Capítulo 6 - A joia de jade

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A noite caiu mais rápido do que imaginei. Ainda estou me amaldiçoando quando finalmente nos afastamos da Muralha, pisando na estrada imperial. Eu não deveria estar cavalgando na estrada como um alvo ambulante, mas estou contando com a escuridão como aliada. Sei que o movimento por estes lados a noite não é tão intenso e o único regimento que monitorei nos últimos dias foi o que assaltei ontem e que já deve ter chegado a outro forte, portanto, não existe motivo para estarem na estrada a essa hora.

Exceto caso algum acidente horrível tenha acontecido como o príncipe ter desaparecido ou algo do tipo.

Engulo em seco tentando me convencer que caso qualquer coisa tivesse dado errado eu já teria descoberto a essa altura, mesmo tendo me atrasado para deixar a Montanha. As sentinelas estavam sossegadas na Muralha jogando cartas. Alguns soldados estavam cochilando ao cair do sol. As estradas estavam tranquilas. Se o alarme tivesse soado no palácio com certeza haveria soldados galopando loucamente em cada um dos cantos do império.

Me forcei a relaxar na sela. Tanto meu cavalo quanto eu estamos cansados depois de um longo dia de galope intenso. Minha cabeça gira depois da bebedeira com Nianzu e de ter comido muito pouco ao longo do dia. Eu preciso parar, comer alguma coisa e descansar, mas antes preciso estar seguro. Eu não devia ter me rendido ao convite de Nianzu ou ao seu brinde inocente comemorando meu retorno. Aperto os olhos como se assim pudesse espantar a zonzeira e meus olhos captam pontinhos luminosos se aproximando pela estrada.

— Qingshan! — vozes gritam na escuridão, se aproximando. — Qingshan, cadê você?

Penso em vagalumes, depois franzo a testa incomodado com a luminosidade cada vez mais forte. Talvez eu tenha cochilado em cima da sela, só sei que de repente as luzes são lanternas e tochas e estão sobre mim. A mesma luz que ilumina minha máscara também ilumina os uniformes do regimento. Soldados. Não quaisquer soldados, os mesmos que assaltei ontem. Que diabos, estão fazendo aqui?!

— É o Dragão! — grita um deles.

Não tenho tempo para processar o que saiu errado em meu plano, só sei que se permanecer mais um segundo aqui serei capturado. Esporeio meu cavalo, fugindo do alcance das lanternas e me embrenhando na escuridão, mas posso ouvir seus cavalos me perseguindo.

Não sei se teremos fôlego para continuar. Meu cavalo resfolega cansado e minha cabeça gira. Preciso parar.

À alguns metros vejo luzes e reconheço o Mercado Norte. Não é o melhor dos lugares, mas certamente vai servir de cobertura, ainda mais com tanta gente perambulando de um lado para o outro. Adentro o Mercado pelo outro extremo, contando que os soldados serão barrados pela multidão. Deixo meu cavalo em um estábulo público, com água e feno a vontade. Passo pelo chiqueiro de uma vendedora de porcos, me escondendo com minha capa cujo capuz puxo até cobrir meu rosto mascarado.

Outra vantagem para mim: O Mercado Norte adora as fábulas sobre o Dragão, de forma que em cada barraca existe uma boa quantidade de máscaras sendo vendidas. Nenhuma é exatamente igual a minha, muito menos feita de ouro, mas é o suficiente para me camuflar.

Misturo-me rapidamente entre a multidão ao mesmo tempo em que os soldados começam a intimidar as pessoas. Adentro a primeira casa que aparece a minha frente. É o refúgio de uma Mama, uma casa de mulheres.

— Preciso de um quarto. — Anuncio para a Mama que parece curiosa com o alvoroço lá fora. Para chamar a atenção dela deposito um punhado de moedas, muito mais do que o melhor de seus clientes pagaria em uma noite comum. O artifício funciona, pois ela rapidamente esquece a bagunça e passa a me dar total atenção.

— Do que você gostaria, meu querido? — ela pergunta com voz que intenciona ser melosa, mas devido ao fumo sai rouca e desafinada. Ela pigarreia. — Tenho uma moça fresquinha que chegou hoje...

Qingshan e o imperadorOnde histórias criam vida. Descubra agora