Capítulo 19 - As noivas do imperador

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Então o príncipe resolveu ser corajoso.

Mas quando ele volta para o palácio o Regente o está aguardando.

Eu sabia que isso ia acontecer. Quase tenho pena por tudo o que está prestes a acontecer. A iniciativa do capitão e sua fé foram comoventes. Por um momento quase me permitiu ter um vislumbre de uma outra realidade, onde o príncipe Arjun sozinho conseguia se erguer e imperar, mas duvido que essa força vá se manter quando o Regente apertar suas garras ao redor de seu belo e jovem pescoço.

Os rumores de que o príncipe estava na cidade foram crescendo e se espalharam como um incêndio, chegando mais rápido ao palácio do que um informe real o faria. Nenhum batedor bem treinado tem a mesma capacidade do que a língua do povo com uma fofoca quente por ser espalhada.

É meio da tarde quando os cinco soldados escoltam o príncipe de volta para o palácio, alegres e despreocupados, com a sensação de júbilo de uma missão cumprida com sucesso. O capitão está exultante, crente de que pode me convencer do contrário. Confesso que ele quase teve uma chance, mas a hora da verdade está prestes a se desenrolar a nossa frente e não acho que vou me surpreender com o resultado.

O Regente, furioso, está no salão de recepção, cercado de guardas e criados. Ele quer que todos testemunhem a humilhação daqueles que ousam desobedece-lo.

Seu olhar ferino repousa sobre o príncipe que diminui o passo. O sorriso some de seu rosto e não estou surpreso quando ele paralisa trêmulo.

Como eu disse, ele nunca terá forças para enfrentar o Regente, mesmo que queira e que tenha boa vontade. Arjun sozinho não é nada.

Quando o capitão percebe o que está acontecendo já é tarde demais. O Regente já está indo em direção a eles, aos brados. Ele berra sobre a irresponsabilidade de Shang, sobre as ideias tortas que incutiu na cabeça do príncipe. Com Arjun ele é ainda mais severo. Ele o chama de criança, de mimado, de inconsequente. Ele o agarra pelos cabelos em frente aos seus servos e súditos e o arrasta para o pavilhão sem que Arjun consiga revidar. Ele só se deixa levar, sem forças, como sempre faz.

Ele joga o príncipe com brutalidade na cama e Arjun se encolhe. Já conhece aquela cena e não importa que seja um homem agora e não mais uma criança, sabe que não consegue revidar. Suas mãos e seu corpo tremem incontrolavelmente, os gritos morrem mudos em sua garganta e ele só fica lá, exatamente onde caiu, protegendo o rosto da violência que ele sabe que vem em seguida, sentindo-se impotente e enojado de sua fraqueza.

Arjun sabe que o Regente só se importa com a conveniência de tê-lo por perto e que é descartável, mas as vezes pensa que o Regente diverte-se de tal forma em humilhá-lo que jamais irá libertá-lo do sofrimento.

Dan Dan está tentando intervir. Shang está gritando alguma coisa e sendo empurrada pelos guardas. Arjun fecha os olhos. Ele já passou por esse ritual de humilhação muitas vezes, mas nunca antes com tanta plateia. Gostaria que todos sumissem, mas nenhum deles se vai e o Regente já pegou o chicote que sempre carrega consigo em seu cinto. Jun sabe que apanhar dele dói muito menos no corpo e muito mais na alma. Ele quase nem sente o primeiro impacto. Shang parece gritar mais do que ele poderia fazer se tivesse voz.

Ainda assim os gritos do capitão são menos dolorosos do que o silêncio impotente de Dan Dan, que sangra junto com ele. Arjun se encolhe mais, enterrando o rosto no colchão. Não quer ver nenhum deles, não quer saber que todos são testemunhas de sua humilhação.

O Regente puxou sua túnica, talvez a tenha rasgado, Arjun não sabe dizer, só ouve o rugido do sangue em seus ouvidos e sente o ar frio em na pele nua das costas. O ardor vem logo em seguida, mas ele não se importa. Só precisa esperar que uma hora vai passar. Sempre passa. Pelo menos a parte externa sempre se cura. Nenhuma lágrima vai cair de seus olhos, esse prazer ele não dará ao Regente.

Qingshan e o imperadorOnde histórias criam vida. Descubra agora