Jogos de poder

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P O D E R
Palavra pequena, mas que definitivamente me deixa louca
Já que de pequeno mesmo, não tem nada

Poder é a sensação instintiva de ser maior do que outra coisa,
Sentir-se por um instante vitoriosa  até mesmo sobre a morte

Me sinto diariamente feita tão pequena
Diminuída por olhares e julgamentos alheios
Seja objeto de desejo saciador sexual
Ou de violento ódio destruidor, corpo abjeto
alvo direto
Tênue fronteira ódio-desejo
Nuance paradoxal

Colocada pra baixo:
Subalterna, inferiorizada
Desvalorizada
Despoderosa

Morta de fato

Como se o poder em mim equilibrado, um dia tivesse sido roubado

Tornando me oca
Ansiando por algo a mais que me fizesse digna
Pudesse me preencher

Fantasio então o poder tomando me por inteira
Possuindo essa mesma corpa abjeta tão condenada e cobiçada numa contraditória dialética

Pura ilusão
De um poder que surgeria ao simples inverter de uma pirâmide
Desafiar a sua fonte central estruturante
Mais uma vez o desejoso homem cisgênero

Homens de verdade insistem em continuarem sendo uma questão
Deles o poder emana
Me atraio, me excita
Desenrolo o experienciar
Desfruto dessa divisão de papéis hierarquizantes construindo sobre ela o meu profundo gozar

Hora submissa, hora dominadora

Porque sim
Quero ser jogada com força contra parede
Consumida
Sequer vista
Brutalmente apreciada, melhor ainda se não respeitada
Sofrendo por ele dor
Quem morde e penetra sem a menor permissão

Ódio só cresce a partir da submissão
Inversão
É nesse ponto que a fantasia surge

Retribuir com toda a fúria residual
A agressividade ao homem cisgenêro
Ao macho
Pegar de jeito, tratar da mesma forma
Numa selvagem e caótica intensidade
Submeter a mesma dose o prazeroso sofrer
Sem resquício algum de piedade

Sinto que estes não merecem sequer a minha porra
Mas ainda sim provocam minha sanidade
Despertam esse jogo ambíguo de desejo-desprezo
Sobre o tesão, uma camada de falsidade
Desregulando minha libido conforme o corpo me leva a cair em uma ilusão
de um glorioso reinado de poder

Reinado de poder
Eu sendo feita rainha
Ao comando dos súditos que um dia já estiveram em cima

Reinado de Poder
Inexistente
Faz crer me sádica quando acabo por vítima
Insconsciente punindo-me em um padrão masoquista
Tesão e prazer provocando em mim meu próprio sofrer

Que seja feita a mais bruta sacanagem
entre quatro paredes (ou além delas)
Esse tesão que cresce na contradição imbuída em si mesmo
Não é a saída

Ele só me afasta da verdade genuína
Gozo e esqueço
Esqueço por só ansiar gozar

Acabo então por ser mais uma peça marginal no circuito de desejo cis sexual

Ideias binários de macho, fêmea
Enquanto sou feita ambígua,
Travesti

Feita e refeita produto sexual exótico, paradoxal
Vendida nem sequer ao preço da carne, enquanto creio estar nessa armadilha o meu valor

Tecnologias de gênero
Sexo, contradição
Desejo
Ódio
Prazer
Dor

Sentir mais e mais apesar de tudo
Que o corpo guie a dimensões para além das binárias decadentes
Numa promessa de tesão na contradição sem que um elo seja alvo constante de violência

Pode ser intenso
Não precisa ser doentio

TRANS FORMAROnde histórias criam vida. Descubra agora