Capítulo 31 - Londres

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Aqui em Londres, tudo estaria perfeito se meu marido não estivesse doente. Ainda não temos certeza do que se trata, mas sabemos que é grave. Ele tem emagrecido, está pálido, tem tossido sangue e não consegue comer ou dormir direito por sentir muita dor no tórax.

Mas, ainda assim consegue ser teimoso igual um cavalo quando não quer correr na sua baía.

Ele não quer contar pra Beth de jeito nenhum.  Disse que apenas preocuparia ela sem motivo e que isso a tiraria do seu foco original. Ele já está desse jeito há dois meses.  E insiste em se recusar a ir para o hospital. Sabem o que ele disse? Que deve ser mal de velho e que logo, logo ele estaria tão bem que seria capaz de participar uma maratona de triatlo pelo nosso país.

Ele realmente não leva as coisas à sério. Não sei o que fazer pra convencer esse idiota de que temos de ver um médico logo para saber o que é e como tratar. Vou levá-lo amanhã  de qualquer jeito.  Ou então contarei pra minha filha. Não aguento mais essa agonia. 

- Ei, vamos para o médico amanhã de manhã ouviu?

- Por quê isso mulher?

- Porque você não está querendo ir ao médico se consultar e se tratar.

- Não há necessidade disso.

- Se você não for amanhã, eu vou ligar  pra a nossa filha e fazê-la vir aqui.

- Tá bom. Tá bom.

No dia seguinte, vamos ao médico cedinho e começamos uma bateria de exames extensa. O médico disse que faria os de rotina para descobrir se achava algo ligado ao que ele vinha sentindo.

E após longos exames, tivemos o diagnóstico. Câncer de pulmão.

- Como assim câncer de pulmão, doutor ?

-  Seu marido, está com câncer de pulmão, estágio 3. O senhor fuma?

- Não, senhor. Nunca fumei.

- Trabalhou com algo relacionado a arsênio, asbesto, berílio, cromo, radônio, urânio, cádmio, níquel, cloreto de vinila, gás de mostarda ou éter de clorometil que pudesse acabar inalando?

- Não, senhor.

- Estranho. Seus níveis de cromo estão muito altos. O senhor mora próximo de alguma indústria desse metais pesados?

- Não sei com certeza, mas moramos perto de uma indústria de tintas.

- Por isso, então. Se o senhor puder se mudar, seria excelente. Ficar longe seria muito bom, não apenas para o senhor, mas para sua esposa também.

- Mas, não podemos pedir que a empresa nos indenize ou pague o tratamento?

- Só teria peso, se encontrassem outras pessoas nesse caso, e abrindo um processo, e havendo divulgação. E tudo isso seria trabalhoso. Não recomendo. Mas, temos de começar o tratamento imediatamente.

- Como seria esse tratamento, doutor?

- Começaremos com algumas sessões de imunoterapia. E avaliaremos a resposta do seu organismo ao tratamento. E se necessário, modificaremos.

- Certo. Eu vou morrer, doutor?

- Deixe de falar besteiras - digo lhe dando um tapinha no braço.

- Realizando o tratamento correto, e tomando todas as medidas de tratamento, é possível que seja curável.

- Obrigada.

Saímos dali, e eu resmungo com ele o caminho de volta pra casa todinho. Estágio 3 !!! E ele ainda não queria ir ao médico, imagine!

- Não invente de contar nada para Elizabeth, entendeu?

- E por que você acha que eu não faria isso? Só porque você pediu?

- Você está doente, homem! Doente! Sua filha tem o direito de saber disso.

- Não quero que ela saiba disso. Eu vou fazer o tratamento, me curar e vamos agir como se isso não tivesse acontecido. E se você contar, saio de  casa e deixo vocês duas aí.

- E iria parar o tratamento é?

- Iria. Não quero que minha filha saiba disso. Entendeu? Ela está em um momento feliz da vida dela, com a namorada dela. Não ouse atrapalhar isso.

- Está bem. Mas, não pare o tratamento. E se você piorar, eu vou contar pra ela.

- Só se tudo der errado.

- Tá bom.

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