TRANS FORMAR

Selvagem

Mulher
Dentro de mim habita uma mulher selvagem
Voraz
Insaciável pela sede da vida

Pode já ter sido muitas vezes calada
Reprimida
Acorrentada sobre a moral de um cistema patriarcal
Mas agora, ela é imortal

Suas dores a fizeram se enxergar errada
Depreciada
Como uma dama a ser consertada

Assim acabou se perdendo na própria solidão
Isolada em uma grande teia de inseguranças
Colocando um defeito atrás do outro em sua pele
Como se não merecesse consideração

Não se sentiu digna de ser amada
Como se sua existência só fosse ser validada por um amor de outro alguém
Quando o que a torna viva é todo o amor que infinitamente corre dentro de si

Muitos só enxergam a sua casca
A observam calada
Nunca sequer imaginam a vastidão abraçada por seu silêncio

Teve a audácia de se jogar no vazio
Só se entregando ao escuro que alcançou a mudança
Defrontou as suas sombras
Sentiu sangue jorrando de suas vísceras

E em sua busca, encontrou cura
Nas suas feridas ela encontrou potência
É a própria incorporação da mudança
Não se perde mais diante da desesperança
Tem consciência de sua magia, seu poder

Nunca é a mesma, embora sua essência indomável nunca possa ser alterada

É uma casa para os ciclos da vida
Nasce, cresce e morre constantemente
Se faz uma constelação brilhante na escuridão da noite

Não a atormente
Em sua ciclicidade ela já não pode mais ser abalada
Nem tente

Ela entendeu que o sentido da vida está na entrega
Quando entrega nada perde, só ganha
Em um tear de experiências
Vai se tornando uma obra cada vez mais extensa
Crescendo infinita na totalidade do ser

Suas oscilações lunares são o que a fazem inteira

É intensa, inquieta, transformadora

Se mostra nua na esperança de acordar outras mulheres
Quando se sente apagada, enxerga sua força através delas
Num círculo sagrado elas se entrelaçam, se contemplam e se persistem existentes

É na voracidade do entregar
E no canto do silêncio
Que está o seu abrigo

Renasce quantas vezes for necessário
Mas não importa o que aconteça
Dentro de mim habita uma mulher selvagem