O calor do verão me abraça sem o menor receio de me queimar ardente
Sou entregue a sua noite fresca, que me acaricia amorosamente apesar de todo fervorPor um breve instante, estou inteira
Até que me vejo dengosa diante ao mundoAlgo parece faltar, a ausência brilha em mim
Um buraco sedento a ser preenchido se instaura no meio do meu serSinto falta de alguma companhia
Qualquer uma que se empenhe em se perder comigo numa boa conversa
Jorrar palavras sem chegar a nenhum lugar
Ao mesmo tempo que invade lugares inimagináveisAté que penso bem
Imagino diferentes pessoas que tanto gosto
Idealizo uma a uma entrelaçada a mim em um diálogo qualquer
Diversos conversares considerados em minha mente
Mas nenhuma parece ser capaz de preencher issoNa gostosa brisa dessa noite quente
Só eu posso preencher a sede em mim mesmaTodos diálogos que tanto anseio se restringem a dentro
Ninguém mais preenche, mesmo que tenteSó eu, sozinha, comigo mesma, posso chegar a certas conclusões
Ou não chegar a conclusão nenhumaApenas comunicar o que falta no peito a mim
Eu sou o suficiente
Ninguém pode suprir minha falta
Meu desespero se dissipaDeixo de perseguir o que não existe
Enxergo o que realmente éNão enxergo nada
Apenas repouso na existência que nada é
Sentindo tudo ao mesmo tempoSozinha,
cercada por um mar de indagações
que a nada respondem
mas muito dizemNa solitude de quem sabe que veio só ao mundo
E vai só ao túmulo um diaVida que se recarrega através dessa verdade
A verdade da morte, que torna existente a vidaMistério de cores intraduzíveis
Tocam a minha pele, me estremecem inteiraPaz transborda corpo a fora
Relaxo no silêncio aflito diante do qual tanto me calei
Ninguém a me ouvir, muito menos a falar
Só resta a mimEncaro minha própria tempestade
Danço diante do que tanto negueiMe faço silêncio e palavra na pequenez grandiosa que é ser humano
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TRANS FORMAR
PoetryAlguns chacoalhões criativos. Explosões dolorosas e libertadoras ao mesmo tempo. Versos feitos por quem sente, pra quem sente... Leia de coração aberto