De volta ao passado

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Enquanto apertava bem seu rabo de cavalo se olhando no espelho, olhos atentos a observavam. Reclinado na porta do banheiro, de braços cruzados, os olhos escuros observavam atentamente cada movimento cuidadoso da mulher. Chichi deslizou os dedos pela franja, para ajeita-la e suspirou fundo. Já tinha dado tempo o suficiente. Ela fechou os olhos e tateou na pia do banheiro e sentiu o teste de gravidez nos dedos. Pescou e finalmente abriu os olhos para ver o resultado.

— Negativo. — Ela jogou o teste de gravidez no vaso sanitário, deu descarga, lavou as mãos e saiu do banheiro.

— Não sei porque você se cobra tanto, Chichi. Por que ter um filho agora? — Ele a seguiu, circundando-a pela cintura com os braços, abraçando-a e trazendo-a para mais perto. — Eu quero ter também, mas temos que ir no nosso tempo.

— Você vai ter que ir pro Afeganistão em algum tempo, e antes disso, eu queria que nós tivéssemos um filho, Turles.

— Meu amor, você tá no último ano da faculdade. Fora que se eu fosse chamado, você teria que cuidar de uma criança sozinha...

— Eu sou forte, Turles.

— Eu sei que é. Nunca tive dúvidas disso.

— Só queria ter um filho antes de você partir, porquê...

— Porque tem medo de eu não voltar. — Ele completou, ficando sério e afrouxando os braços em volta dela.

— Porque eu quero que se orgulhe de mim.

— Eu me orgulho de você. Quero que você termine a faculdade, se torne uma médica e salve quantas vidas você puder. Não preciso que me dê um filho para me orgulhar. Você faz isso muito bem sozinha! — Ele confessou, levemente corado.

Ela riu. — Sabia que você fica lindo quando fica vermelho? — Ela ficou na ponta dos pés e lhe deu um selinho.

Turles bufou e pegou ela no colo e começou a caminhar com ela até apoia-la na mesinha que eles tinham no quarto, afastando algumas coisas. — Enquanto ainda não temos um filho, a gente pode continuar tentando. — Ele lhe deu vários selinhos apaixonados.

— Adoraria, meu bom senhor... — Ela parou de falar quando ele distribuiu beijinhos em seu pescoço. — Mas tenho que ir. — Ela o empurrou levemente e saltou da mesa.

— Tem mesmo?

— Tenho. E você não ia treinar hoje? — Ela perguntou vestindo a jaqueta jeans e calçando os coturnos pretos.

— Ia treinar com você.

— Você sabe que eu não luto mais.

— Não era esse tipo de luta que eu tava falando. — Ele deu um sorriso de canto.

Ela riu, se aproximou e colou seus lábios nos dele, dando um beijo. — Até mais tarde.

Tinha um pouco de verdade no diálogo que ela tivera mais cedo com o marido. Tinha medo de admitir ou dizer em voz alta, com medo de que aquilo se tornasse real. Ela queria ter um filho antes dele partir e servir o país, porque morria de medo dele não voltar. Não sabia quando ele seria mandado para o Afeganistão, e não sabia quando ele voltaria, se voltaria. Chichi sempre foi bastante esperançosa, mas também muito realista. Muitos soldados não voltavam, e deixavam esposas e filhos. Cansou de conhecer esposas viúvas. Temia que esse medo se tornasse real. Mas Chichi também queria um filho. Um filho dele. Uma parte do amor deles, florescendo em uma pessoa. Uma pessoa na qual ela iria cuidar, amar, ensinar, sorrir com as primeiras falas, primeiros passos, primeiros sorrisos, chorar com as primeiras quedas, primeiros choros. Por mais que os dois tentassem, não conseguiam que ela engravidasse. Eles não tinham nenhum problema, já tinham procurado ajuda médica, só não tinham a oportunidade. Achava que estava nova demais para fazer inseminação, não queria correr para métodos artificiais, e sim, de forma natural. Mas já estava cansada de tanto esperar, ela queria um filho.

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