Vejo Nosso Fim

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Não te vejo ilimitado
Você se coloca sob tantos limites
É muito confortável enterrar a possibilidade de construir uma história de amor com uma travesti

Pois fique bem escondido em seu confortável castelo
Sua grande casa protegida, cercada por altos muros no Morumbi
Fruto do privilégio daqueles que herdam o se fazer maior diante da inferioridade das minhas

Aquele que me viu
Me comparou
Escolheu por fim quem lhe era mais conveniente

Siga gozando diante das normas
Se fazendo desejável dentro de infinitas convenções sociais
Em cada uma delas você está no topo

Você é a corporificação do privilégio
Homem cisgênero branco rico
Irônico como talvez isso que lhe afastou de mim
Foi o que me atraiu a ti lhe almejando como troféu

Espero não ter amaciado tanto seu ego
Saiba que por muito tempo você feriu o meu sem nem ter ideia disso

Hoje percebo que não merece mais um pingo da minha atenção
Não controlo o meu tesão
Mas coloco-me acima de qualquer narrativa subalternizante

Siga na sua escolha mais fácil
Deleite-se
Não adianta mais se prender ao que já fomos o dia
Você escolheu jogar tudo o que construímos fora quando persistiu na manutenção do seu privilégio

Privilégio
Ao menos reconhece isso em si
Mas parece se incomodar tanto

Ouve inúmeras músicas que criticam o exato lugar que você ocupa na sociedade
Isso soa a masoquismo

Banha-se em consciência de classe
Fantasia voltar-se a qualquer ponto que pareça estar acima de você
Difícil encontrar, mas quando acha, volta-se contra ele com discursos raivosos

Olhe pra si
Reconheça mais uma vez os seus inúmeros privilégios
Deixe de fingir-se desconstruído quando você continua se construindo em cima do que lhe é mais fácil

Conte a versão mais aceitável das suas recentes atrações
Diminua o que já fomos diante do que pode cis fazer

Eu não sou engraçada
Sou um enigma o qual você não teve coragem de desvendar

Enalteça o lado mais aceitável de seu tesão
Incrível é a narrativa que o reforça e te coloca no topo

Atraia a amapô pra sua armadilha exalando esse mesmo privilégio
Oferecendo o que puder
Pois tudo te vem fácil

Resisti a vir a você pois no fundo fui capaz de antecipar todo meu sofrimento

Me joguei mesmo assim
Concretizei a premonição

Que ao menos agora eu possa aprender a separar bem os nossos lugares
Me perdoar por acreditar que você pudesse ser mais do que é
Enxergar a óbvia fronteira que se coloca entre a gente

Depois de tanta dor espero ter aprendido
A me afastar de vez de quem não me merece inteira

Talvez ao me afastar nada de grandioso mude pra você
Mas muda tudo pra mim

Torno-me livre da prisão que sua ilusão já me colocou um dia

TRANS FORMAROnde histórias criam vida. Descubra agora