Capítulo 29.

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Eu odeio o poder de convencimento da Celeste. Ela me irrita. Eu nunca consigo manter a pose por muito tempo, e sempre cedo quando ela começa a insistir para que eu faça algo que ela quer. Eu já devia conseguir recusar seus convites insanos.

- Você é insuportável! – Eu digo e sei que ela está sorrindo grandemente agora, vitoriosa.

- E você me ama! – Ela diz convencida. – Você precisa parar de ser ranzinza. Hoje é sexta, não te custa nada sair para tomar um café comigo, já que nossa outra amiga está ocupada com Carter. – Ela solta risadinhas e eu acabo sorrindo.

- Quem mandou ser solteira? – Ela ri. – Aonde você quer ir?

- Estou com duas opções em mente. Vou escolher e te passo por mensagem, tudo bem?

- Não tenho muita escolha, né... – Provoco e ela suspira.

- Nos encontramos às 19h30. Beeeeeijo! – Ela quase grita do outro lado da linha e desliga antes que eu possa falar qualquer coisa. Celeste sendo Celeste.

Para a minha sorte, o lugar que Celeste escolheu não ficava longe do escritório. Então, consigo trabalhar tranquila o dia todo e saio apenas dez minutos antes do horário que marcamos. No restaurante que ela marcou, pego uma mesa e peço uma água enquanto a espero.

Cinco minutos se passam, e nada dela chegar. Dez, quinze.... Onde é que ela se meteu? Mando uma mensagem, e nada dela chegar ou me responder.

- Oi, Alice. – Olho para frente e vejo Luke ao lado da minha mesa.

- O que você está fazendo aqui? – Ele não diz nada e se senta na cadeira na minha frente. – Eu não disse que você poderia sentar. Não sei se você percebeu, mas estou esperando alguém. – Digo completamente irritada. Quem ele pensa que é?

- A Celeste não vem, Alice. Ela marcou com você apenas para que você não tivesse chance de negar. – Abro minha boca para rebater, mas só consigo sentir mais raiva. Raiva por Celeste ter mentido, raiva por eu ter caído nesse joguinho idiota e raiva por ele estar na minha frente nesse momento.

- Eu não vou ficar aqui perdendo meu tempo. – Cuspo as palavras e seguro minha bolsa, mas ele alcança meu braço por cima da mesa.

- Por favor, Alice, me escuta. Me deixa falar, pelo menos dessa vez. Se ainda assim você não quiser mais olhar na minha cara, tudo bem. Mas me dá uma chance, por favor. – Ele praticamente implora e sinto meu coração bater apertado.

Odiava reconhecer, mas odeio o ver desse jeito. Bufo e solto minha bolsa. Cruzo meus braços na altura do meu seio e o olho com cara fechada. Ele respira aliviado e se ajeita na sua cadeira.

- Em primeiro lugar eu quero te pedir desculpas. Por tudo. – Ele começa. – Eu nunca quis te causar nenhum sofrimento, e eu sei que é tudo culpa minha. Se eu pudesse, eu voltava no tempo e dava um jeito de evitar tudo isso. Mas eu não posso. – Ele suspira. – Tudo que eu posso fazer é implorar seu perdão e fazer de tudo para você me perdoar. E eu estou disposto a fazer qualquer coisa. O que você quiser.

Continuo séria, e não digo nada. Ele respira fundo mais uma vez e olha fundo nos meus olhos.

- Alice, eu sei que é difícil, mas eu preciso que você confie em mim e acredite em mim quando eu digo que eu amo você. Eu te amo demais, mais do que a mim mesmo. De uma forma que eu nunca pensei que fosse possível amar alguém. Eu preciso de você pra respirar. Eu sei que é uma situação delicada, eu sei que você está com muita raiva de mim, e não tiro sua razão. Mas eu também sei que você gosta de mim.

- O do que isso adianta? – Levanto os ombros.

