TRANS FORMAR

Desamparo

Você me devora de todas as direções
Trás minha complexidade ao avesso
Escuta minha dor ainda que nada além de mim possa apazigua-lá

Te enxergo perfeito
Já te vi vulnerável
Provei alguns de seus medos
Suas cicatrizes só te tornam mais contraditório e inteiro diante de meus olhos

Como se quanto mais descubro sobre você
Quem você já foi e como decidiu vir a ser
Mais eu me encanto conforme se torna real

A fantasia ainda existe
Mas ela se molda sobre seu corpo já mais solidificado

Você ganha forma enquanto a realidade adentra com aspereza a nossa relação
Me afundo em solidão
Sinto saudades

O mundo te chamou
Parece que existem obrigações e afazeres pra ti fora de nossa colorida bolha
Fico só eu e o resto
No escuro
Quem eu sou afinal?

Ilumine minha vida com seu amor
Seu brilho torna meu desamparo visível

Você também sente a minha falta
Mas lida tão bem com isso
Queria tamanho equilíbrio
Eu sou estilhaçada e moída em mil fragmentos sem você

Junto meus cacos
Estou uma bagunça
Finalmente enxergo tudo
Infelizmente não entendo nada

Não entendo

Longe de mim você parece tão pleno
Anseia meu corpo, meu afeto, meu calor
Mas se movimenta só e livre
Enquanto na sua ausência tudo na minha vida é inerte

Sou devorada pelo tempo
Sádico
Congela a realidade e me faz minúscula diante de tanta dor
Impotente
Sua salvação não chega nunca

Meu desamparo derrama sangue em forma de versos,
que explodem em palavras dilacerantes de duras e reais

Enquanto não me resta escolha
A não ser me entregar a espera

Te espero
Sozinha
O buraco do meu peito dilatando as substâncias quentes que compõe o meu gelado vazio

Em um caldeirão de traumas
Escancarados pela solidão

Anseiam sua escuta

Espero que me ouça
Me veja
Me sinta com toda sua intensidade sem medo de oscilar entre amor e dor

Dor e amor são amantes inseparáveis
Maldade afastá-los
Tão cruel quanto nos manter assim tão distantes