— Cíntia, eu tive uma idéia — digo, enquanto observo-a pintar as unhas medianas de um tom azul bebê.
— Uhm? — murmura, sem levantar os olhos para mim. Sua mão se estica no ar e ela parece observar o trabalho que levou minutos para fazer.
Estamos agora em minha casa. Não passa das oito da manhã de um dia fresco e ensolarado. Como papai e mamãe passam bastante tempo no pub, quase todos os dias Cíntia vem para cá, me fazer companhia. Maya está na festa de aniversário de uma amiguinha, que não teve a decência de chamar a irmã mais velha, nem mesmo para acompanhá-la.
— O que acha de fazermos uma trilha na serra da cidade? Aí podemos aproveitar e acompanhar nas praias do Sul — sugiro, debruçando-me sobre o balcão, para poder ver a reação da morena.
Seus olhos mulatos rapidamente encontram-se com os meus, com um brilho divertido nas íris marrom.
— Achei que não gostaria de voltar lá depois de ver as cobras pelo caminho — relembra, se acomodando melhor no tamborete em que repousa sentada.
Fomos há um ano atrás nas praias do sul em uma incursão da escola. Nosso guia ia mostrando todos os pontos chamativos da serra que precisávamos atravessar para poder chegar às praias do outro lado dela, quando as cobras foram o principal foco da viagem. Tinha muitas delas. Muitas. Nem todas eram venenosas. Algumas até mesmo dóceis, mas ainda sim, cobras.
— Continuo não gostando das cobras, mas isso já faz um ano, Cíntia. Quero voltar lá. Precisamos aproveitar os dias que nos resta das férias — respondo ao largar os ombros de forma desleixada.
Cíntia anui.
— Mas você só quer ir lá para aproveitar, ou para mostrar ao Dylan que as praias do outro lado da serra são mais encantadoras do que as que ficam na beira da calçada? — acusa, deixando um sorriso esperto moldar seus lábios.
Abro a boca, chocada e ao mesmo tempo incrédula com seu raciocínio rápido.
— E quem disse que o Dylan iria junto? — pergunto, espantada.
— Não preciso ser uma gênia da lâmpada para saber que você quer, sim, levar o gostosão para banhar nas águas cristalinas da lagoa — nega com a cabeça, parecendo decepcionada com minha falta de noção. — Esperava mais de você — aponta.
— Tá! Tá! Eu entendi! Confesso que quero levar ele para a trilha também… — confesso, erguendo as mãos na altura dos ombros, em forma de rendição. Automaticamente um sorriso malicioso é encarnado no rosto da acastanhada. Bufo, exasperada. — E não é só por causa disso, sua piranha!
— Mas eu não disse nada! — faz-se de desentendida, arqueando as sobrancelhas.
— Mas pensou! — aponto, revirando os olhos. Cíntia gargalha e eu volto à pia, onde anteriormente eu lavava uma louça. — Olha, eu conversei com o Dylan no sábado e ele falou que só pretende passar as férias aqui e que possivelmente volta à sua cidade quando o verão acabar.
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Enquanto o Verão Durar
Teen FictionDisposto a largar tudo para trás e viver em um novo lugar, Dylan Campbell embarca na jornada de se mudar para Surville, uma pequena cidade litorânea recheada de novidades. Não sabendo muito bem o que fazer de seu passado, Dylan ocupa sua mente com...