- Adianta muito. É o que mais importa, Alice. – Ele estica sua mão e segura a minha. – A Daphne diz que está grávida, tudo bem. Eu não vou desampara-la, e vou ajudar ela no que for preciso. E nunca vou deixar essa criança abandonada. Mas não é dela que eu gosto, e não é com ela que eu quero ficar. É você que eu amo, é com você que eu quero ficar.

Seus olhos estão fixos nos meus, sem titubear ou gaguejar em nenhuma palavra. Engulo em seco e desvio meus olhos dos seus, não sustentando o peso do seu olhar.

- Eu não vou fugir das minhas responsabilidades. Eu sei que tenho uma grande parcela de culpa nisso tudo. E eu vou enfrentar isso e vou fazer o que eu precisar. Mas eu preciso de você do meu lado para conseguir. Só assim eu vou conseguir aguentar isso.

Solto minha mão da sua e cruzo os braços mais uma vez. Ele olha para baixo por alguns instantes, e seus olhos cintilam, com lágrimas e mágoa. Ele respira fundo e olha para mim de novo.

- Eu sei que estou sendo egoísta, mas eu imploro, por favor, me dá mais uma chance. – Sua voz é baixa e fraca. – Me deixa tentar reparar meus erros, compensar você por tudo que eu fiz e te fazer a pessoa mais feliz desse mundo. Volta para mim, por favor!

Continuo quieta, sem conseguir elaborar uma única frase se quer. Meu coração está acelerado e eu tento digerir tudo que ele me diz. Um vulto ao meu lado chama minha atenção, mas não tiro os olhos de Luke.

- Com licença, vocês desejam pedir alguma coisa? – Um garçom simpático nos oferece. Saio do meu transe e olho para ele.

- Não, obrigada. Eu já estou de saída. – Ele sorri e se retira.

Luke abre a boca, mas não diz nada. Pego minha bolsa e saio dali devagar. Ando até o estacionamento e só agora eu consigo respirar.

- Alice! – Ele me chama. – Não vai embora assim. Fala alguma coisa, por favor. – Paro de andar bruscamente. Respiro fundo, pensando em tudo. O tempo que ficamos juntos, o tempo que ficamos separados, nos meus sentimentos por ele e no que ele me falou.

Viro para ele devagar, e ele parece desesperado. Caminho até ele e colo meus lábios nos dele. Ele não reage imediatamente, mas ele abraça meu corpo e intensifica o beijo quando meus dedos se perdem no seu cabelo.

O beijo é lento, e carregado de vários sentimentos. Saudade, carinho, amor, e muitos outros que fazem meu coração bater mais rápido. Um peso sai das minhas costas e eu me sinto muito mais leve.

- Me diz que isso não é uma alucinação minha. – Ele diz baixinho, com sua testa colada na minha e nossos rostos próximos. Nego com a cabeça e o beijo mais uma vez.

- Você não vai enfrentar isso sozinho. – Ele me olha atentamente. – Nós vamos superar isso juntos. Porque eu também quero ficar com você. Com ou sem bebê, com ou sem Daphne. Eu só quero você. – Ele sorri largo e seus olhos brilham.

- Isso quer dizer que... – Ele começa e eu concordo com a cabeça.

- Quer dizer que eu te dou mais uma chance. – Ele sorri e eu sorrio junto com ele. Ele me segura firme nos seus braços e me gira no ar. Rio com o seu ato, que me pegou totalmente desprevenida.

- Eu te amo. – Ele diz e eu acaricio seu rosto. – Eu te amo! – Ele grita, e atrai a atenção do manobrista do estacionamento.

- Para de gritar. – Falo rindo. Ele me coloca no chão e segura meu rosto com as duas mãos.

- Eu quero gritar. Quero gritar para o mundo todo ouvir que eu amo você, e que eu sou o homem mais feliz do mundo. – Sorrio.

- Você não precisa gritar. Basta provar isso para mim. – Ele faz um carinho no meu rosto e sorri para mim.

- Eu vou provar, e nunca vou deixar você se arrepender de me dar uma nova oportunidade. – Ele garante. – E eu consigo pensar em muitas formas de fazer isso. – Sorrimos.

- Eu estou louca para saber quais são. – Ele ri antes de me beijar mais uma vez. 

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