Constelação

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Estou livre... Nunca estive totalmente presa, mas ainda assim ele conseguiu prender uma parte de mim, e uma parte muito importante, essencial.

O amor.

Não o amor que eu sentia por ele, que apesar de encapado por um sentimento especial também me fazia cega. Mas o amor por mim.

Não sei se posso dizer se um dia me amei.
Acho que eu amei o que eu sabia sobre mim. Até que eu fui descobrindo outras partes sobre a minha pessoa, encontrando mais de mim.

A princípio senti curiosidade, até conseguir analisar e imaginar o reflexo que essa eu mais completa teria no mundo: ódio, desprezo, nojo.

Senti que nunca mereceria o amor de ninguém.

Mas senti o amor.
Com as minhas amigas queridas que sempre me apoiaram e comigo estiveram nos altos e baixos.
Com os meus pais que depois de muita espera podem finalmente me acolher, uma eu de mim que eles nunca sequer haviam imaginado.
E até com ele senti.

Me sentia aconchegada no seu abraço, efervescida por seu toque, e enlouquecida por seu cafuné.

Até que veio distância.

Distância física. Mas distância de mim.
Me afastei de mim pra que ele continuasse passando a mão na minha cabeça, mesmo que isso me fosse extremamente doloroso.

Fui me afundando em um desespero e apego de ainda tê-lo, imaginando o que nunca vivemos e idealizando o que nunca poderíamos viver.

Porque por mais que parecesse, ele nunca seria realmente capaz de me entender e me amar por quem eu sou de verdade.

Não do jeito que eu queria.
Não segundo o castelo de expectativas que eu construí.
Transparente e frágil como vidro.

Fui capaz de entregar esse lindo e falso castelo pra ele destruir em pedaços.

Cacos de mim são alastrados pelo espaço-tempo.

Por um segundo já não sei mais quem eu sou.

Quem ele é.

O que realmente aconteceu.

Se por algum dia a gente existiu.

Nunca vou saber o que realmente aconteceu. Só sei que agora, sou pó.
Pronta pra subir aos céus e virar estrelas, assumindo meu verdadeiro brilho na escuridão de como as coisas realmente são.

Realidade.

Ela pode já ter sido sombria um dia. Assustadora. Horrenda.
Mas não mais.

Agora essa escuridão da asas a infinitas possibilidades, pra que eu possa orquestrar infinitas constelações que compõe quem realmente sou.

Incompreensível.

Já não preciso mais buscar ser entendida por alguém.
Nem entregar esse brilho todo a outra pessoa. Posso me deixar levitar na infinitude do universo e simplesmente ser.

Ser.

Sem precisar explicar, justificar ou corrigir como já fiz com ele antes.
Como já fiz comigo também.
O mundo não precisa me entender.
Posso me satisfazer com o caos e as cores da vida sem tentar racionalizar o intangível.

Liberdade

Finalmente estou livre daquele castelo de mágoas, rancor e falsas esperanças.
Finalmente estou estampada no céu, de onde ninguém pode me derrubar.
Choverão meteoros.
Haverão explosões.
Mas nada é capaz de impedir a tranquilidade de quem se permitiu simplesmente observar.

Observar. Fluir. Viver.

Fazer parte da dança cósmica a qual fui despertada e assistir a minha vida ser tecida como uma obra de arte.

Perturbadora. Complexa. Fascinante. Contraditória.

É bom estar novamente consciente de que pertenço.
Pertenço ao tudo e ao nada.
Ao ser e o não ser.

Assim, ninguém pode novamente ousar tentar apagar o intenso brilho da vida que corre em meu coração.

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