Qingshan e o imperador

Capítulo 13 - O aniversário do príncipe

Meus dias têm mais um segredo e uma nova emoção floresce cada vez mais forte. Inesperadamente agora me sinto como um guerreiro de verdade. Enquanto espero o sol se pôr para a noite estender seu manto, conto os minutos até a chegada do Dragão. Conto estrelas enquanto repasso os movimentos que ele me ensinou, visualizo nossa próxima luta de espadas enquanto ouço sua voz zombeteira.

Nós treinamos três vezes por semana, em dias alternados. Nunca sei exatamente quando ele virá, mas já aprendi que existe um intervalo de alguns dias entre uma aparição e outra. Quando ele vem atravessa a Muralha e fica nas Montanhas, só voltando ao anoitecer. Ele me mostrou a passagem secreta aos pés da Muralha, um túnel cheio de pedras e pontas de madeira de antigos andaimes. A porta é estreita, escondida entre a vegetação e ao lado da torre de vigia, mas nenhum superior jamais nos contou que essas passagens emergenciais existiam. São várias e apenas uma, aquela que atravessamos para construir a barragem, está devidamente exposta, as demais estão todas escondidas e inativadas, mas ele as conhece e tem uma chave grande e velha que abre qualquer uma delas.

— Eu nem sei porque estou te contanto isso... — ele suspirou certa vez, enquanto andávamos juntos através de uma dessas passagens, sob a luz de uma vela.

— Fez isso porque confia em mim — eu respondi, talvez eufórica demais para disfarçar. Nunca ninguém tinha me mostrado um segredo tão importante. Não havia nada que Ru Shi pudesse me dizer que fosse tão perigoso e igualmente empolgante no vilarejo. — E porque estou te ajudando a alimentar seu povo — acrescentei, apontando com o queixo para meus braços carregados de sacos de batatas.

Naquela noite o Dragão tinha aparecido com uma carroça cheia de sacas. Eu tinha questionado se ele roubara aquilo tudo, mas ele garantira que não e, de fato, alguém como ele não sobreviveria muito tempo sem ser pego se não tivesse aliados entre o povo, pessoas que o acobertavam enquanto alimentava silenciosamente o Povo do Outro Lado da Muralha.

Agora eu já conheço de rosto alguns dos jovens da Montanha. Eles sempre esperam próximos à Muralha, ocultos pelas rochas, para pegar água e a comida que o Dragão deixa para eles. A princípio desconfiavam da minha presença, agora já estão acostumados e alguns até trocam algumas palavras comigo. Eu me pergunto quão grande é o povoado entre as Montanhas, mas o Dragão nunca me levou até lá, até o Coração de seu povo, e quando o pressionei demais por informações ele sumiu por uma semana inteira. Quando voltou não me levou mais consigo para o Outro Lado e intensificou o treino até eu não ter tempo de fazer perguntas.

Nunca pensei que eu fosse ser ágil em manejar uma espada e me defender de um atacante que surge de surpresa pelas minhas costas, mas é sempre assim que ele aparece; de surpresa, e eu sempre consigo me defender. Eu também aprendi a lutar e meu ponto alto foi conseguir acertar um chute no queixo dele. Depois disso, o Dragão me ensinou a rastrear pessoas e animais na mata até eu conseguir achar seus rastros e descobrir as rotas que ele usava para chegar até nosso acampamento. Sei que tive mais sucesso nessa empreitada do que ele esperava, pois quando contei para ele que sabia que ele vinha da cidade imperial, nunca mais consegui encontrar nenhum rastro do Dragão.

Me orgulho de dar mais trabalho para ele.

— Estou criando um monstrinho... — ele comentou quando o questionei.

— Você poderia confiar em mim! — Rebati, pois realmente queria poder ser sua confidente, mas ele só deu uma risadinha desconfiada. — Poderia se acostumar a ter um amigo... — murmurei baixinho, esperando não ser ouvida, mas é claro que ele ouviu.

— Um soldado acostumado é um homem morto. — ele rebateu prontamente, me fazendo me sentir mal, afinal de contas eu estava acostumada com ele. Confiava nele e não conseguia construir barreiras o suficiente para impedir que esses laços se formassem e se fortalecessem toda noite.