Capítulo 33 - Lágrimas

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Chegando no hospital corremos para a ala que ele está. Minha mãe está na frente da porta, aos prantos. Nos abraçamos e começamos a chorar. Depois eu entro no quarto, e vejo meu pai. Acamado. Frágil.

E aquilo parte o meu coração. Bia me  confortou durante toda a viagem, mas ainda dói. Ele é o meu pai, meu herói e vê-lo nesse estado, acaba comigo. Queria  poder fazer algo, mas estou impotente.

- Papai, por que não queria me contar? Eu teria ficado do seu lado. Por que deixou piorar e não me disse nada?

- O que você faria ? Filha, mesmo agora não há nada que você possa fazer. Está nas mãos de Deus.

Eu o abraço com o coração dolorido. Existe verdade em suas palavras.

- Sua mãe fez você se preocupar sem necessidade. Vá pra casa.

- Não. Só saio quando o senhor estiver melhor. E nem adianta me dizer o contrário.

O médico entra ao lado de minha mãe.

- Doutor, o que temos hoje?

- Como o senhor está se sentindo?

- Bem melhor. Acho que já posso ir até pra casa. Por que o senhor não me libera?

- Eu até gostaria de fazer isso, mas ainda não posso. O senhor terá que fazer a cirurgia por videotoracoscopia e robótica, ainda hoje, o senhor sabe. E além disso, tenho outra infeliz notícia para o senhor.

- O que o senhor quer dizer, Doutor?

- O senhor está com um dos seus rins fragilizados. E precisa fazer um transplante antes que o caso se agrave.

- Transplante? Pra quando ? Já tem algum doador em vista?  - pergunto visivelmente desesperada.

- A senhorita deve ser a filha dele. Sou o médico responsável, Michael. Seria necessário fazer depois da cirurgia para o câncer, visto que é mais arriscada. E teríamos que procurar um doador. Seria melhor entre a família primeiro e depois doadores distantes.

- Quando posso fazer o exame de compatibilidade?

- Agora mesmo. Pode me acompanhar.

Sigo o médico e faço o exame. O resultado sairia em algumas horas visto a urgência, mas no entanto, demorará um pouco mais. Tanto eu quanto minha mãe entramos em pânico com a hipótese de duas cirurgias.

Ele se faz de forte, mas sempre teve a saúde mais frágil do que minha mãe. Isso sempre foi uma preocupação. Estamos com medo do organismo dele não suportar.

Ai, não quero nem pensar nisso. Vai dar tudo certo. Ele vai ficar bem.
Bia veio pra ser a pessoa que nos lembra de ir comer, ou tomar banho em casa, dormir.

A espera do resultado nos deixa atônitas. E quando o médico aparece, temos finalmente uma notícia boa, eu sou compatível. Agora tenho que fazer o acompanhamento médico e me preparar para a cirurgia que será em dois dias.

Enquanto isso, meu pai já está na cirurgia para o câncer, que parece durar uma eternidade. O medo que tudo possa dar errado é grande, mas ninguém presente no cubículo que é o meu quarto de hospital, ousa expor, por mais que estes pensamentos estejam nos rondando.

A esperança e o otimismo é tudo que temos agora. Só temos isso para nos apoiar. Bia agora está preocupada que eu não reaja bem à cirurgia. O que é besteira, já que o organismo do meu pai que pode acabar rejeitando o rim e não o meu.

- Eu sei, mas eu tô preocupada. Você vai entrar na faca, naquela sala que eu não poder entrar, e nem vou poder dar jeito em nada.

- Assim como o meu pai agora. Assim como será pra ele depois. Entenda. Se fosse o seu pai, você faria o mesmo.

- Não faria. Ele abandonou a mim e a minha mãe. Não faria isso nem por dinheiro. Mas, eu sei que seu pai é outro caso, mas não posso deixar de me preocupar.

- Calma, sapinha. Vai dar tudo certo.

- Eu queria te impedir de ir, mas não desse jeito... - a ouço sussurar pra si mesma.

- O que disse, sapinha?

- Nada. Só tô.. pensando comigo mesma. Você tem razão, vai dar tudo certo. Eu te amo.

- Eu também te amo.

O doutor entra no quarto.

- A cirurgia foi um sucesso. Ele está estável e bem agora.

- Obrigada, doutor. Obrigada - minha mãe responde

- Doutor, obrigada. Queria te fazer um pedido. Pode não contar pra o meu pai que eu sou a doadora?

- Por que ?

- Por que senão ele vai se negar a fazer cirurgia. Eu o conheço.

- Se a senhorita prefere assim... - ele diz e sai do quarto.

- Filha, como vamos esconder isso do seu pai?

- Não faço ideia. Mas é apenas um dia. A senhora vai conseguir driblar isso.

Dito isso, minha mãe faz o que eu pedi, e Bia fica responsável por ficar velando a minha pessoa. Na manhã seguinte, a empresa me liga.

- Bom dia, sou Hye Young da Ohmynews,  gostaria de falar com a senhorita Elizabeth.

- Bom dia. É ela.

- Senhorita Elizabeth, estamos ligando para informá-la da seleção para trabalhar em nossa empresa. E fico feliz em dizer que a senhorita passou. Enviamos um email com os detalhes de sua contratação, e as orientações sobre as passagens, e sobre seu início imediato. Pode embarcar hoje mesmo.

- Muito obrigada, Hye Young. Mas, no entanto, terei de recusar.

- Qual o motivo da recusa?

- Meu pai se encontra com um problema de saúde, e eu tenho como ajudá-lo realizando uma cirugia, e por se tratar da vida dele, infelizmente tenho de recusar. Não vou colocar o trabalho acima de uma vida. Muito menos, embarcar imediatamente. Fico feliz de ter sido escolhida. Mas, no momento tenho outra prioridade.

- Claro, entendo. E repassarei sua recusa e seu motivo para o meu superior. Quem sabe possamos encontrar uma solução viável para ambos? A senhorita seria uma excelente aquisição para a empresa. E seus motivos são nobres o bastante para demonstrar quem é. Desejo melhoras ao seu pai. Senhorita, hwaiting!

- Era da empresa, filha?

- Sim. Eu passei mas, não vou.

- Seu pai morreria se soubesse disso.

- Eu sei disso. Por isso não vamos dizer nada. Se ele perguntar, eu não passei e pronto. Agora eu tenho uma cirurgia. 

Entro naquela cirurgia com o pensamento de que vai dar tudo certo, e de que vou expor a empresa que fez o meu pai ficar assim. Eles não sairão impunes nessa. Não mesmo.

Acordo horas depois, e vejo o meu pai no leito ao meu lado. Acordado.

- Filha, por que você fez isso? Não deveria ter desistido do seu trabalho.

Olho tão friamente pra minha mãe, que eu seria capaz de transformá-la em pedra só com ele.

- Desculpe filha. Não podia mentir.

- Tá. Cadê Bia?

- Ela tá fazendo a coisa mais difícil pra ela.

- Como assim?

- Ela ligou para a empresa dizendo que sua cirurgia foi um sucesso, e que apesar de precisar fazer acompanhamento de um cinco dias pelo menos, você ainda queria a vaga. Ela agora está no telefone com a menina que te ligou antes. Tentando fazer você alcançar o seu sonho.

- O quê?

Agora, não se sabe quem está mais surpreso, eu ou meus pais quando desato a chorar.

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