Risco e Culpa

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Neste padrão, risco e culpa me fazem refém

Tentação
Meu desejo está em me jogar no precipício sem olhar sua altura, apreciando o tesão em que me afogo ao cair de cabeça no risco

Desejo que cresce imenso em qualquer uma dessas janelas perigosas que se abrem em minha vida como uma simples curiosidade, prontas pra me interromper de vez

Entrego-me a ele
Sou inteiramente consumida
Assisto tesão transmutando em culpa de um instante ao outro

Culpada
É assim que eu me sinto depois do gozo

Porque insistentemente me digo intensa
Vivo de forma intensa
E me pergunto se afinal essa é a raiz de todos os meus problemas

Encontrei o afeto
Encantei me diante da verdadeira troca
Recíproca, transparente e fiel
Mas ainda assim, ela não preencheu o meu desejo da mesma forma

O ideal de alcançar as profundezas com um outro ser sempre me fascinou
Mas quando finalmente chegou, me assusto

Preferi a carne
A superfície selvagem
Entrega aos instintos irracionais
Animal
Totalmente fora de controle

Deixar me ser tomada por puro e bruto tesão
Narcísico
Que o outro não enxerga
Vendo somente mim, me fazendo gemer de prazer

Ser mordida sem dó e jogada contra a parede
Entrar em um jogo de violência e agressividade mútua
Masoquista
Sem troca alguma além da carne

Muito simples
Inconsequente

Ser reduzida a um animal selvagem

Nenhuma proteção
Minha vida em risco por um instante de loucuras e prazer
Momentânea satisfação
Cogitar a morte pelo gozo
Mesmo que este seja seguido de culpa

Culpa
Olhar nos olhos daqueles que me amam e agora já sabem do perigo em que tanto me coloco

Que me acolhem e sabem que mesmo eu tendo escolhido a amar a mim, ainda esqueço de mim quando sou inesperadamente tomada

Sou tomada
Faço sem pensar nem medir o depois

Costumo pensar tanto no depois que por um instante prefiro construir um agora cego

Um agora que transborde prazer masoquista a flor da pele
Não enxergue nada além disso
E seja eterno até que acabe

Porque acaba
E se um desejo como nunca me preencheu, sinto me novamente vazia

Vazia

Agora duplamente culpada
Arrependimento daquela que negou a verdadeira troca por uma voltinha em um parque de diversões
Cheio de música e luzes que me impedem de ver, ouvir
Entender o que realmente se passa aqui dentro

Estar presa em minha montanha russa interna
Que se faz externa no chacoalhar do tesão

Decidida a ainda buscar morada na auto sabotagem
Destruir a mim mesma temendo o silêncio
Lutando em uma teia interminável
Fugindo a todo custo de reconhecer meu verdadeiro valor

Para além do sexo

Frustro-me mais e mais a cada nova tentativa
Pois por mais que tente
Não saio do lugar

Quando acredito ter superado, lá estou eu reduzindo me a isso de novo

Sou mesmo mais que isso?
O que tem me impedido tanto de enxergar?

No fundo eu sei que posso ser mais do que só a carne
Só ainda não sei ao certo saborear isso
Sentir o gosto de meus tantos outros sabores intensos em minha língua

Apreciar-me sem depender de gozar no outro ou receber o gozo como sinônimo de estar viva

Se meu coração bate já é sinal de que estou viva
Quem sabe se por um minuto eu parar de gemer, não posso simplesmente ouvir

Me jogar
Arriscar
Delirar de prazer
Gozar
Sentir culpa
Repetindo de novo e de novo por imensuráveis períodos
Pra quem sabe uma hora entender e me fazer maior diante das escolhas que já fiz um dia

TRANS FORMAROnde histórias criam vida. Descubra agora