A rapidez com que ela conseguiu me entender foi um acalento surpreendente, tão acostumado estou a ouvir constantes ataques ao povo da Montanha, sem dar a chance de explicar que são meras pessoas e não inimigos com sete cabeças e presas afiadas prontos para comer as crianças nos berços. Agora não consigo me livrar dela, talvez nem queira. Guardo no fundo da memória e dentro do coração a esperança de que um dia, de alguma forma, o destino providenciará um reencontro, tão surpreendente e inesperado como nosso primeiro encontro.

Por ora me contento em saber que a ajudei da forma que podia. As vezes me pergunto se ela conseguiu chegar sã e salva a seu vilarejo, se vendeu a joia e se conseguirá manter sua mãe por algum tempo, enquanto o príncipe não se move para fazer algo. Bem, mas sejamos sinceros: Ele não conseguirá de fato fazer nada. É um inútil.

Perdido em pensamentos, escorrego do beiral estreito em que estou me equilibrando e se não fosse pela árvore milenar ao lado da janela, eu agora teria de fato voado brevemente ao encontro de minha morte no chão de mármore do pátio interno do palácio imperial.

Agarro-me à casca áspera da árvore, respirando descompassadamente até me estabilizar, então retomo a cuidadosa caminhada até estar empoleirado ao lado de uma das estátuas de fênix que enfeitam todas as janelas do palácio. A escuridão é meu manto, a sorte minha companheira e espero que me bastem, pois estou bem exposto aqui.

No pátio fileiras e mais fileiras de soldados marcham de um lado para o outro sob o olhar de seus superiores, que não consigo reconhecer a esta distância, mas que não se importariam em me assassinar se eu caísse daqui de cima. Também não se importariam em subir até aqui para me pegar, tenho certeza.

Fecho os olhos, acalmando a respiração, tentando me convencer de que nada irá acontecer. Quero ouvir o que irá acontecer nesta reunião clandestina.

Chamo de clandestina porque a reunião oficial do conselho de guerra está marcada para a manhã seguinte, estou monitorando a data com afinco, afinal muito me interessa o pronunciamento do príncipe — sua capacidade de sucesso ou falha é o que me fará decidir se ele irá viver para se tornar o imperador ou se morrerá, afinal — mas os generais resolveram fazer uma reunião própria enquanto o quarto do príncipe continua fechado. Daqui de onde estou consigo ver a torre em que o quarto dele fica. A janela está aberta e uma luz suave escapa de lá. Ele claramente não foi convidado para esta reunião.

Aqui de fora, ao lado da sala de reuniões, consigo ouvir o som abafado e murmurado das conversas, mas ainda não consigo distinguir as palavras, então deduzo que a reunião não começou oficialmente, caso contrário os humores estariam mais elevados.

De repente cadeiras se arrastam. Ouço a voz arrastada do Regente e sou obrigado a me conter, caso contrário vou pular janela à dentro e mata-lo com a força de minhas mãos... E derrubarei o império em caos.

Qingshan e o imperadorOnde histórias criam vida. Descubra agora